Nossa  cultura tem nos ensinado que para a humanidade "todas as coisas são  possíveis". Assim, a idéia de que precisamos da graça divina para nos  acharmos corretos diante de Deus nos parece errada. Consideramos que  sempre será possível corrigir nossos relacionamentos com o  Todo-poderoso. Se necessário, nós mesmos toma-remos conta disto na hora  certa.
Aqueles  que pensam assim, não conseguem apreciar outra doutrina bíblica: a  inaptidão espiritual do homem ou, como é às vezes dito, a escravidão da  vontade humana. Isto é verdade diante da declaração de Paulo de que "não  há quem busque a Deus" (Rm 3.11). A razão pela qual ninguém busca a  Deus é que, à parte da obra anterior de Deus no coração de um indivíduo,  ninguém pode buscar a Deus — porque ninguém quer fazê-lo. Esta questão  tem sido amplamente discutida na história da igreja. Era o assunto  principal no desacordo entre o grande Agostinho e o monge britânico  Pelágio; entre Martinho Lutero e o humanista holandês Erasmus de  Rotterdam; e entre Jacob Arminius e os seguidores de João Calvino.  Contudo, a mais profunda e mais significante opinião jamais dada sobre o  assunto da vontade e sua impotência foi por Jonathan Edwards em um  tratado denominado "A Careful and Strict Inquiry into the Prevailing Notions of the Freedom of the Will", [Uma cuidadosa e rigorosa pesquisa sobre as noções prevalecentes quanto à liberdade da vontade].
A  primeira coisa que Edwards fez foi definir a vontade. Pensamos em  vontade como aquela coisa em nós que faz as escolhas. Edwards viu que  isto não era correto e então, definiu a vontade como "aquilo pelo qual a  mente escolhe alguma coisa". Isto pode não parecer grande diferença,  mas é muito significativo. Pois significa que o que escolhemos não é  determinado pela vontade em si (como se fosse um ente próprio) mas pela  mente, o que significa que nossas esco¬lhas são determinadas pelo que  pensamos ser o curso de ação mais desejável.
A  segunda maior contribuição de Edwards foi sua discussão do que ele  chamou "motivos". Ele destacou que a mente não é neutra. Ela pensa que  algumas coisas são melhores do que outras e porque algumas coisas são  melhores do que outras ela escolhe as coisas melhores. Se uma pessoa  pensou que um curso de ação era melhor que outro e ainda assim escolheu a  alternativa menos desejável, a pessoa seria irracional. Isto significa,  falando apropriadamente, que a vontade é sempre livre. E livre para  escolher (e sempre escolherá) o que a mente pensa ser melhor.
Mas  o que a mente pensa ser o melhor? Aqui chegamos ao coração do problema.  Quando confrontada com Deus, a mente de um pecador nunca pensa que  seguir ou obedecer a Deus é uma boa escolha. Sua vontade é livre para  escolher Deus. Nada a está impedindo. No entanto, ele se vira contra  Deus, mesmo quando o evangelho é mais atraentemente apresentado. As  pessoas não querem que Deus seja soberano sobre elas. Elas não querem  que suas naturezas pecadoras sejam expostas. Suas mentes são erradas  neste julgamento, é claro. A maneira como elas escolhem é, naturalmente,  uma forma de alienação e miséria, o fim do qual é a morte. Mas os seres  humanos pensam que o pecado é melhor, razão pela qual o escolheram.  Portanto, a menos que Deus mude a maneira de pensarmos — o que ele faz  em alguns pelo milagre do novo nascimento — nossas mentes sempre nos  dirão para nos virarmos contra Deus — o que é precisamente o que  fazemos.

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