Em  1738, Edwards pregou uma série de mensagens sobre 1  Coríntios 13, publicada posteriormente com o título Charity  and Its Fruits. Seu sermão sobre o versículo 5 - "[o amor] não procura os seus  interesses" - é chamado "O espírito da caridade, o oposto de um espírito  egoísta". Nele, Edwards apresenta o seu diagnóstico do coração humano.  Tudo começou na queda do homem em pecado no jardim do Éden:
A ruína  que a Queda provocou na alma do homem consiste, em grande parte, no fato de que ele perdeu os princípios mais  nobres e amplos, sendo subjugado  inteiramente pelo governo do amor-próprio ... Logo depois da Queda, a mente do homem se reduziu em  relação à sua grandeza e extensão  primitivas, tornando-se extremamente pequena e  limitada ... enquanto, em outros tempos, sua alma se encontrava sob o governo do princípio nobre do amor divino pelo  qual era, por assim dizer, expandida para ter um tipo de compreensão de  todas as outras criaturas; e não  apenas isso, mas também ... estendida até o Criador,  e dispersada amplamente naquele oceano infinito ... Porém, assim que foi cometida a transgressão, esses  princípios nobres se perderam  imediatamente e toda a amplitude excelente da alma humana desapareceu e, daí por diante, se reduziu até um  ponto minúsculo, limitado e preso em si  mesmo, excluindo todo o resto. Deus foi abandonado,  as outras criaturas foram abandonadas e o homem se retraiu e passou a ser inteiramente governado por  princípios restritos e egoístas. O amor-próprio se tornou o senhor  absoluto de sua alma, depois que os  princípios mais nobres e espirituais pressentiram o perigo e  fugiram.
O  mais importante para os nossos propósitos é que, na Queda, ou  seja, no pecado original, o coração humano sofreu uma  redução; ele se contraiu e se tornou "extremamente  pequeno e limitado"; abandonou a Deus e passou a  ser escravo de um amor-próprio individualista, restrito e confinado.  Esse é 0     grande problema do cristão - seja ele moderno ou  antigo - e sua vida
pública. Amamos a nós mesmos de modo estreito e limitado e somos
indiferentes aos outros, à sociedade, às nações e a Deus.
pública. Amamos a nós mesmos de modo estreito e limitado e somos
indiferentes aos outros, à sociedade, às nações e a Deus.
.    O hedonismo cristão pode sobreviver à  acusação de Edwards de amor-próprio?
Isso  dá origem a uma questão - um problema para alguém  como eu -, que  gosta de usar a expressão "hedonismo cristão" para descrever a obediência bíblica e a teologia de  Jonathan Edwards. O hedonismo cristão sugere que toda verdadeira  adoração e virtude envolve a busca pelo prazer supremo - o que  parece muito uma forma de amor-próprio.
Até  mesmo o título deste capítulo levanta essa questão com as palavras "O prazer em Deus e a  transformação cultural". A expressão "prazer em Deus" parece confundir as coisas,  deixando implícito que devo buscar algum prazer para mim mesmo, quando Edwards  diz que a essência da depravação humana é escravidão ao  "amor-próprio". Se encararmos esse problema, chegaremos bem perto do  cerne da ética de Edwards e veremos como é uma pessoa de espírito  público autêntico.
O uso negativo da expressão "amor-próprio" -  Egoísmo estreito
A  primeira coisa a dizer é que Edwards usa o termo  "amor-próprio" de  duas maneiras bastante diferentes, uma negativa e outra neutra. O uso negativo é o mais freqüente. Em suas  palavras: "O amor-próprio, conforme essa expressão é usada  coloquialmente, significa, em geral, a deferência do homem pelo seu eu privado, ou o  amor por si mesmo visando ao seu interesse privado"} E  isso o que Edwards quer dizer com "amor-próprio" ao diagnosticar a  nossa depravação.
Trata-se de um termo  praticamente sinônimo de egoísmo. De acordo com  Edwards, as pessoas governadas pelo amor-próprio "colocam a felicidade em  boas coisas que são restritas ou limitadas a elas, e que excluem  outros. E isso é egoísmo. E a isso que se relaciona mais  diretamente o amor-próprio condenado pelas Escrituras". É o que Paulo tem em  mente ao dizer em 1 Coríntios  13.5: "[o amor] não procura os seus interesses". "Quando se diz que o  amor não procura os seus interesses, deve-se entender que se trata do seu bem privado, o bem  limitado a si mesmo". Em outras palavras, o verdadeiro amor espiritual não é governado por uma busca  estreita, limitada e confinada do próprio prazer.
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