É  unicamente o Espírito que nos capacita a "interpretar" esta Palavra. É  inteiramente obra do Espírito. Tudo quanto está ligado a esta Palavra é  sempre resultado da operação do Espírito, do princípio ao fim. Por mais  capaz que um homem seja no sentido natural, essa capacidade não o ajuda a  interpretar as Escrituras. Ele pode ser um gênio, ou um grande erudito,  mas isso não o ajudará aqui. A verdade "se discerne espiritualmente".  Deve ser interpretada de maneira espiritual. E nada pode habilitar-nos a  fazê-lo independentemente do Espírito de Deus-e nem pessoa alguma.  Assim, ao longo de toda a linha, vemos que a nossa arma é "a espada do  Espírito".
Finalmente  – e esta é, talvez, a consideração predominante na mente do apóstolo  quando ele escreveu as palavras - é unicamente o Espírito Santo que nos  capacita a usar apropriadamente esta Palavra. E, como o apóstolo está  preocupado com a maneira prática de combater o inimigo, repeli-lo e  fazê-lo fugir, evidentemente é isso que ocupa lugar predominante em sua  mente. Uma coisa é conhecer o conteúdo deste livro; é coisa muito  diferente saber usá-lo direito. Somente o Espírito Santo pode  capacitar-nos a fazê-lo.
A  relação entre o Espírito e a Palavra é da maior importância. O não  reconhecimento disso explica a ocorrência de tantas dificuldades na  longa história da Igreja Cristã. A tendência geral é sempre dar ênfase  exclusi¬vamente a um ou ao outro lado. No momento em que vocês separarem  o Espírito e a Palavra, terão problema. Há alguns que dizem que, tendo a  iluminação do Espírito, você não tem nenhuma necessidade da Palavra.  Essa foi a tragédia dos quacres. George Fox começou com o equilíbrio  certo, porém com o tempo foi se inclinando a dar cada vez menos atenção à  Palavra, e cada vez mais à "luz interior", à iluminação do Espírito, à  mensagem recebida direta, imediatamente. Por isso a tradução da Nova  Bíblia Inglesa, assim chamada, é tão perigosa. Ela substitui "que é a  palavra de Deus" por "palavras que vêm de Deus", exatamente aquilo que  os fanáticos sempre afirmaram. Os "entusiastas", os fanáticos, sempre  basearam toda a sua posição nisso.
Mas  depois existe a outra tendência, no outro extremo, de desacreditar o  Espírito e dizer que, desde que tenhamos a Bíblia aberta e a Palavra  diante de nós, e desde que a conheçamos num sentido mecânico, não  precisaremos de mais nada. Assim o Espírito é esquecido, e se pode ter  uma ortodoxia morta, ou um conhecimento meramente intelectual e mecânico  das Escrituras, que não capacita ninguém a pelejar no combate contra o  diabo, os principados e as potestades. O Espírito e a Palavra têm que  ser mantidos sempre juntos. O Espírito nos muniu da instrução que se  acha na Palavra, porém não podemos usá-la sem Ele. Ela pode ser letra  morta para nós: "a letra mata e o espírito vivifica" (2 Coríntios 3:6). O  que é necessário é o Espírito abrir a Palavra, abrir a minha mente e  abrir o meu coração. Desde que vocês mantenham os dois juntos, como o  apóstolo faz aqui, vocês não terão como errar; entretanto, se os  separarem, o diabo já terá "dividido para poder vencer", por assim  dizer. E, como digo, ele fez isso muitas vezes na longa história da  Igreja Cristã.
O  erro entra de muitas maneiras, mas agora estamos particularmente  interessados no ataque geral contra a "verdade". Já consideramos ataques  específicos sob outros títulos. O inimigo faz este ataque geral de  muitas maneiras. Ele o faz por meio da filosofia, que sempre foi inimiga  da verdade, desde o princípio. Uma das primeiras batalhas que a Igreja  Cristã teve que travar foi contra a filosofia grega. Quando o evangelho  veio para a Europa, primeiro veio para a Grécia, onde havia uma grande  tradição filosófica, a perspectiva segundo a qual o homem, buscando a  Deus, poderá encontrá-lo, o homem pode chegar à verdade graças à  meditação e ao efetivo desenvolvimento das suas teorias. Houve um grande  combate nos primeiros séculos entre a Igreja Cristã e o sutil ataque  oriundo da filosofia. Continuamos tendo esse combate, é claro, e talvez  mais do que nunca.
Fazendo  parelha com a filosofia, há o que geralmente chamam "conhecimento" -  qualquer conhecimento que o homem tenha. O conhecimento "científico" em  particular. E em termos do conhecimento moderno, dos últimos avanços do  conhecimento, especialmente do conhecimento científico, que muitos  rejeitam o cristianismo. O único modo pelo qual podemos repelir este  ataque particular é empunhar e brandir "a espada do Espírito, que é a  Palavra de Deus". Não há outro meio de defesa. Foi o que o nosso Senhor  fez. Devemos seguir os Seus passos em todas as questões; e nas páginas  dos quatro Evangelhos vocês verão que o nosso Senhor fez isso  repetidamente. Aqueles homens inteligentes, fariseus, escribas, doutores  da lei, vinham com as suas perguntas capciosas, dizendo a si mesmos:  "Quem é este sujeito? Ele nunca foi instruído como fariseu, é um simples  carpinteiro, nunca foi às escolas, que é que Ele sabe?" E assim traziam  as suas perguntas espertas. Eles eram peritos nos pormenores e minúcias  da lei. Eram grandes eruditos, e assim vinham com toda a sua erudição, e  pensavam que podiam apanhá-lo e pôr um fim no Seu ministério. Ele  sempre os enfrentou da maneira que já O vimos fazer na tentação no  deserto.
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