16 de jan. de 2011

A PIEDADE É A VERDADEIRA SABEDORIA - SANTO AGOSTINHO




Esta consideração é a que torna piedoso o homem, porque a piedade é 
a verdadeira sabedoria. Refiro-me à piedade que os gregos denominam 
theosebeian, a qual foi recomendada pelas palavras dirigidas ao homem e que se 
lêem no livro de Jó: Eis, o temor do Senhor é a  (verdadeira)  sabedoria  (Jó 28,28). 
Pois, se traduzíssemos o termo theosebeian para o vernáculo a partir do latim de 
acordo com a sua origem, poder-se-ia dizer “culto a Deus”, o qual consiste 
principalmente em que a alma não lhe seja ingrata. Por isso, no verdadeiro e 
singular sacrifício, somos exortados a dar graças ao Senhor nosso Deus. 

 A alma ser-lhe-ia ingrata, se o que vem dele atribuísse a si mesma, 
principalmente a justiça, de cujas obras se orgulhasse como se fossem próprias 
e como realizadas por si mesma em seu próprio favor. Avultaria a ingratidão, 
se o orgulho se manifestasse não de maneira vulgar, como fazem os que se 
jactam das riquezas ou da elegância corporal ou da eloqüência ou das outras 
qualidades tanto interiores como exteriores, seja do corpo, seja da alma, as 
quais os malvados também costumam possuir, mas também daqueles que são 
os bens dos bens e de um modo  não vulgar, mas próprio dos que se 
consideram sábios. Devido a este pecado, o do orgulho, até ilustres varões 
bandearam-se para a desonra da idolatria, rechaçados da solidez da natureza 
divina. 

 Por esta razão, o mesmo apóstolo e na mesma carta, na qual se mostra 
defensor acérrimo da graça, depois  de se confessar devedor a gregos e 
bárbaros, a sábios e ignorantes, e, portanto, pelo que lhe exigir sua missão, e 
depois de dizer que estava disposto a evangelizar os que se encontravam em 
Roma, afirma: Na verdade, eu não me envergonho do Evangelho, ele é a força de Deus 
para a salvação de todo aquele que crê, em primeiro lugar do judeu, mas também do grego. 
Porque nele a justiça de Deus se revela da fé para a fé, conforme está escrito: “O justo viverá 
da fé” (Rm 1,14-17). 

 Esta é justiça de Deus que, oculta no Antigo Testamento, manifesta-se 
no Novo. Chama-se justiça de Deus porque sua concessão torna justo os 
homens, assim como o que está escrito: Do Senhor vem a salvação, indica que é a 
salvação com a qual ele salva. Esta é a fé pela qual e na qual se revela a justiça, 
isto é, a fé dos que pregam a palavra para despertar à fé os que obedecem. 
Pele fé de Jesus Cristo, isto é, pela fé que nos conferiu Cristo, cremos que nos 
vem de Deus o poder viver na justiça e vivê-la com mais perfeição no futuro. 
Por tudo isso damos-lhe graças com a piedade devida somente a Deus. 
Extraído de: A Graça I, (Patrística 12) 

São Paulo: Editora Paulus, 1998, p.36.

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