Os  jardineiros estão em constante guerra com as ervas daninhas. O pior  tipo dessas ervas é aquele que se espalha por baixo da terra, criando  uma série de raízes embaraçadas, de onde brotam as plantas por toda  parte. O sistema de raízes do pecado produz pecados específicos como  seus brotos de uma maneira semelhante. Um pecado reforçará o outro,  estando ligado a outro sob a superfície. Assim, o ciúme e a ambição se  reforçarão mutuamente; o mesmo acontecerá com a luxúria, o orgulho e a  ira; a avareza e a indolência fortalecerão as tendências de acabar com  os padrões morais que, por sua vez, reforçarão a avareza e a indolência;  e assim por diante.
O  auto-conhecimento - que se expande e estende à medida que caminhamos  com Deus, manifesta-se debaixo da pregação e ensino de sua Palavra e  vive em sincera comunhão com seus santos - irá freqüentemente nos  confrontar com ligações deste tipo dentro de nós. Isto força cada um de  nós a entender que, como certa vez me disse um cristão veterano, "vejo  que tenho algo do que me arrepen¬der". (Ele, então, saiu por uma hora, e  fez o que havia dito). Descobrir as raízes embaraçadas e identificar os  elementos perniciosos de nossas motivações prova ser, na prática, uma  tarefa que não tem fim.
Como  aqueles que estudam piano precisam estar constantemente exercitando sua  habilidade com uma série ampla de exercícios destinados a resolver  problemas específicos e aumentar a capacidade dos dedos, nós, alunos da  escola da santidade de Cristo, temos de continuar nos arrependendo, uma  vez que uma fraqueza após outra e falta após outra em nosso sistema  moral e espiritual se tornam evidentes para nós. O que o Livro Anglicano  de Oração chama de "arrependimento do coração [no sentido de sincero]"  é, como vimos, a dimensão de crescimento para baixo no processo da  santificação. O crescimento em santidade não pode continuar onde não  acontece o arrependimento do coração.
Esta  é uma maneira de dizer que a conversão deve ser contínua. Por mais de  três séculos, os protestantes compararam a conversão ao que o Catecismo Menor de Westminster chama de "arrependimento para a vida"  - "uma graça salvadora, pela qual o pecador, tendo uma verdadeira  consciência de seu pecado e percepção da misericórdia de Deus em Cristo,  se enche de tristeza e de aversão por seus pecados, abandona-os e  volta-se para Deus, totalmente determinado a prestar-lhe nova  obediência".  Para muitos cristãos, existe este  momento de conversão consciente, e esta experiência da conversão  "súbita" é uma grande bênção. Todos nós precisamos ter uma forma de  entrar para um estado de conversão, na qual nenhum de nós pode encontrar  por natureza. É uma alegria poder lembrar como aconteceu a nossa  entrada para este estado.
Mas  existe outra coisa: após "o primeiro instante em que cri", a conversão  deve tornar-se um processo de vida. Neste ponto de vista, a conversão  foi definida como uma questão de dar o máximo que se conhece de si  mesmo, ao máximo que se conhece de Deus. Isto significa que o nosso  conhecimento de Deus e de nós mesmos cresce (e ambos crescem juntos),  assim a nossa conversão precisa ser constantemente repetida e ampliada.
Pensar  nestes termos é entender a ideologia de João Calvino, que se refe¬riu  explicitamente à "conversão súbita" (súbita conversió) como um meio pelo  qual Deus "subjugou e fez com que fosse ensinado" seu coração  endurecido e deu-lhe "certa prova e conhecimento da verdadeira  divindade", e que também em seu livro Institutes of the Christian Religion  estabelece um conceito de conversão como a prática do arrependimento  ativo por toda a vida, o fruto da fé, que brota de um coração renovado.
A  conversão a Deus como um todo é entendida sob o termo "arrependimento"  (...) O termo no hebraico para "arrependimento" deriva-se de conversão  ou retorno; no grego, de mente e propósito: e a questão em si se  enquadra em cada derivação, pois sua essência é que, em desviando-nos de  nós mesmos, nós nos voltamos para Deus, e em desfazendo-nos da nossa  velha mente, nós recebemos uma nova. Assim, penso que o arrependimento  pode ser bem definido como uma verdadeira conversão da nossa vida para  Deus, resultando em um temor puro e sincero dele, e consistindo na  mortificação de nossa carne e do velho homem, e na vivificação do  Espírito.
É isso mesmo!
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