Se  Deus justifica gratuitamente os pecadores por sua graça, por que ele  faz isso? Baseado em quê? Como é que esse Deus justo pode declarar justo  o injusto, sem comprometer a sua própria justiça nem condescender com a  injustiça deste? Esta é a nossa pergunta. A resposta de Deus é a cruz.
Não  existe em Romanos expressão mais surpreendente do que a afirmação de  que "Deus ...justifica o ímpio" (4.5). Embora ela só apareça no capítulo  seguinte, no entanto será de grande ajuda aqui para ajudar-nos a  acompanhar a argumentação de Paulo. Como é que Deus pode justificar o  ímpio? No Antigo Testamento, repetidas vezes Deus diz aos juizes  israelitas que eles devem justificar os íntegros e condenar os ímpios.  Mas é óbvio! Quem é inocente deve ser declarado inocente e quem é  culpado deve ser considerado culpado! E um princípio elementar de pura  justiça. Mas então Deus acrescenta: "O que justifica o perverso e o que  condena o justo, abomináveis são para o Senhor tanto um como o outro".  Ele pronuncia também um solene "ai" contra os que "por suborno  justificam o perverso, e ao justo negam justiça".   Pois, como declara  acerca de si mesmo, "não justificarei o ímpio". Mas é claro! — dizemos  de novo — Deus nem sonharia em fazer tal coisa!
Então,  como é que Paulo tem a coragem de afirmar que Deus faz aquilo que ele  proíbe os outros de fazerem? E que ele faz o que disse que nunca faria —  e que, ainda por cima, o faz habitualmente? E que ele ainda diz ser "o  Deus que justifica o perverso" ou (se é que poderíamos dizer assim) "que  torna íntegro quem não tem integridade"? É um absurdo! Como pode o  justo Deus agir injustamente, desbaratando assim a ordem moral e  invertendo-a completamente? É inacreditável! Ou melhor: seria, não fosse  a cruz de Cristo. Sem a cruz, a justificação do injusto seria injusta,  imoral e, dessa forma, impossível. A única razão pela qual Deus  "justifica o ímpio" (4.5) é que "Cristo morreu pelos ímpios" (5.6). Só  porque ele derramou o seu sangue (25) numa morte sacrificial por nós,  pecadores, é que Deus pode justificar justamente o injusto.
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