Quase toda pessoa que professa ser crente, crê que a salvação        é pela graça. É difícil encontrar um crente        de qualquer denominação que negue que a salvação        seja pela graça. A Bíblia declara tantas vezes e com tanta        firmeza que a salvação é obra da graça, que        poucos são os que abertamente negarão tal fato. Mas o problema        é que muitos falam da graça de maneira a frustrá-la.        A graça de que falam e pensam não é nem sequer mesmo        graça. Pois ela se confunde de tal modo com as obras e os méritos        humanos que não resta que seja realmente graça. Romanos 11:6.        Na literatura católica romana fala-se tanto na graça quanto        na literatura batista, mas existe uma grande diferença no que cada        um destes dois grupos quer dizer quando usa este termo. Nos capítulos        precedentes, tentamos definir a graça, seu domínio, o que        oferece; e neste capítulo tentaremos mostrar:      
COMO A GRAÇA SALVA      
Antes de chegarmos diretamente à questão, firmaremos alguns        fundamentos dos quais começaremos nossa argumentação:      
1. A salvação pela graça destrói toda a possibilidade        para a vanglória. Nenhum homem entende verdadeiramente o que é        graça, se se gabar de qualquer coisa que fez ou pode fazer como base        da sua salvação. Se sua idéia da salvação        permite que se vanglorie, pode ter certeza de que está errada. Nenhum        homem pode nem mesmo se vangloriar de seu arrependimento e fé, pois        ambos são dons da graça de Deus. Veja Atos 5:31; 11:18, I        Coríntios 3:5; Efésios 1:19; João 5:4. Toda graça        é fruto do Espírito. Gálatas 5:22-23.      
2. A salvação pela graça significa que Deus terá        todo o louvor pela nossa salvação. O Pai tem todo o louvor        por haver dado o Salvador; o Filho terá todo o louvor por haver executado        a obra da salvação; e o Espírito Santo terá        todo o louvor por haver efetuado a salvação em nós        por nos convencer do nosso pecado e nos levar à fé no Senhor        Jesus Cristo.      
3. A salvação pela graça não é uma licença        para pecarmos. Existem dois perigos concernentes à graça:        o primeiro é de frustrá-la, e o segundo é de abusar        dela. Frustramos a graça quando ensinamos que a retidão vem        ao guardar a lei. Gálatas 2:21. Abusamos da graça quando a        usamos para justificar uma vida de pecado. O primeiro desconsidera a graça        e o segundo usa a graça erradamente.      
Aquele que justifica seu pecado ao dizer que está debaixo da graça        e não da lei, não conhece, na verdade, a graça de Deus.        O filho da graça despreza o pecado e luta contra ele, e quando cai        em pecado, confessa seu pecado e deixa-o. Isto é, o pecado não        é o costume nem a prática de sua vida. Não há        pecado que ele abrace nem leve à glória consigo. Não        há pecado que seja como o açúcar é para o paladar.        O homem da graça não se orgulha de não estar em pecado,        nem se justifica quando cai em pecado.      
Ao abordamos a questão:      
COMO A GRAÇA SALVA?      
Vamos fazê-lo de modo negativo.      
1. A graça não salva ao capacitar o pecador para cumprir        perfeitamente a lei de Deus. É nosso julgamento que muitos vêem        a graça de tal maneira. Eles dizem que o homem por si mesmo não        é capaz de cumprir a lei, mas que a graça o capacita a cumpri-la,        desta maneira salvando o homem. Para serem lógicos e coerentes, e        darem lugar à graça, esta deve ser a posição        de todos os que pregam a salvação ao cumprir a lei. Admitimos        que se Deus apagasse todo vestígio de nossa natureza pecaminosa,        e se Ele nos fizesse capazes de cumprirmos a lei, isto seria graça        sem dúvida... seria um favor de Deus, não merecido. Seria        graça pois estaria fazendo por nós o que não merecemos.        Mas este não é o modo como a graça opera, e, portanto        expressamos as nossas objeções:      
A. Isto não satisfaria a justiça pelos pecados já        antes cometidos. Deus é justo, além de gracioso e a graça        nunca vai contra a justiça. Mesmo se o pecador deixasse completamente        de pecar, a justiça o condenaria pelos pecados já antes cometidos.      
B. Isto roubaria de Cristo qualquer parte na salvação. Se        a graça nos salvasse ao fazer de nós seres perfeitos, isto        seria só pela graça, mas à parte de Jesus Cristo, pois        "... se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu        debalde". Gálatas 2:21.      
C. Se a graça nos salva ao nos capacitar para cumprir a lei, então        o Espírito Santo seria o Salvador e não Cristo. O Espírito        Santo é o administrador da graça interior; é pelo Seu        poder que louvamos e servimos a Deus. O Espírito Santo pela Palavra        nos mostra o Salvador, e torna-O precioso a nós, mas a Espírito        Santo não é o Salvador. Ao anunciar o nascimento do Salvador,        o anjo disse: "Chamarás o seu nome JESUS, porque ele salvará        o seu povo dos seus pecados". Mateus 1:21.      
D. No novo nascimento a natureza pecaminosa não é aniquilada,        mas uma natureza sem pecado é implantada. No homem salvo, há        um conflito entre as duas naturezas: "Porque a carne cobiça contra        o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se        um ao outro, para que não façais o que quereis". Gálatas        5:17. E Paulo disse: "Acho então esta lei em mim; que, quando quero        fazer o bem, o mal está comigo". Romanos 7:21. E este é o        testemunho de todo filho verdadeiramente nascido de Deus, pois "Se dissermos        que não temos pecado, enganamos-nos a nós mesmo, e a verdade        não está em nós". 1 João 1:8.      
2. A graça não salva ao fechar os olhos ao pecado. Se Deus        não levasse em conta nossos pecados, isto certamente seria graça,        mas ao fazer isso, Ele estaria abdicando Seu trono em favor de Seus inimigos.        Nosso pecado merece punição, mas se Deus virasse as costas        e não olhasse para nosso pecado, isto seria, em efeito, graça...        um favor de Deus jamais merecido. Mas a graça não salva deste        modo por várias razões:      
A. Porque ela o faria às custas da justiça. Não pode        haver sacrifício da justiça no ato da salvação.        O pecado tem que ser, e será punido. Se Deus virasse as costas ao        pecado isto seria graça, mas ao mesmo tempo seria injustiça.      
B. Não haveria necessidade para a vinda de Cristo, nem de Sua morte        no Calvário. Há perdão com Deus, mas está baseado        na justiça satisfeita. A graça salva ao satisfazer a justiça.        "Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão        de ofensas, segundo as riquezas da sua graça". Efésios 1:7.      
C. Isto faria o homem amar um atributo de Deus e desprezar o outro. Se        a graça salva à parte de sua satisfação da justiça        divina, o pecador naturalmente admiraria a graça de Deus, e ao mesmo        tempo desprezaria Sua justiça. Ao lidar com os pecadores desta maneira,        Deus estaria premiando o pecado. Nós pouco honraríamos um        juiz humano que virasse as costas aos crimes de um homem e o deixasse escapar.        Tal juiz seria desprezado e despedido. Procedimentos assim seriam um convite        aberto para todos cometerem todos os crimes que desejassem, pois não        seriam vistos pela lei, e mal algum aconteceria ao criminoso. Gostaria,        prezado leitor, de viver em tal país?      
3. A graça não salva ao dar ordenanças que devemos        obedecer. As ordenanças e cerimônias de Cristo são para        os que já são salvos. Elas são declarativas e simbólicas;        não salvadoras nem sacramentais. Elas são para os santos e        não para o mundo. As mais terríveis heresias apareceram de        idéias errôneas a respeito das ordenanças. Milhares        de vidas se perderam no decorrer da história por não haverem        se submetido à tais conceitos falsos. Cito dum artigo sobre "Os sacramentos"        do Livro de Missas da Igreja Católica Romana, publicado pela editora        "Paulinas", de Nova York:      
"Os sacramentos são meios comuns pelos quais a graça de Deus        é trazida à alma duma pessoa. Dependemos da graça de        Deus não só para alcançarmos o céu após        a morte, mas para viver uma vida agradável a Deus na terra. O que        os ventos fazem para o barco, é o que a graça faz para a alma".      
"Os sacramentos são sete maneiras diferentes pelas quais diversas        graças especiais são aplicadas a nossa alma. Todas foram instituídas        por Cristo. Pela Sua morte no Calvário, nosso Senhor criou um grande        reservatório de graça. Deste reservatório existem sete        canais, cada um transportando uma qualidade especial, e quando necessitamos        de certo tipo de ajuda divina, vamos ao sacramento que o oferece. O batismo        regenera a alma e nos faz filhos de Deus. Ele tem o efeito de lavar o pecado        com que nascemos, como também outro pecado qualquer que cometemos.        A confirmação fortalece a alma, a fim de capacitá-la        a lutar valorosamente. A Santa Eucaristia, sendo o próprio Cristo,        o pão vivo, é o alimento e a nutrição da alma.        A penitência nos traz o perdão de Deus. A Extrema Unção,        dá-nos a graça para morrermos bem. O Santo Clero eleva os        homens à dignidade do serviço de Deus e lhes dá a força        para perseverarem. O Matrimônio dá graça aos cônjuges        para se amarem e para criarem filhos na graça e no conhecimento de        Deus. Através de toda a nossa vida, os sacramentos oferecem nutrição        espiritual, sem a qual é impossível merecermos a alegria e        a glória que Deus preparou para nós no céu".      
Que estranha mistura de verdade e erro! Que frustração da        verdadeira graça de Deus! Que caricatura da verdade! O artigo fala        da graça que nos capacita a merecer a alegria e glória do        céu. Merecer algo é ter mérito ou ganhar algo através        de dádivas, e o que ganhamos por débitos não pode ser        recebido pela graça. Romanos 4:4. A Bíblia nos diz que a salvação        é pela fé, para que ela seja pela "graça". Romanos        4:16. A Bíblia diz: "pela graça sois salvos por meio da fé".        Efésios 2:8. Mas este artigo nem sequer mencionou a palavra fé.      
Agora tentaremos dar uma resposta positiva à nossa pergunta: "Como        a graça salva?" Qual o modo de operar da graça? O que faz        a graça na obra de salvação?      
1. A graça salva da culpa e da pena do pecado ao colocá-las        sobre Cristo. A graça salva ao punir a Cristo no lugar do pecador.        Ele nos limpou da nossa culpa ao Se sacrificar. Hebreus 9:26. Ele levou        nossos pecados sobre Seu próprio corpo no madeiro. 1 Pedro 2:24.        Ele morreu como o Justo pelo injusto para que nos levasse a Deus, isto é,        ao Seu favor. 1 Pedro 3:18.      
A justiça diz que meus pecados devem ser punidos, e eles foram punidos        em meu Penhor, o Senhor Jesus Cristo, o Penhor do novo concerto. Hebreus        9:22. Foi por graça incomparável que o Senhor Jesus liquidou        nosso débito do pecado, e é Ele que terá todo o louvor.      
"Graça" clamou Spurgeon, "é tudo por nada; Cristo de graça,        perdão de graça, céu de graça".      
2. A graça nos salva do amor ao pecado e dum entendimento obscurecido.        Isto pode ser chamado de salvação interior e é obra        do Espírito Santo em nós. Nesta obra o Espírito Santo        abre os olhos cegos para que vejam a verdade do Evangelho. Paulo disse que        seu Evangelho estava escondido dos olhos do pecador, pois suas mentes estavam        obscurecidas. 1 Coríntios 4:4. A morte de Cristo não beneficia        o homem que vive e morre sem fé nela. E todos nós estaríamos        em tal condição, se não fosse a obra da regeneração        e da iluminação do Espírito Santo. As verdades espirituais        são loucura para o homem natural, mesmo que ele seja um professor        universitário, e ninguém pode fazer do homem natural um homem        espiritual a não ser o Espírito Santo.      
Por natureza e por educação, Saulo de Tarso era um fariseu        orgulhoso, perseguidor e de retidão própria, mas a graça        operou nele as graças do arrependimento e fé. Foi a graça        que o fez repugnar a si mesmo e amar a Cristo. Ele tinha dependido de seus        ancestrais hebreus, do rito da circuncisão, da ortodoxia dos fariseus,        do seu zelo como um patriota perseguidor e da sua lei de justiça;        mas quando a graça lhe revelou Cristo em todo Seu valor, ele considerou        todas estas coisas como "esterco", regozijando-se na justiça que        vem pela fé em Jesus Cristo. Filipenses 3:l-9.      
A conversão é obra do Espírito Santo e Sua obra em        nós é tanto pela graça quanto foi a obra redentora        de Cristo na cruz. Cristo liquidou nossa dívida do pecado com Sua        morte; o Espírito Santo nos trouxe a convicção do pecado        e fé no sangue de Cristo como o único remédio para        o pecado. "Graça", disse Surgeon, "é a estrela matutina e        vespertina de nossa experiência. A graça nos coloca no caminho,        ajuda no caminho, e nos leva até o fim do caminho".      
Revisão 2004: David A Zuhars Jr
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