Sabemos que Cristo é mais sublime que os céus, e que a igreja será  semelhante a Ele, ou seja, possuidores de uma glória superior a própria  ‘habitação’ do Altíssimo ( Hb 7:26 ; 1Jo 3:2 ). Mas, como ainda ‘não é  manifesto o que havemos de ser’, uma coisa é certa, toda a criação está  numa ardente expectação esperando a manifestação dos filhos de Deus “Porque a ardente expectação da  criatura espera a manifestação dos filhos de Deus” ( Rm 8:19 ).
“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a  palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também  crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” ( Ef 1:13  )
Nova Criatura
Após ouvir a mensagem do evangelho (fé) e crer em Cristo os cristãos  passaram a estar em Cristo “É  nele que vós também estais…” (v. 1 ), ou seja, após ouvir e crer  no evangelho da salvação todos os cristãos efetivamente passara a ser  uma nova criatura ( 2Co 5:17 ).
O apóstolo Paulo é categórico ao afirmar: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é”  ( 2Co 5:17 ). Qualquer que está em Cristo, ou seja, que é uma nova  criatura goza de uma nova condição. O que motivou o apóstolo dos gentios  a bendizer a Deus no verso 3  “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou  com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (  Ef 1:3 ).
Ao que parece, os cristãos em Éfeso desconheciam que estar em Cristo,  ou seja, ser uma nova criatura, lhes concedia nova condição, pois o  apóstolo teve que afirma de modo contundente que eles também estavam em  Cristo após ouvir e crer na mensagem do evangelho.
Esta abordagem incisiva do apóstolo dos gentios deixa evidente o  contexto do capítulo 1 da carta aos Efésios. Ele estava tratando  especificamente das benesses pertinentes à nova criatura, posição recém  adquirida pelos cristãos por estarem em Cristo.
Quem foi abençoado com todas as bênçãos espirituais? Os cristãos!  Quem estava assentado nas regiões celestiais? Os cristãos!
E porque os cristãos foram abençoados com todas as bênçãos e gozavam  de um lugar de descanso (assentados)? Porque estavam em Cristo, porque  eram novas criaturas, ou seja, o apóstolo estava abordando questões  especificas à nova criatura.
Ao dizer: ‘É nele que vós  também estais…’, o apóstolo procura demonstrar que:
a) Eles foram abençoados com todas as  bênçãos, e;
b) que estavam assentados nas regiões  celestiais, porque foram gerados de novo e eram novas criaturas.
Faz-se necessário destacar que no Capítulo 1 da carta aos Efésios em  momento algum o apóstolo dos gentios faz referencia ao homem sem Cristo.  Todas as bênçãos espirituais pertencem aos que estão em Cristo! Somente  os que são novas criaturas descansaram de todas as suas obras, ou seja,  estão assentados!
Somente aqueles que ouviram a mensagem do evangelho e creram em  Cristo, ou seja, que estão n’Ele, e que, portanto, são novas criaturas,  são os eleitos de Deus. Observe que o apóstolo está tratando de questões  pertinentes à nova criatura: “…  nos elegeu n’Ele…”, ou seja, antes da fundação do mundo Deus  determinou que, aqueles que estariam em Cristo, ou seja, que seriam  novas criaturas, haveriam se ser santos e irrepreensíveis.
Deus escolheu a nova criatura para ser santa e irrepreensível diante  d’Ele. Para ser eleito de Deus é necessário estar em Cristo, ou seja, é  necessário ouvir e crer na mensagem do evangelho. Quando não se está em  Cristo é impossível ser eleito de Deus. Como a posição de eleito é  pertinente somente à nova criatura, segue-se que o pecador não preenche o  quesito da eleição, pois jamais a velha criatura, alguém que ainda não  está em Cristo, seria eleita para ser santa e irrepreensível.
Quando o apóstolo Paulo trata da eleição, ele diz da nova criatura,  pois o pecador, o velho homem, a natureza pecaminosa não é escolhida por  Deus. Como Deus elege o homem em pecado para ser santo e irrepreensível  se ele precisa ser desfeito para surgir uma nova criatura? ( Rm 6;6 ).  Deus não elege o homem sob o domínio do pecado porque o velho homem  precisa morrer para Deus possa criar o novo homem em Cristo Jesus.
Como Deus escolheria o homem em pecado, se Deus elege o homem somente  quando se está em Cristo? Se Deus “… nos elegeu n’Ele…”, acaso Cristo é ministro do pecado?  Não! O homem em pecado não foi escolhido para ser santo e  irrepreensível, antes, a nova criatura, aquele que está em Cristo, é a  escolhida para ser santa e irrepreensível.
Jamais Deus elegeria ou predestinaria os homens sob o pecado, pois  antes de ser servo da justiça o velho homem precisa ser crucificado e  sepultado com Cristo. Se o velho homem é destruído para que o cristão  tenha um encontro com Deus, como o homem em pecado pode ser escolhido ou  predestinado?
A relação de equivalência na asserção:
a) ‘…se  alguém está em Cristo…’, e;
b) ‘…  nova criatura é’,
A relação a=b e b=a possibilita substituir no capítulo 1 da carta aos  Efésios o ‘estar em Cristo’ por ‘nova criatura’.
Com a substituição teríamos a seguinte abordagem: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o  qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares  celestiais por sermos uma nova criatura; Como também nos elegeu por  sermos uma nova criatura antes da fundação do mundo, para que fôssemos  santos e irrepreensíveis diante dele por sermos novas criaturas; E nos  predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,  segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça,  pela qual nos fez agradáveis a si por sermos novas criaturas. Por  sermos novas criaturas temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das  ofensas, segundo as riquezas da sua graça (…) novas criaturas vocês  também são, depois que ouvistes a palavra da verdade…”.
O apóstolo procurou demonstrar aos cristãos em Éfeso que as benesses  de Deus são pertinentes à nova criatura. Quando se admiti que, só após  ser uma nova criatura é que se está de posse da redenção pelo sangue e  da remissão das ofensas, tem-se que admitir também que só o homem em  Cristo (nova criatura) assume a condição para a qual é eleito: santo e  irrepreensível.
Tudo que foi demonstrado pelo apóstolo Paulo no capítulo 1 de Efésios  refere-se aqueles que, primeiro esperaram em Cristo “… nós os que primeiro esperamos em Cristo” (  Ef 1:12 ).
Quando o apóstolo Paulo menciona ‘… os que primeiro esperamos em Cristo’, não se refere aos  apóstolos ou aos pais da igreja, antes diz daqueles que receberam as  bênçãos porque ‘primeiramente’ creram em Cristo. Quando o homem crê em  Cristo passa a ‘conhecer a Deus, ou antes, é conhecido d’Ele’. Primeiro é  necessário ao homem crer em Cristo (esperar, permanecer na palavra, ser  discípulo), para depois conhecê-lo “Então, conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (  Jo 8:32 ).
Quem foi abençoado com todas as bênçãos espirituais? Os cristãos!  ‘Nos abençoou’, ou seja, o pronome na primeira pessoa do plural ‘nós’  demonstra que Deus abençoou ‘os que primeiro esperamos em Cristo’. Quem  foi assentado nas regiões celestiais? ‘Nós’, ou seja, aqueles que foram  feitos novas criaturas. Quem são os eleitos? ‘Nós’, ou seja, os que  creram em Cristo! Quem é predestinado a ser filhos por adoção? ‘Nós’, os  que esperamos em Cristo!
Segundo a riqueza da sua graça, Deus concedeu:
- Sabedoria e prudência aos cristãos;
 - Revelou a sua vontade;
 - Foram feitos herdeiros, e;
 - Constituem-se louvor à Sua glória.
 
A quem Deus concedeu estas bênçãos? Aos que primeiramente esperaram  em Cristo, ou seja, aos cristãos! Em momento algum o apóstolo Paulo faz  referencia aos não cristãos.
No capítulo 1 da epístola aos Efésios, o apóstolo Paulo deixa  registrado tudo o que é pertinente à nova criatura, ou seja, ele faz  alusão à nova condição pertinente aos cristãos, aqueles que esperam em  Cristo, e que, apesar de desconhecer as benesses desta nova condição,  também eram nova criaturas e necessitavam se conscientizar do que  receberam após crer no evangelho ( Ef 1:13 ).
Tudo que o apóstolo dos gentios demonstra tem por sujeito os  cristãos, sendo utilizada a primeira pessoa do plural (nós) para fazer  referencia a tudo quanto os cristãos receberam após estarem em Cristo.
O que o apóstolo faz é lançar luz aos olhos do entendimento dos  cristãos, para que eles soubessem o montante (todas) de benesses que  receberam ao aceitar o chamado do Senhor segundo o evangelho ( Ef 1:18  ). O apóstolo assim o faz porque os cristãos de Éfeso desconheciam a  riqueza da glória da herança de Deus nos santos.Eles deviam saber que, o poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos  foi o mesmo que operou sobre os cristãos por terem crido na mensagem do  evangelho ( Ef 1:20 ), e que o mesmo Deus que fez o Senhor Jesus  assentar a sua direita, também fez com que os cristãos assentassem nas  regiões celestiais ( Ef 2:6 ).
O apóstolo Paulo escreveu aos santos e fiéis em Cristo, ou seja,  escreveu àqueles que são novas criaturas, que estão assentados nas  regiões celestiais, que são herdeiros e herança, selados com o espírito  santo da promessa, redimidos do pecado, gerados de novo para serem  filhos por adoção (predestinados) e de posse da irrepreensibilidade e  santidade que só é próprio aos de novo gerados em Cristo (eleitos).
Deus escolheu de antemão todos os que seriam gerados de novo para  serem irrepreensíveis e santos. Deus predestinou todos os que seriam  gerados de novo, segundo Cristo, para serem filhos de Deus por adoção.
Nenhuma destas benesses é pertinente aos filhos de Adão. Os filhos de  Adão são imundos e infiéis. Não são eleitos e nem predestinados. Foram  amaldiçoados e são cansados e oprimidos, ou seja, não encontraram  descanso. Não são herança e nem herdeiros de Deus.
Como Cristo foi eleito para conduzir muitos filhos a Deus ( Hb 2:10  ), e antes mesmo da fundação do mundo fora ofertado como cordeiro  imaculado ( Ap 13:8 ), de antemão Deus elegeu (escolheu) os descendentes  do último Adão, que é Cristo, para serem santos e irrepreensíveis, ou  seja, elegeu aqueles que primeiro esperam em Cristo.
De igual modo, Deus estabeleceu os descendentes do Descendente, que é  Cristo, como sua herança peculiar e os predestinou para serem filhos  por adoção “… com o fim de sermos  para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo”  ( Ef 1:12 e Ef 1:5 ).
A condição de filhos por adoção é para louvor e glória da sua graça,  uma vez que os cristãos foram feitos agradáveis a Deus por esperarem em  Cristo, ou seja, primeiro crerem na mensagem do evangelho e foram de  novo criados, segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade, ou seja,  irrepreensíveis e santos ( Ef 4:24 ). Ao crer na mensagem do evangelho,  os cristãos receberam poder para serem feitos filhos de Deus,  tornando-se agradáveis a Deus através do Amado Senhor Jesus Cristo ( Jo  1:12 ).
Velha Criatura
No capítulo 1 da epístola aos Efésios, o apóstolo Paulo trata somente  do que é pertinente aos cristãos. No capítulo 2, o apóstolo trás a  lembrança dos cristãos qual era a condição deles antes de crer no  evangelho de Cristo.
Após demonstrar aos cristãos que eles eram obras realizadas por Deus,  criados em Cristo Jesus “Porque  somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais  Deus preparou para que andássemos nelas” ( Ef 2:10 ), o apóstolo  Paulo fez com que lembrassem que, houve um tempo em que todos não tinham  esperança “Portanto, lembrai-vos  de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados  incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão  dos homens; Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da  comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo  esperança, e sem Deus no mundo” ( Ef 2:11 -12).
Ora, se noutro tempo os cristãos não tinham esperança, segue-se que  nenhum deles era eleito ou predestinado à salvação aos moldes do que foi  alardeado pelos reformadores, pois, se assim fosse, todos eles tinham  uma esperança.
Como nova criaturas, os cristãos vivem um novo tempo de justiça, e  paz e alegria no Espírito Santo ( Rm 14:17 ). Após ser gerado de novo, o  calendário de medição do tempo do novo homem também muda. Ao fazer  referencia a antiga condição, o apóstolo Paulo diz: “Noutro tempo”, ou  “outrora”.
Quando os cristãos estavam sem Cristo eram estranhos à aliança da  promessa, não tinham esperança, estavam sem Deus, e, por natureza, eram  filhos da ira ( Ef 2:12 e Ef 2:2 -3).
Todos os homens gerados de Adão são filhos da desobediência, e,  portanto, filhos da ira. Não têm esperança, pois entraram por uma porta  larga que os conduz à perdição. Todos quantos querem ser salvos,  precisam entrar pela porta estreita, que é Cristo, ou seja, precisam  nascer de novo.
O último Adão é a porta estreita (por onde os homens entram e são  conduzidos à salvação), e o primeiro Adão a porta larga (por onde os  homens entram e são conduzidos à perdição).
Se a eleição e a predestinação fossem aos moldes da doutrina  calvinista ou arminianista contrariaria o exposto pelo apóstolo Paulo,  uma vez que alguns homens sempre estiveram de posse de uma garantia.  Estes seriam filhos da desobediência, porém, não seriam filhos da ira.  Nunca seriam perdidos de fato, pois antes mesmo de serem gerados já  estavam destinados a salvação.
Mas, não é assim a verdade do evangelho, visto que, quanto ao trato  passado (condição), todos os cristãos estavam efetivamente mortos, e,  portanto, perdidos ( 1Co 15:22 ). A salvação se da através das boas  novas do evangelho, ou seja, alguém anuncia as boas novas do evangelho e  os que ouvem precisam crer ( 1Co 15:2 ; Rm 10:14 ).
A salvação em Cristo não se dá pela eleição e nem pela predestinação,  como apregoam os que dizem que a soberania divina não coaduna com o  livre arbítrio do homem. Para justificar este posicionamento, perguntam:  Se o homem está morto, como poderia decidir servir a Deus? Esquecem do  alerta de Cristo que diz: “Disse-lhe  Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que  esteja morto, viverá” ( Jo 11:25 ).
A condição do homem não é causa de impedimento para que se possa crer  em Cristo, visto que, ainda que esteja morto, ao crer em Cristo,  viverá.
Para que os cristãos alcançassem as benesses pelas quais o apóstolo  Paulo bendiz a Deus no capítulo 1, foi necessário Deus vivificá-los,  pois estavam todos mortos ( Ef 2:1 ). Para vivificar os cristãos, Deus  ressuscitou-os juntamente com Cristo e os fez assentar nas regiões  celestiais ( Ef 2:6 ).
O apóstolo Paulo aponta dois tempos e duas condições específicas na  vida dos cristãos: outrora éreis trevas, agora sois luz no Senhor (no  Senhor=em Cristo=nova criatura), ou seja, sois luz por ser nova criatura  “Porque noutro tempo éreis  trevas, mas agora sois luz no SENHOR” ( Ef 5:8 ).
Mas, como os cristãos se tornaram luz? Foram escolhidos dentre os  perdidos para serem luz? Foram predestinados para serem luz? Não!
O apóstolo João é claro ao repetir as palavras de Cristo: “Enquanto tendes luz, crede na luz,  para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se,  escondeu-se deles” ( Jo 12:36 ). Ou seja, é necessário ao homem  crer na luz para ser filho de Deus. Qualquer que recebe a Cristo, ou  seja, crê na mensagem do evangelho, recebe de Deus poder para ser feito  filho de Deus ( Jo 1:12 ).
Deixar de considerar que o apóstolo Paulo faz referencia a dois  tempos, duas condições e dois tipos de criaturas no capítulo 1 da carta  aos efésios, faz com que surja e se perpetue alguns erros de  interpretação.
Os reformadores erraram:
- Ao estabelecer como finalidade da eleição e da predestinação a salvação, e;
 - Por não levar em conta que o apóstolo Paulo faz referência a dois tipos de criaturas.
 
Erraram ao estabelecer que Deus elegeu e predestinou dentre os filhos  da desobediência de Adão alguns para serem salvos. Deixaram de observar  que a eleição refere-se à santidade e irrepreensibilidade, e que a  predestinação refere-se a filiação.
Após observar que há os filhos da ira e os filhos da luz, e que, para  ser filho da luz é necessário crer na luz, conclui-se que, antes da  fundação do mundo Deus estabeleceu que, os que cressem na mensagem do  evangelho, receberiam poder para serem feitos filhos de Deus ( Jo 1:12  ), e na condição de eleitos de Deus são santos e irrepreensíveis ( Tt  1:1 ).
Isto que dizer que, de antemão Deus estabeleceu um único destino  (predestinou) aos que haveriam de crer em Cristo: seriam salvos da  condenação estabelecida em Adão e seriam filhos por adoção.
Quando o apóstolo escreve aos cristãos em Éfeso, capítulo 1, ele  trata única e exclusivamente das bênçãos que Deus concede aos cristãos  na condição de novas criaturas. Para fazer alusão às bênçãos concedidas  por Deus, o apóstolo utiliza os verbos no pretérito perfeito (elegeu,  predestinou, deu, derramou, desvendou, etc.), tendo por sujeito dos  verbos no pretérito perfeito, os cristãos (nos), e não aqueles que são  filhos da ira e da desobediência.
Deste modo não há contradição alguma entre a soberania e o  livre-arbítrio do homem, pois os filhos da ira são provenientes de uma  geração e os filhos da luz proveniente de outra geração. A geração dos  ímpios é segundo o sangue, a vontade da carne e a vontade do varão, e a  geração dos justos segundo a vontade de Deus.
A geração dos ímpios jamais foi eleita, pois a eleição é pertinente a  geração dos justos, como se lê: “Mas  vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo  adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das  trevas para a sua maravilhosa luz” ( 1Pe 2:9 ).
Os cristãos são geração eleita, pois a geração segundo a carne foi  rejeitada. Como os cristãos alcançaram a eleição? Deus os chamou através  do evangelho das trevas para a luz, ou seja, não foram predestinados e  nem eleitos. Foram chamados!
Salvação e a filiação
No capítulo 1 da carta aos Efésios o apóstolo Paulo faz alusão ao  propósito eterno de Deus. Qual o propósito eterno de Deus? Ora, o  propósito eterno não se refere à salvação do homem, pois apesar de Deus  querer e salvar os homens, há um tempo pré-determinado para a obra  redentora ser encerrada.
A salvação é eterna, porém, Deus não continuara salvando os homens  por toda a eternidade, portanto, a obra redentora de Deus não se refere  ao propósito eterno.
O propósito eterno diz de algo que nunca terá fim, ou seja, o único  evento que nunca terá fim é a preeminência de Cristo, pois ela perdurará  pela eternidade ( Ef 1:10 ).
É propósito eterno de Deus:
- Que a multiforme sabedoria de Deus seja revelada aos principados e potestades nas regiões celestiais;
 - Que Cristo tenha a preeminência em tudo;
 - Que Cristo seja o primogênito de toda criação;
 - Que Cristo seja o primogênito dentre os mortos, e;
 - Que Cristo seja o primogênito entre muitos irmãos.
 
Através da igreja, que é o corpo de Cristo, Deus concretizou o seu  propósito eterno!
Em todos os tempos os homens são salvos por Deus mediante a fé,  porém, a condição dos membros do corpo de Cristo é diferente da condição  dos outros salvos que existiram ao longo da história da humanidade.  Como?
Ora, os homens são salvos em todos os tempos pela fé em Deus, pois  Deus salvou e salvará:
- Antes da lei de Moisés;
 - Durante o período da lei de Moisés;
 - Durante o período das boas novas do evangelho;
 - No período da grande tribulação, e;
 - Durante o milênio.
 
 Porém, diferente dos outros salvos, que continuarão na posição de  homens, a igreja de Cristo foi elevada a categoria de ‘semelhantes a  Deus’, posição superior a dos anjos, uma vez que serão semelhantes a  Cristo ( 1Jo 3:2 ).
Aos salvos que não são membros do corpo de Cristo, que é a igreja,  não será dado a autonomia de julgar os anjos ( 1Co 6:3 ), mas a igreja  julgará o mundo e os anjos ( 1Co 6:2 -3).
Diferentemente dos salvos de outras épocas, a igreja foi participante  da morte de Cristo e passou a ser semelhante a Ele na ressurreição “Porque, se fomos plantados juntamente  com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua  ressurreição” ( Rm 6:5 ; Cl 3:1 -3).
O mesmo poder que foi manifesto em Cristo, ressuscitando-o dentre os  mortos, também operou sobre os membros do corpo de Cristo, a igreja ( Ef  1:19 ). Cristo é o primogênito dentre os mortos, e o seu corpo, também  nomeado de a universal assembléia, é a igreja dos primogênitos ( Hb  12:23 ).
Cristo é Filho e herdeiro de todas as coisas, e os membros do seu  corpo, filhos e co-herdeiros, pois é certo que os cristãos com Ele  morreram (padecemos) para com Ele serem glorificados (ressurgir) ( Rm  8:17 ; Cl 3:3 ).
Tal qual Cristo é, é a sua igreja aqui neste mundo ( 1Jo 4:17 ). A  igreja possui a imagem de Cristo, pois qual o Celestial, tais também os  celestiais ( 1Co 15:47 -48). Esta condição é efetiva hoje, agora, não  diz de algo para o futuro ( Ef 5:8 ).
Conclui-se que, todos os salvos de todas as épocas são filhos de  Deus, porém, nem todos os salvos são qual o último Adão, que é Cristo.  Há muitos filhos, mas somente a igreja é conforme a imagem de Cristo. Há  muitos salvos, porém, somente através da igreja Cristo tornou-se  primogênito dentre os mortos e primogênito entre muitos irmãos ( Rm 8:29  ).
O apóstolo João e o apóstolo Paulo anunciaram que todos os cristãos  receberam da plenitude de Cristo ( Jo 1:16 ; Cl 2:10 -11), ou seja,  todos são participantes da natureza divina, pois a semente de Deus  permanece neles ( 2Pe 1:4 ; 1Jo 3:9 ).
A condição da igreja é tão diferenciada da dos outros salvos que os  profetas estavam cientes que a graça que seria concedida à igreja não  era igual a que lhes pertencia ( 1Pe 1:12 ).
As potestades e principados, por sua vez, desconheciam qual a  multiforme sabedoria que foi revelada na igreja ( Ef 3:10 ), e assim  como os profetas da antiga aliança também desejaram compreende-la “… para as quais coisas os anjos  desejam bem atentar” ( 1Pe 1:12 b).
Este verso tem causado inúmeros equívocos, visto que os anjos não  desejaram anunciar o evangelho como muitos apregoam, antes eles  desejavam atentar para as mesmas coisas que os profetas desejavam  compreender “Aos quais foi revelado que, não para si  mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos  foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu,  vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos  desejam bem atentar” ( 1Pe 1:12 ).
Sabemos que Cristo é mais sublime que os céus, e que a igreja será  semelhante a Ele, ou seja, possuidores de uma glória superior a própria  ‘habitação’ do Altíssimo ( Hb 7:26 ; 1Jo 3:2 ).
Mas, como ainda ‘não é manifesto o que havemos de ser’, uma coisa é  certa, toda a criação está numa ardente expectação esperando a  manifestação dos filhos de Deus “Porque  a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de  Deus” ( Rm 8:19 ).
No entanto, a manifestação dos filhos de Deus somente se dará quando  Cristo se manifestar, e, então, a igreja será manifesta com Cristo em  glória, ou seja, semelhantes a Ele ( Cl 2:11 ; 2Co 5:4 ; 1Co 15:53 -54).
Deus levou a efeito o seu propósito eterno quando adquiriu um povo,  gerado segundo a palavra da verdade, constituído sacerdócio real e nação  santa para que Cristo tenha a preeminência em tudo. Como? Através da  igreja Cristo é o mais sublime entre os sublimes. Ele é o primogênito  entre muitos irmãos! “Eis que o  meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime”  ( Is 52:13 ).
Somente através da igreja, o Servo do Senhor, o Filho do Altíssimo, é  exaltado, elevado e mui sublime.
Conheceu e Predestinou
“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem  de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”  ( Rm 8:29 ).
Após alertar que as aflições do tempo presente não se comparam com a  glória que há de ser revelada, e lembrar a expectativa da criação quanto  a revelação dos filhos de Deus ( Rm 8:18 -22), o apóstolo Paulo  demonstrou estar ansioso quanto a redenção do corpo ( Rm 8:23 ).
Ele reitera o que os cristãos deviam saber: que tudo contribui para o  bem daqueles que amam a Deus ( Rm 8:28 ), ou seja, os ‘que amam a Deus’  são aqueles que foram ‘chamados segundo o seu propósito’.
Quem são os chamados? Todos os que ouvem a mensagem do evangelho.  Quem são os que amam a Deus? Todos que atenderam o chamado contido no  evangelho.
Ora, somente as ‘boas novas’ do evangelho promove o propósito de  Deus, pois todos os que foram ‘conhecidos’ de Deus, também foram  predestinados a serem conforme a imagem de Cristo ( Rm 8:29 ).
Deste verso surgem algumas perguntas essenciais a compreensão:
- O que é conhecer a Deus?
 - O ‘dantes’ refere-se a que?
 - Foram predestinados a que?
 - Com que propósito Deus chama os homens através do evangelho?
 
Conhecer a Deus - “Mas agora, conhecendo a Deus, ou,  antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses  rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” (  Gl 4:9 ) – ‘Conhecer’ a Deus não é ter ‘ciência’, ‘saber’ ou  ‘conhecimento acerca de’ Deus, antes, ‘conhecer’ é tornar-se um só corpo  e um só espírito com o Pai e o Filho ( Ef 4:4 ), ou seja, refere-se a  comunhão intima ( 1Co 1:9 ). Assim como o homem torna-se um só corpo ao  ‘conhecer’ a mulher, conhecer a Deus, ou antes, ser conhecido d’Ele, diz  de comunhão intima. Conhecer a Deus é algo pertinente ao tempo presente  dos cristãos “Mas, agora…”  ( Gl 4:9 ).
Dantes conheceu – A que  tempo refere o ‘dantes’? O que ‘dantes conheceu’ é o mesmo que ‘… primeiro esperamos em Cristo’  ( Ef 1:12 ). Os que primeiro esperaram em Cristo são os que conheceram a  Deus, ou antes, foram conhecidos d’Ele. Os que ‘dantes’, ou os que  ‘primeiro’ conheceram a Deus, por esperar em Cristo, são os que foram  feitos herança e predestinados segundo o propósito de Deus ( Ef 1:11  -12). ‘Dantes conheceu’ remete a mesma idéia que o apóstolo Paulo expôs  aos cristãos da região da Galácia: conhecendo a Deus, ou ANTES, sendo  conhecido d’Ele ( Gl 4:9 ). Este ‘dantes’ não tem relação alguma com a  presciência de Deus.
Predestinados a quê? –  Deus predestinou os que ‘dantes’, ou seja, que em primeiro lugar O  conheceram ao crer no evangelho para serem conformes à imagem de seu  Filho. Observe que ninguém é predestinado a salvação! Antes de ser  predestinado a ser conforme a imagem do Filho é necessário ao homem  ‘conhecer’ a Deus, ou antes, ser ‘conhecido’ d’Ele.
O evangelho do propósito eterno  – A oferta de salvação em Cristo, além da redenção do homem, faz parte  do propósito eterno de Deus, que é tornar o Unigênito Filho de Deus no  Primogênito de Deus entre muitos irmãos. Para tanto, todos os que crêem  no evangelho, além de salvos, são predestinados a serem conforme a  imagem de Cristo.
Somente os que primeiro ‘conheceram’ a Deus por intermédio do  evangelho são predestinados à filiação divina. Ninguém é predestinado a  ‘conhecer’ a Deus, ou seja, ninguém é predestinado a salvação, antes, é  necessário primeiramente (dantes) crer em Cristo, que o homem terá o seu  destino definido conforme o que foi proposto na eternidade: será  conforme a imagem de Cristo “Porque  os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à  imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos  irmãos” ( Rm 8:29 ).
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