"Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer". Romanos        9:18.      
Não é objetivo do autor, tentar fazer um debate exaustivo        deste assunto, mas sim, escrever duma maneira geral sobre este atributo        divino da misericórdia. O texto porém será explicito        em afirmar que Sua misericórdia não é universal; ele        declara que Deus é soberano em conferir esta misericórdia;        fica também afirmado que Ele consulta Seu próprio prazer quanto        aos objetos de sua misericórdia. Mas isto não significa que        a misericórdia será negada a qualquer pecador que venha a        Cristo. Isto não pode acontecer, pois, Jesus disse: "o que vem a        mim de maneira alguma o lançarei fora". João 6:37. Todo pecador        que crê no Senhor Jesus Cristo achará misericórdia com        Deus, e "quem quiser" pode vir.      
Notemos que o texto coloca o exercício da misericórdia em        oposição ao endurecimento como ato divino. Portanto, será        mais fácil compreendermos um ato se compreendermos o ato oposto.        Seja o que for Deus faz ao endurecer o coração do pecador;        ele faz o oposto disto ao exercer Sua misericórdia ao pecador. Observemos        também que o contexto fala dos "vasos da ira" e dos "vasos de misericórdia".      
O ENDURECIMENTO DO CORAÇÃO DOS PECADORES      
Ao endurecer o coração dos pecadores, Deus não põe        neles princípios pecaminosos; isto O faria autor do pecado. O princípio        do pecado já está neles; somos por natureza filhos da ira.        Efésios 2:3. Mas ao endurecer o coração do pecador        Deus o deixa agir pelos seus próprios desejos pecaminosos, apenas        controlando-os de maneira que seus desejos pecaminosos não produzam        certas ações que poderiam destruir o propósito de Deus.        Como ilustração: na morte de Cristo, Seus assassinos estavam        executando seus próprios desejos, mas foram controlados por Deus,        de maneira que suas obras cumprissem as profecias e que o propósito        eterno de Deus fosse efetuado. Isto explica porque rasgaram Suas vestes        e lançaram sorte sobre Sua túnica e deram-Lhe vinagre com        fel para beber. Isto também explica porque Seus ossos não        foram quebrados e porque Seu lado foi ferido. Deus estava no controle dos        que mataram Seu Filho, para que fizessem as coisas profetizadas no Velho        Testamento. Leia João 19:33; Salmo 22:18; 69:21; Mateus 27:35.      
Em Atos 14:16 lemos que Deus permitiu que as nações andassem        em seus próprios caminhos, isto significa que Ele as deixou às        suas próprias vontades depravadas. Agora entendemos que misericórdia        é o oposto de deixar o pecador entregue aos seus próprios        desejos. É colocar algo de bom no pecador, sendo este algo uma disposição        santa e um bom princípio, pelo qual eles se arrependem de seus pecados        e crêem no Senhor Jesus Cristo. Mostrar misericórdia aos que        vêm a Cristo e rogam pelo Seu sangue, é misericórdia        objetiva. Produzir em nós tanto a vontade quanto o fazer, Filipenses        2:13, misericórdia subjetiva. E esta é a idéia com        que ela é usada em Romanos 9:18.      
Em Efésios 2:3-5, lemos que "somos por natureza filhos da ira...        mas Deus que é rico em misericórdia, nos vivificou juntamente        com Cristo". E em Tito 3:5, lemos que foi "Não pelas obras de justiça        que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos        salvou pela lavagem da regeneração e da renovação        do Espírito Santo". Foi em misericórdia que Cristo morreu        por nós, e foi também em misericórdia que o Espírito        iluminou nosso entendimento, obscurecido pelo pecado.      
HUMILDADE VERSAS ORGULHO      
Contemplar a misericórdia de Deus enche a alma redimida de humildade        e louvor, duas virtudes de grande valor à vista de Deus. E o que        Deus valoriza, certamente deve ser buscado por nós. Se Deus despreza        o orgulho, devo buscar a humildade. Se Deus apraz-Se com um espírito        de gratidão, devo buscar um espírito de gratidão. É        natural buscarmos as coisas estimadas pelos homens; é sobrenatural        buscarmos as coisas aprovadas por Deus. O mundo admira um espírito        de orgulho e de auto-suficiência e, portanto, são homens como        Napoleão e outros valentes de guerra que são heróis        para o mundo. Mas é o espírito quieto e humilde que é        de grande preço à vista de Deus. 1 Pedro 3:4. E nada nos fará        mais humildes e gratos que a contemplação da misericórdia        de Deus. A misericórdia nos faz relembrar nosso estado de miséria        como filhos da ira. Misericórdia explica nossa salvação.        Sem misericórdia seríamos consumidos pela ira da justiça        divina.      
DEFINIÇÃO DE MISERICÓRDIA      
O dicionário nos dá a seguinte definição: "Misericórdia        é tratar com compaixão um inimigo". Roberto Haldane diz que        misericórdia é uma perfeição adorável        de Deus, pela qual Ele Se compadece e alivia os miseráveis. O homem        está numa condição de miséria por causa de sua        rebelião contra Deus e merece punição. A misericórdia        implica que o pecador não tem nada a dizer em sua defesa própria.        Entendemos o significado de misericórdia quando o acusado joga-se        à misericórdia do juiz. Isto significa que ele é culpado        e não tem mérito com que apelar à lei. Esta é        a condição exata em que nós nos achamos diante do tribunal        de Deus. A misericórdia é a nossa única esperança.        Podemos rogar por justiça diante dos homens, mas rogarmos por justiça        a Deus (rogarmos que nos dê o que merecemos) é o mesmo que        pedirmos uma vaga na região dos condenados ao inferno.      
DESCRIÇÃO DE MISERICÓRDIA      
A misericórdia de Deus é descrita em vários lugares        e de maneiras diversas. Sua misericórdia é grande (1 Reis        3:6), é suficiente (Salmo 86:5), é terna (Lucas l:78), é        abundante (1 Pedro 1:3), é rica (Efésios 2:4), é eterna        (Salmo 103:17). É tão grande consolação sabermos        que Deus é tão abundante e rico exatamente no que necessitamos        como pobres pecadores. Não é surpresa que o Salmista diga:        "Cantarei a tua força; pela manhã louvarei com alegria a tua        misericórdia". Salmo 59:16.      
MISERICÓRDIA DISTINGUIDA      
1. Misericórdia e graça têm muito em comum, mas existem        sombras de diferença entre elas. A graça vê o homem        sem mérito; a misericórdia o vê como miserável.        A graça pode ser exercida onde não há pecado; a misericórdia        é mostrada somente a pecadores. A distinção é        vista na maneira como Deus tratou os anjos não caídos. Deus        nunca exerceu misericórdia para com eles, pois nunca pecaram, e portanto        não estão em estado de miséria. Mas eles são        objetos da graça. Foi pela graça que Deus os escolheu em meio        a toda a raça angélica. 1 Timóteo 5:21. Foi em graça        que Ele lhes deu tais serviços tão honrosos. Hebreus 1:19.        Foi pela graça que Deus pôs Cristo como o Cabeça deles.        Colossenses 2:10, 1 Pedro 3:22. Deus tratou com os anjos em graça,        pois eles não mereciam Seu favor. Se anjos santos não podem        merecer Seus favores, que esperança há para o homem pecaminoso?      
2. A misericórdia e o amor são distinguidos nas Escrituras.        O amor pode ser dirigido a um semelhante; a misericórdia somente        existe entre um superior e um inferior. A misericórdia não        vai além de dar alívio; amor nos predestinou para adoção        como filhos. A misericórdia pode fazer um rei perdoar um traidor;        era necessário haver amor para este rei adotar este traidor como        seu próprio filho.      
3. Há também uma distinção entre misericórdia        e paciência. Há uma misericórdia geral de Deus que se        assemelha a paciência. Tal misericórdia é temporária        e se aplica a todas as suas obras. Salmo 145:9. Esta misericórdia        pertence à Sua natureza essencial pela qual Ele provê as necessidades        de Sua criação inteira, fazendo o sol levantar-se sobre o        mau e o bom, e manda a chuva sobre o justo e o injusto. Mateus 5:45. Mas        Sua misericórdia do concerto é exercida soberanamente por        meio de Cristo e é eterna.      
A DEMONSTRAÇÃO DE MISERICÓRDIA      
1. A misericórdia de Deus é demonstrada ao dar Seu Filho        para morrer no lugar do pecador. Foi pela misericórdia de Deus "que        o oriente do alto nos visitou". Lucas 1:78. Foi misericórdia e não        justiça que mandou Cristo Jesus para nos redimir da condenação        da lei. Cristo não trouxe para nós a misericórdia de        Deus, mas foi a misericórdia de Deus que O trouxe a nós. Cristo        é o meio pelo qual a misericórdia chega a nós, mas        Ele não é a causa. A morte de Cristo torna possível        o outorgar das misericórdias do concerto por Deus de maneira a satisfazer        a justiça, sendo Cristo o penhor de Seu povo. A misericórdia        vem de Deus, mas somente através do Senhor Jesus Cristo.      
2. A misericórdia é vista também na regeneração        dos pecadores. Vivificar-nos quando ainda mortos em pecados foi certamente        um ato de misericórdia, como também o foi a morte de Cristo        em nosso lugar. Em Efésios 2:1-3, Paulo descreve o pecador como andando        no curso deste mundo, de acordo com o príncipe das potestades, guiado        pelo espírito que opera nos filhos da desobediência, sendo        por natureza filhos da ira. Mas em seguida ele diz: "Mas Deus que é        rico em misericórdia, pelo (por causa de) seu imenso amor com que        nos amou, ainda quando mortos em pecados e ofensas, vivificou-nos juntamente        com Cristo". Isto não retrata o pecador fazendo algo que faça        Deus regenerá-lo, mas retrata a misericórdia triunfando sobre        a depravação humana. Em Tito 3:5, lemos que não foi        por obras de justiça nossas, mas segundo a Sua misericórdia        que Ele nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação        do Espírito Santo. E Pedro diz que foi de acordo com Sua abundante        misericórdia que fomos gerados de novo para uma esperança        viva. 1 Pedro 1:3. Como pecadores não fizemos nada para merecer nosso        novo nascimento nem para merecer a morte de Cristo em nosso lugar.      
Temos um exemplo concreto da misericórdia de Deus na regeneração        de Saulo de Tarso. Ele atribuiu sua conversão à misericórdia        de Deus. Ele diz que outrora blasfemava, perseguia e injuriava, "mas alcancei        misericórdia", ele exclama, "pois fiz isto ignorantemente em incredulidade".        Isto não indica que a ignorância e a incredulidade sejam base        para a misericórdia, antes, evidencia que sua salvação        foi um ato de misericórdia. A ignorância e a incredulidade        não podem merecer a salvação, portanto a salvação        de Saulo foi um ato da misericórdia divina. Paulo era o principal        entre os pecadores, mas alcançou misericórdia. Não        há pecador perverso demais, que não possa receber a misericórdia        da salvação.      
Aqui jaz a obrigação dos santos: devemos nossa salvação        à misericórdia de Deus em Cristo. O homem não pode        valorizar a misericórdia de Deus enquanto se sentir merecedor da        salvação. Merecer misericórdia é contradição.        Em humildade e louvor atribuímos nossa salvação à        misericórdia de Deus!      
A misericórdia de Deus é o apelo próprio do pastor        a seu povo. "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão (misericórdia)        de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo        e agradável a Deus, que é vosso culto racional". Romanos 12:1.        A ordem de progressão em Romanos é pecado... miséria?        misericórdia... e serviço de gratidão. Os primeiros        capítulos de Romanos tratam da condição pecaminosa        e da miséria dos pecadores; os próximos capítulos (4-11)        se dedicam às grandes doutrinas da graça, que Paulo chama        de "misericórdias de Deus", e os capítulos de conclusão        exortam à vida prática do crente que vive por causa da misericórdia        de Deus. O pastor não é um homem com chicote na mão,        mas sim um homem com a Palavra de Deus, e com um grande apelo.      
O Salmo 136 é uma tripla exortação para se dar graças        pela misericórdia de Deus. Da parte de Deus, a punição        do perverso é um ato de justiça. Da parte do pecador, é        um ato de equidade; ele recebe o que merece. Mas do ponto de vista do redimido,        a punição do perverso é um ato de misericórdia.        Os israelitas receberam ordem de darem graças "Aquele que feriu o        Egito nos primogênitos; porque a sua benignidade (misericórdia)        dura para sempre". Salmo 136:10.      
O PROPICIATÓRIO      
O propiciatório do V. T., e o propiciatório do N. T. são        bem distintos, e não devem ser confundidos. Um é o tipo; o        outro é o anti-tipo. Sob a lei cerimonial, o propiciatório        era a tampa da arca da aliança. Hebreus 9:5. Este propiciatório        era o lugar de encontro entre Deus e Israel. Sem esta provisão de        misericórdia, a presença de Deus entre eles seria a destruição        de Israel, pois seriam consumidos pela Sua santa ira. Ele podia mostrar        compaixão a eles e deixá-los viver, pois Sua justiça        havia encontrado satisfação na morte os sacrifícios        pelo pecado. Uma ovelha, sobre cuja cabeça os pecados eram confessados,        era morta, e desta maneira as iniqüidades do pecador eram transferidas        para a ovelha. A ovelha tinha que morrer, pois se tornava responsável        pelos pecados dos israelitas, e seu sangue aspergido sobre o propiciatório        era a base da paz entre o povo pecador e o Deus santo. Entretanto o sangue        de touros e de bodes não podia tirar seus pecados a não ser        de maneira simbólica e cerimonial, e mesmo assim somente por um ano.        Seu valor era apontar para um sacrifício melhor; o Cordeiro de Deus        que tira o pecado do mundo. João 1:29.      
O propiciatório do N. T. não é um lugar, mas uma Pessoa,        o Senhor Jesus Cristo. Não há lugar onde o pecador possa fugir        para escapar da ira de Deus. Os homens talvez fujam de um país para        outro, a fim de escapar da justiça dos tribunais humanos, mas não        há fugitivo da justiça divina. Deus tem jurisdição        em todas as nações, pois Ele é o juiz de toda a terra.        Não há nesta terra lugares santos de misericórdia.        Salvação não é uma questão de geografia,        quer dizer não é caso do local onde a pessoa se encontra na        terra. Se alguém achasse a tumba exata de Cristo e nela se escondesse        com esperança de misericórdia, a justiça divina o encontraria        e o puniria. O pecador poderia ajoelhar-se justamente ao pé da cruz        sobre a qual Jesus morreu, e mesmo assim ainda não encontraria a        misericórdia de Deus.      
O Senhor Jesus Cristo é o verdadeiro propiciatório, e os        pecadores têm que correr a Ele para alcançarem misericórdia.        A palavra que descreve o propiciatório no V. T. (Hebreus 9:5) é        a mesma que descreve o Senhor Jesus Cristo no N. T. Romanos 3:25: "Ao qual        Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue".        Esta palavra significa que Ele apazigua a ira de Deus. Cristo apaziguou        a ira divina ao suportar a ira de Deus na cruz. A ira que merecíamos        caiu sobre Ele. O propiciatório é portanto, Cristo em Sua        morte resgatadora. Ele não podia permanecer no céu e ser nossa        propiciação. Ele não podia ser propiciação        em Sua infância nem como homem que andava fazendo o bem. Sua morte        vicária era uma necessidade absoluta. Ele falava de Si mesmo quando        disse: "Se o grão de trigo, caindo em terra, não morrer, fica        ele só; mas se morrer, dá muito fruto". João 12:24.      
Não há aproximação física (pelas obras        da lei) do Senhor Jesus Cristo, o verdadeiro propiciatório. Esta        é uma aproximação de coração e mente.        Se o propiciatório fosse objeto material como um objeto de madeira,        de pedra ou de ouro, então a aproximação do mesmo seria        física. Nós nos achegamos a Cristo, o verdadeiro propiciatório,        quando olhamos para Ele e nEle confiamos para sermos aceitos por Deus.      
Tememos que muitos estejam esperando pela misericórdia geral de        Deus à parte de Cristo. Eles raciocinam que Deus é misericordioso        demais para mandar alguém ao inferno. Esta foi a maior esperança        que este autor sentiu por algum tempo, mas ele chegou a conclusão        que ela era uma esperança falsa. Um evangelista visitou certa vez        um homem doente com a esperança de levá-lo a Cristo. Mas o        homem era indiferente, dizendo que não temia, pois estava dependendo        dum Deus misericordioso e dizia que tal Deus não o mandaria ao inferno.        O pregador saiu com coração entristecido. Alguns dias depois,        o mesmo doente mandou chamar o pastor, que chegando, encontrou o homem muito        perturbado. O doente então disse: "Tenho dependido da misericórdia        de Deus, mas há pouco surgiu-me a idéia que Deus é        tão justo, quanto misericordioso, e se Ele tratar comigo com justiça        em lugar de misericórdia, por certo serei condenado pelos meus pecados.        Ó, diga-me como poderei estar certo que ele tratará comigo        em misericórdia"! Então o pastor apresentou Cristo como a        única propiciação. Todo aquele que não confiar        em Jesus Cristo certamente será tratado com a inflexível justiça        divina... recebendo o que merece como rebeldes contra Deus. .Pois Deus,        fora de Jesus Cristo é fogo consumidor.      
"Crime repetido desperta temor, como a reta justiça também;        mas na face de Cristo, o Salvador, há mercê, pois, aqui e além".              
Revisão 2004: David A Zuhars Jr
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