A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO
  Neste capítulo temos referência à santificação do crente. A  aplicação da palavra a outras coisas será referida só para lançar luz  sobre a santificação do crente. 
 I. O SIGNIFICADO DE TERMOS 
  O nome “santificação” é a tradução do grego “hagiasmos”.  O  verbo grego é “hagiazo”. O verbo hebraico correspondente é “quades”.  O  nome grego é usado dez vezes no Novo Testamento. Cinco vezes está  traduzido “santificação” e cinco vezes está traduzido “santidade”. O  verbo grego é empregado vinte e nove vezes no Velho Testamento. Vinte e  seis vezes está traduzido “santificar”.  Duas vezes é traduzido por  “honra”.  Uma vez ocorre voz passiva e está traduzida “sê santo”.  “Hagios” é outra palavra grega derivada de “hagiazo” e está usada tanto  como adjetivo como nome: como adjetivo ocorre noventa e três vezes com  “pneuma” (Espírito)  para designar o Espírito Santo. Em sessenta e oito  outros casos é usado como adjetivo e está traduzido “santo”. Como nome  está traduzido “santíssimo” duas vezes, uma vez como “o mais santo de  todos”, quatro vezes “O Santo”; três vezes “lugar santo”; uma vez “coisa  santa”; três vezes “santuário” e “santo” ou “santos” sessenta e duas  vezes.  
  O Léxico de Thayer define “hagiazo” como significando “dar ou  reconhecer por venerável, honrar, separar de coisas profanas e dedicar a  Deus, consagrar; purificar”,  tanto externamente  - se cerimonialmente  (1 Tim. 4:5; Heb. 9:13) ou por expiação (Heb. 10:10; 13:12) – como  internamente. O significado de “hagiasmo” e “hagios” procede do de  “hagiazo”, segundo o próprio uso deles.  
 II. A SANTIFICAÇÃO PASSADA DOS CRENTES 
  Há um sentido em que o povo salvo já foi santificado. 
 1. REFERÊNCIA ESCRITURÍSTICAS A ISSO  
  Atos 20:32; 26:18; 1 Cor. 1:2; 6:11; 2 Tess. 2:13; Heb. 19:19; 1 Ped. 1:2 
 2.  NATUREZA DISSO 
  A santificação passada do crente é tríplice:  
 (1). Consagração 
  O crente foi consagrado ou dedicado ao serviço de Deus. Temos o  tipo disto na santificação do tabernáculo e do templo com seus  petrechos e equipamentos. Vide Ex. 29:37; 30:25-29; 40:8-11; Lev.  8:10,11; 21:23; 1 Reis 7:51; 2 Cor. 2:4; 5:1; 29:19. A santificação  semelhante àquela que está ora sob consideração pode ser vista em Gên.  3:2; Joel 1:14; Jer. 1:5; João 10:36.  
  Santificação neste sentido é uma separação formal e externa para Deus. Não há pensamento aqui de santidade interna.  
 (2). Purificação legal 
  Esta é a espécie de santificação referida em 1 Cor. 1:30; Efe.  5:26; Heb. 10:10; 13:12. Aos olhos da Lei do Velho Testamento o crente é  santo; porque Cristo, por Sua morte, pagou a penalidade da Lei e, pelo  Seu sangue, lavou toda culpa (1 Cor. 6:11; Gal. 3:13; Apoc. 1:5; 7:14). 
 (3). Purificação moral da alma 
  Noutro capítulo já indicamos que a regeneração remove toda  depravação da alma, ou natureza espiritual do homem, de maneira que o  único pecado que fica no homem é o pecado da natureza carnal, a qual é  muitas vezes referida como corpo. Cremos que esta espécie de  santificação está referida em 2Tess. 2:13 e 1Ped. 1:2, também 1 Cor.  6:11.  
  Tanto quanto diz respeito à remoção da presença do pecado da  alma, o crente tem uma perfeita santificação moral, tanto como uma  perfeita santificação formal e legal. Fica no crente, como veremos, a  necessidade de mais santificação, mas esta não tem que ver com a remoção  do pecado da alma. A alma se faz sem pecado na regeneração e neste  sentido está perfeitamente santificada.  
 3. COMO É ELA REALIZADA 
 (1). Deus, sem dúvida, é o autor dela 
  Ele é o autor de toda a boa coisa. Ele nos elegeu para ela. Ele a ideou e planeou.  
 (2). O Espírito Santo é o Agente de Deus na Realização dela 
  1 Cor. 6:11; 2 Tess. 2:13; 1 Ped. 1:2.  
 (3). A morte de Cristo é à base da obra do Espírito Santo 
  Vide as passagens dadas supra sob purificação legal.  
 (4). A fé é o meio 
  Atos 26:18. A fé é o meio pelo qual a alma se purifica (Atos 15:9; 1 Ped. 1:22).  
 (5). A palavra de Deus é um meio Secundário 
  Isto é verdade porque a “fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rom. 10:17).  
 III. A SANTIFICAÇÃO PRESENTE DO CRENTE 
  Há um sentido em que o crente está sendo santificado.  
 1. REFERÊNCIA DA ESCRITURA A ELA 
  João 17:17,19; Rom. 6:19-22; 15:16; 1 Tess. 5:23; Heb. 2:11;  10:14; 12:14; 1 Ped. 1:15. Alistamos aqui passagens somente em que  “hagiasmos”,  “hagiazo” ou “hagios” aparecem no original. Há muitas  outras passagens que, indiretamente, se referem à santidade presente do  crente. 
 2. COMO É ELA REALIZADA 
 (1). Deus é o autor dela 
  João 17:17; 1 Tess. 5:23. 
 (2). O Espírito Santo é o agente 
  Rom. 15:16. O Espírito Santo realiza a nossa santificação  presente por guiar (Rom. 8:14), transformar (Rom. 12:2; 2 Cor. 2:18),  fortificar (Efe. 3:16), fazer frutífero (Gal. 5:22,23).  
 (3). A morte de Cristo é a base 
  A morte de Cristo provê a base para tudo da obra do Espírito Santo.  
 (4). A palavra de Deus é o Instrumento do Espírito 
  João 17:17. Isto está provado por todas as passagens que  ensinam que a verdade promove obediência, previne e purifica do pecado,  faz-nos odiar o pecado e causa-nos crescer na graça. Vide Salm. 119:9,  11, 34, 43, 44, 50, 93, 104; Heb. 5:12-14; 1 Ped. 2:2.  
 (5). A fé é o meio principal 
  É pela fé que a instrumentalidade da Palavra se faz eficiente. A  fé é ao mesmo tempo o resultado da obra santificadora do Espírito e o  meio principal para Sua obra santificadora ulterior. 
 (6). Nossas próprias obras são também um meio para nossa presente santificação 
  Rom. 6:19. Assim como o exercício físico é necessário ao  crescimento espiritual. O exercício físico desenvolve o apetite para o  alimento, do qual recebemos nutrição que produz crescimento. O exercício  espiritual desenvolve apetite para a Palavra de Deus, do qual recebemos  nutrimento espiritual que produz crescimento na graça.  
 (7). Outros meios menos diretos 
  Entre outros meios menos diretos em nossa presente santificação  nomeiem-se a oração, o ministério ordenado de Deus (Efe. 4:11,12),   freqüência à igreja e associação com crentes em capacidade comunal,  observância das ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor, a observância  do dia do Senhor e o castigo e as providências de Deus.  
  Tudo dessas coisas ajuda para com a nossa presente  santificação, não por causa de qualquer virtude intrínseca de si mesmas,  mas somente como de um ou outro meio, trazem-nos em contacto com a  verdade divina, iluminam nossas mentes em relação a ela e trazem-nos a  uma apreciação mais elevada dela e mais completa obediência a ela. É  somente desta maneira que o batismo e a Ceia do Senhor contribuem para a  nossa presente santificação. Não são sacramentos e muito menos  sacramentos concessores de graças. A graça recebida por meio das  ordenanças não é recebida ex opere operato – do mero ato de observância.   
 3. A NATUREZA DELA 
  É “aquela operação contínua do Espírito Santo, pela qual a  santa disposição comunicada na regeneração é mantida e fortalecida”  (Strong, Systematic Theology, pág. 483).  
 (1). O que ela não é 
  A. Não é um melhoramento da carne 
  Nossa presente santificação inclui o corpo (1 Tes. 5:23), mas  não tanto assim que altere essencialmente a pecaminosidade da carne. A  carne cobiça contra o Espírito (Gal. 5:17). Mesmo num soldado da cruz  idoso e sasonado, como foi o apóstolo Paulo, vemos que a carne estava  ainda inalterada (Rom. 7:14-24). O corpo está incluído em que á alma,  por meio da santificação, se dá maior controle sobre ele e assim está  guardado, até certo ponto, de atos ostensivos de pecado; mas sua  pecaminosidade essencial está latente.  
  B. Não é uma eliminação gradual de pecado na alma.  
  Como já notamos, a alma se torna impoluta na regeneração e se  une com o Espírito Santo. Nenhum pecado fica na alma, portanto, a ser  eliminado por nossa presente santificação.  
 (2). O que ela é 
  A. É uma manutenção progressiva e fortalecimento da alma em santidade. 
  Por meio de nossa presente santificação nossas almas são  confirmadas em santidade. Santo foi Adão na criação, mas não foi  confirmado em santidade. A natureza progressiva de nossa presente  santificação está bem implicada em Heb. 2:11 e 10:14, onde está  empregado o particípio presente, que sempre denota ação progressiva. 
  B. É inteiramente interna 
  Nossa santificação passada é em parte externa, mas a presente é inteiramente interna.  
  C. É prática. 
  Conquanto seja interna, contudo ela se manifesta externamente em vida prática cristã.  
  D. É experimental 
  Nossa santificação passada pode ser só muito escuramente  experiêncial no tempo em que ela ocorre, mas a presente é  definitivamente experiencial. O crente sente e conhece o trabalhar do  Espírito no seu coração, fortalecendo-o, transformando-o de graça em  graça (2 Cor. 3:18), movendo-o à oração, aos estudo da Bíblia e outros  exercícios e atividades cristãs. E esta obra do Espírito no crente é a  fonte de sua firmeza. É deste modo que o Espírito testemunha com os  nossos espíritos que somos filhos de Deus (Rom. 8:18).  
  E. É sempre incompleta nesta vida.  
  A nova vida jamais ganha perfeito controle sobre a natureza carnal; Isto nos leva a considerar:  
 IV. REFUTADA A DOUTRINA DE PERFEIÇÃO SEM PECADO 
  Um estudo da doutrina bíblica de santificação não é completo  sem uma consideração do ensino que a impecabilidade é inatingível nesta  vida. Urgimos sobre o seguinte:  
 1. OBJEÇÕES A ESTA DOUTRINA 
 (1). O apóstolo Paulo, a quem Deus estabeleceu como um exemplo  humano para crentes (1 Tim. 1:16) e em cuja vida não estamos certos de  se ver qualquer falta, não teve, mesmo na velhice, alcançada perfeição  impecável. 
  É isto evidente de Rom. 7:14-24. Absurdo é referir isto a Paulo  antes da regeneração. No décimo quarto versículo há significativa  mudança  do tempo passado para o presente. Fazer os versos além do  décimo quarto referir-se à vida de Paulo antes da regeneração é fazer  deles uma monstruosidade gramatical. A última parte do verso vigésimo  quinto mostra que a vitória sobre o pecado por meio de Jesus Cristo não  tem lugar nesta vida. Isto também está patente em Rom. 8:23-25. A  vitória vem somente com a redenção do corpo, a qual terá logar na  ressurreição.  
  Outra vez, a linguagem de Rom. 7:14-24 mostra que ela se refere  a um homem salvo. “Nenhum homem irregenerado pode verdadeiramente  dizer: “Eu consinto com a Lei, que é boa”;  “Querer estar presente  comigo”; “Porque me deleito na Lei de Deus segundo o homem interior”;  “Assim então, com a mente eu mesmo sirvo à Lei de Deus” (Pendleton,  Chistian Doctrines, pág. 301).  
  A idéia que em Rom. 7 temos a experiência de Paulo depois de  ter sido salvo, mas antes santificado, enquanto que em Rom. 8 temos sua  experiência depois de ter sido santificado, é também absurda. Como temos  apontado, o capítulo oitavo de Romanos não ensina a perfeição impecável  mais do que o capítulo sétimo. No oitavo Paulo ensina que os crentes  ainda gemem debaixo da pecaminosidade do corpo e estão esperando pela  sua redenção (vs. 23), sendo salvos pela esperança (vs. 24,25). Toda a  prosa do crente: na sua experiência, safando-se do capítulo sétimo de  Romanos para o oitavo, não tem sentido. Todo crente vive toda a sua vida  em ambos os capítulos, que ambos são só parte de um discurso ligado. “O  portanto” do verso 1 do capítulo 8 dirige-nos de volta à última parte  do capítulo sétimo como base do que está dito no oitavo.  
  A epístola aos romanos foi escrita antes da viagem de Paulo a  Roma. Depois de ter sido levado a Roma, enquanto prisioneiro lá,  escreveu algumas epístolas.Uma delas é a epístola aos filipenses. Nesta  epístola Paulo ainda renuncia à perfeição absoluta. Disse ele que não se  considerou como já a tendo atingido. Fil. 3:12.  
 (2). O modelo de oração dado por Cristo aos Seus discípulos implica pecaminosidade contínua por parte do povo salvo.  
  Como é bem sabido, Cristo ensinou Seus discípulos a confessar  os seus pecados na oração modelo. Nem Ele em qualquer tempo ou de  qualquer modo insinuou ou implicou que havia um tempo quando eles  poderiam apropriadamente dispensar esta confissão do pecado e petição de  perdão.  
 (3). O fato que todos entre os filhos de Deus são castigados por Ele mostra que todos eles pecam (Heb. 12:5-8).  
  “Se estais sem castigo, do qual todos são feitos participantes,  então sois bastardos e não filhos” (Heb. 12:8). Não pode haver castigo  sem pecado. Deus podia tratar-nos de um modo providencial, se fossemos  perfeitos, mas os Seus tratos não poderiam chamar-se castigo.  
 (4). Tiago declara que todos pecam. 
  “Todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tia. 3:2).  
 (5). João declara que quem professa impecabilidade está enganado. 
  “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e  a verdade não está em nós” (1 João 1:8). “Nós” – certamente se refere a  crentes. E o tempo presente mostra que a passagem se refere, não a uma  negação de pecado anterior senão a uma negação de pecado atual. E esta  passagem nos diz que os professantes da perfeição impecável estão  auto-iludidos. Estão enganados pelo menos sobre quatro coisas, a saber:  
  A. A natureza da Lei de Deus (a Lei de Cristo – 1 Cor. 9:21) para crentes. 
  Em vez de verem a Lei de Deus para crentes como um transcrito  de Sua santidade, um padrão perfeito de justiça, vêem-na como uma  balança móvel que se acomoda à nossa habilidade. “Esta idéia reduz  a  divina à habilidade do devedor para pagar,- método breve de se  desincumbirem obrigações. Posso saltar a torre de uma igreja, se me for  permitido fazer uma torre de igreja bem baixa; posso tocar as estrelas,  se as estrelas baixarem somente à minha mão.” (Strong).  
  B. O escôpo do pecado.  
  Queriam que crêssemos que as transgressões “involuntárias” não  são pecados. John Wesley, um dos mais proeminentes advogados da doutrina  de perfeição impecável nesta vida , disse: “Creio que uma pessoa cheia  do amor de Deus ainda está sujeita a transgressões involuntárias. Tais  transgressões podeis chamar pecados, se vos apraz; eu não.”  
  Meios involuntários:  “1. Contrário a vontade ou desejo de  alguém. 2. Não sob o controle da vontade.” Como aplicada a atos morais, a  palavra deve ter o primeiro sentido. O segundo sentido aplica-se  somente a tais coisas como a digestão, o bater do coração e outras  funções naturais do corpo. E o significado da vontade ou desejo na  primeira definição deve ser entendido no sentido restrito do teor normal  da vontade. No sentido lato ninguém nunca age contra sua vontade ou  desejo, exceto quando sobrepujado pela força física. Nenhuma pessoa  salva quer normalmente zangar-se e falar palavras ferinas; mas, sob  sérias provocações, perde-se a calma e diz coisas que não devera ter  dito. São estes atos involuntários, segundo o único sentido em que se  pode aplicar o termo a atos morais. Portanto, conforme com John Wesley e  outros perfeccionistas, estes atos não são pecado. As mesmas coisas  poder ser aplicada ao homicídio de Urias por Davi e ao seu adultério com  Betséba.  
  C. O poder da vontade humana.  
  Afirmar que à vontade, mesmo normalmente, pode escolher a Deus  supremamente em qualquer momento, ou é negar a depravação na natureza  carnal do homem ou implicar que a vontade é uma adesão externa a  natureza do homem antes que uma expressão dela. “Dizer que, o que quer  que tenham sido os hábitos do passado e o que quer que sejam as más  afeições do presente, está o homem perfeitamente apto a obedecer em  qualquer momento à Lei total de Deus, é negar que haja coisas tais como  caráter e depravação.” (Strong).  
  D. Sua própria salvação. 
  Quando João diz: “a verdade não está em nós”,  ele não se  refere à verdade abstrata, mas a “verdade do evangelho, trazendo a luz  de Deus à alma e assim revelando pecados como a luz solar faz ao pó”  (Sawtelle). “A verdade é para ser tomada objetivamente como a verdade  divina em Cristo, o princípio absoluto da vida vindo de Deus e recebido  no coração” (Lange). Este sentido é confirmado pelo verso 10, que diz:  “Se dizemos que não pecamos, fazemo-lo (a Deus) mentiroso e Sua Palavra  não está em nós.” Esta passagem  repete a verdade do verso 8. “As  pessoas supostas como dizendo isto são vistas no ponto quando deveriam  estar oferecendo sua confissão – uma confissão de pecado principiando no  passado e chegando ao presente; daí, o tempo perfeito” (Sawtelle). E as  expressões “a verdade não está em nós” e “Sua Palavra não está em nós”  negam o caráter cristão de todo o professante da perfeição impecável.  Por estas passagens todos eles estão perdidos.  
 2. AS ESCRITURAS EXPLICADAS 
  Assumimos as seguintes passagens da Escritura tidas pelos perfeccionistas impecáveis como prova da sua teoria. 
 (1). As passagens que falam do crente como sendo “perfeito”  
  Referimo-nos aqui a semelhantes passagens como Lucas 6:40; 1  Cor. 2:6; 2 Cor. 13:11; Efe. 4:11; Fili. 3:15; Col. 4:12; 2 Tim. 3:17. 
  A perfeição dessas passagens não é absoluta: é apenas perfeição  relativa. Algumas vezes a palavra “perfeito” refere-se só a maturidade  cristã em contraste com a fraqueza de criancinhas em Cristo. Algumas  vezes quer dizer somente que aqueles a quem descreve estão livres de  qualquer falta grave. Assim nos é dito que Noé era um homem justo e  perfeito” (Gen. 6:9), ainda mesmo bêbedo (Gen. 9:21). E assim se diz que  Jó era perfeito e justo” (Jó 1:1).  
  O emprego da palavra “perfeito” em Fil. 3:15 lança luz  interessante e instrutiva sobre o seu sentido usual na Escritura. No  verso 12, como já notamos, Paulo renuncia à perfeição. Então, no verso  15 ele endereça uma exortação à “tantos quantos são perfeitos”. É  perfeitamente evidente, então, que no verso 12 ele faz referência à  perfeição absoluta, enquanto que no verso 15 ele alude aos que são  relativamente perfeitos ou maduros. E a estes ele exorta a “sentir o  mesmo”. Por isto ele quer dizer que eles devem renunciar à perfeição  absoluta, como ele fez, e prosseguir para coisas mais elevadas. Assim  vemos que “perfeito”,  a luz do significado costumeiro do termo na  Escritura, quando aplicado a crentes, exige que crentes renunciem a  perfeição absoluta e todavia prossigam para coisas mais elevadas. O  indivíduo que professa perfeição impecável e o que não está prosseguindo  para frente não são “perfeitos”.   
 (2). Mat. 5:48 “Vós, portanto, sede perfeitos, assim como o vosso Pai celeste é perfeito.” 
  Nesta passagem Jesus firma para os Seus discípulos o ideal de  perfeição absoluta. Ele não podia ter firmado nada menos do que isto sem  coonestar e encorajar o pecado. Mas não há nada aqui ou em qualquer  outro lugar que implique que os seguidores de Cristo ainda alcancem este  ideal na carne. De fato, é ímpio afirmar que atingem este ideal, pois a  perfeição oferecida é a de Deus mesmo.  
 (3). 1 Tess. 5:23 “E o Deus de paz mesmo voz santifique em tudo e  sejam conservados inteiros vosso espírito e alma e corpo sem mancha na  vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”  
  Esta passagem deve ser entendida à luz da própria experiência  de Paulo e à luz da Escritura como um todo. Se Paulo orou pela completa  santificação dos tessalonicenses nesta vida, então ele orou por algo  para eles que ele mesmo não tinha provado, ou então ele perdeu mais  tarde sua completa santificação; porque, quando ele escreveu aos romanos  muito depois, como temos notado, ele não professou impecabilidade.  
  A santificação porque Paulo orou para que Deus operasse nos  tessalonicenses foi, na verdade, santificação completa, como evidenciado  pela palavra grega “holoteles”; mas ele não indica que é para se  cumprir nesta vida. A Escritura muito definitivamente condena a noção  que Paulo esperou que ela se cumprisse nesta vida. E a menção da vinda  de Cristo sugere que ele contemplou o futuro como o tempo quando sua  oração estava para ter completa resposta. Paulo orou pelo prosseguimento  da santificação progressiva, assim como Cristo orou pelo mesmo para os  Seus discípulos (João 17:17), cuja santificação progressiva resultaria  em completa santificação na segunda vinda de Cristo.  
 (4). 1 João 2:4 “Aquele que diz, eu O conheço e não guarda os Seus mandamentos, é um mentiroso e a verdade não está nele.” 
  Juntamente com esta passagem podemos classificar outras passagens semelhantes tais como João 14:23; Rom. 8:12; 1 João 1:6. 
  Estas passagens fazem referência ao teor geral da vida cristã.  Elas não podem ser tidas como ensinando que quem está salvo guarda os  mandamentos de Deus perfeitamente em qualquer momento, porque outras  passagens o negam.  
  O Rio Mississipi proporciona uma excelente ilustração da vida  cristã. Se se perguntar a alguém para que direção corre esse rio,  responderá que corre na direção sul; mas a matéria de fato é que este  rio algumas vezes corre para leste, outras para oeste e algumas vezes  mesmo corre numa direção norte. Mas, a despeito destes fatos,  prosseguimos dizendo que ele corre para o sul. Assim falamos  porque  consideramos o rio como um todo. Vemos o alvo principal do rio. Assim é  com a vida cristã. Quando é vista como um todo, ou quanto ao seu alvo  principal, percebe-se que é uma vida de justiça; mas a caudal, quanto ao  seu alvo não é tão rápida perto das margens como é  no centro. E nunca  conservará sempre sua direção usual: baterá em obstruções que a  desviarão temporariamente, mas de novo assumirá o seu curso normal no  futuro.  
 (5). 1 João 1:7 “O sangue de Jesus Cristo seu Filho purifica-nos de todo pecado.” 
  Alguns têm a idéia que esta passagem  quer dizer que o sangue  de Jesus Cristo faz-nos impecáveis quanto a estado. Mas não é assim. O  sangue de Jesus Cristo purifica-nos somente quanto à nossa posição  perante Deus. Esta passagem faz referência á justificação e santificação  legais, mas não à santificação progressiva e prática.  
  A necessidade de purificação constante da contaminação  recorrente foi ensinada por Jesus quando Ele lavou os pés dos Seus  discípulos. Ele disse: “O que está banhado não necessita senão de lavar  seus pés, que o mais está todo limpo.” (João  13:10). O restante dessa  passagem “estais limpos, mas não todos”, o qual está explicado no verso  seguinte como querendo dizer: “Não estais todos limpos”, referindo-se a  Judas, mostra que Jesus estava tirando uma analogia entre a purificação  física e a purificação espiritual. Tanto como quem toma banho não  precisaria de lavar-se outra vez, mas de limpar-se do pé nos pés, assim  quem se banhou no sangue de Cristo não o repetirá mas, não obstante,  estará na necessidade diária de se purificar da contaminação que se lhe  adere no seu contato com o mundo. Ele “está todo limpo” quanto à sua  posição perante Deus, mas na precisão de confissão e perdão diários para  que mantenham comunhão com Deus.  
 (6). 1 João 3:9 “Quem é nascido de Deus não peca, porque Sua (de  Deus) semente permanece nele; não pode pecar porque é nascido de Deus.” 
  A respeito dessa passagem, temos o seguinte a dizer:  
  A. Ela se refere ao padrão atual do viver cristão e não a um mero padrão ideal. 
  A passagem fala do que é realmente o cristão na sua conduta e  não meramente de o que devera ser. Isto é evidente do verso seguinte,  que diz: “Nisto (isto é, na sua inabilidade para pecar) os filhos de  Deus são manifestos e os filhos do diabo.”  
  B. Ela se refere ao homem inteiro e não meramente à nova natureza. 
  É evidente que a “semente” nesta passagem se refere à nova  natureza. O grego aqui é “sperma”. Está usada quarenta e quatro vezes no  Novo Testamento, significando quarenta e uma vezes, não semente de  plantio, mas progênie, descendências. Quando a Palavra de Deus é chamada  “semente”, o grego não tem “sperma”, mas “spora” ou “sporos”. Vide  Lucas 8:11; 1 Ped. 1:23.  
  Outra objeção de peso à idéia que “semente” representa aqui a  Palavra de Deus e o “Qualquer que” a nova natureza, é que não é a  Palavra de Deus que faz impossível a nova natureza pecar. É a qualidade  da nova natureza que faz isto impossível. Se a nova natureza fosse  pecaminosa, então a Palavra de Deus não impediria que ela pecasse mais  do que impede a carne de pecar.  
  Thayer faz “semente” nesta passagem referir-se a energia divina  do Espírito Santo operando na alma, pela qual somos regenerados. Mas  isto é uma interpretação puramente arbitrária. Não temos razão para  crermos que tanto o Espírito Santo como Sua energia são referidos ainda  como “sperma”.  
  Portanto, tomando a “semente” como se referindo a nova  natureza, necessariamente interpretamos “qualquer que” como se referindo  ao homem inteiro; porque é “ele”, o homem inteiro, em quem a “semente”,  a nova natureza, permanece, que não pode pecar.  
  C. Ela afirma, não que uma pessoa regenerada não pode cometer  um só pecado, mas que ela não pode seguir um curso contínuo de pecado;  não pode viver em pecado.  
  Adotamos esta interpretação desta passagem pelas seguintes razões:  
 (a). É a única idéia que está em harmonia com o texto. Está  manifesto pelo contexto, como já foi observado, que João falava daquilo  que é exterior e atual, algo que faz uma diferença manifesta em si e de  si. Então, também, esta passagem evidentemente quer dizer a mesma coisa  como os versos seis e oito e, se possível, são menos favoráveis as  outras interpretações.  
 (b). Enquanto é verdade que o homem todo não é nascido de Deus,  todavia, em passagens gerais tais como a que ora se considera a  Escritura não faz distinção entre as duas naturezas do crente, mas  frouxamente se refere ao homem como um todo. Diz a Escritura: “Exceto UM  seja nascido de novo” e não “exceto um tenha uma nova vida nascida com  ele”;  “se alguém está em Cristo, ELE é uma nova criatura”;  não “ele  tem uma nova criatura nele”;  “vivificou-NOS com Cristo”,  não  “vivificou uma nova vida dentro de nós”;  “ele nos gerou pela Palavra da  verdade”, não “ele gerou algo dentro de nós pela Palavra da verdade.”  
  (c). é a única idéia que toma conta do presente infinitivo  “pecar” (grego- “harmartanein”) na última parte da passagem. O  infinitivo presente sempre significa ação durativa, linear, progressiva –  ação em sua duração continuativa. Por causa deste sentido do infinitivo  grego, Weymouth traduz a passagem: “Ninguém que é um filho de Deus está  habitualmente culpado de pecado. Um germe dado de Deus, de vida, fica  nele e ele não pode pecar habitualmente”. E Sawtelle explica “não faz  pecado”, como significando: “Não o faz como a Lei de sua vida, como a  tendência do seu ser; não pertence à esfera do pecado.” 
  D. Notem os perfeccionistas impecáveis os seguintes fatos sobre esta passagem:  
  (a). Sua afirmação aplica-se a toda gente salva; não apenas a  alguns que alcançaram um suposto plano elevado de vida. Assim esta  passagem mata a teoria da  “segunda benção”.  A passagem esta falando  sobre o que o crente é em virtude da regeneração, não o que ele é em  virtude de uma suposta  “segunda obra de graça”. 
  (b) A passagem referida afirma que o caráter referido não pode  pecar. Assim, segundo sua própria teoria, teriam de interpretar a  passagem como ensinando que um que alcançou a impecabilidade não pode  nunca reincidir em pecado. Isto eles não admitirão. Assim mostram que  seu único interesse nesta passagem é acalentar sua heresia ignorante e  sem sentido. 
 V. OS FRUTOS DA SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA. 
  Pensamos bom aqui alistar quatro coisas que J. M. Pendleton, em  “Christians Doctrines” dá como evidências ou frutos das influências  graciosas do Espírito Santo em nosso santificação progressiva.  
 1. UMA NOÇÃO PROFUNDA DE DESVALIA 
  Nenhuma pessoa em quem o Espírito Santo fez qualquer obra  considerável tem qualquer disposição para envaidecer-se de sua bondade.  Para exemplos da noção de desvalia da parte dos santos de Deus, vide Jó    38:1,2; 40:4; 42:5,6; Efe. 3:8; Isa. 6. Também Fil. 3:12-15.  
 2. UM ÓDIO CRESCENTE AO PECADO 
  Nenhuma pessoa salva ama o pecado; isto é, o amor ao pecado não  é o afeto dominante de sua vida. Os pecados que ela comete não são o  resultado de um amor normalmente dominante ao pecado senão de um levante  ocasional da carne ou da fricção constante entre a carne e o Espírito.  
 3. UM INTERESSE CRESCENTE NOS MEIOS DE GRAÇA 
  Quanto mais o Espírito Santo obra numa pessoa, tanto mais ela  aprecia a Palavra de Deus, a oração, o culto e o demais; e mais ela se  avantaja dos benefícios de tais atos.  
 4. UM AMOR EM AUMENTO DAS COISAS CELESTIAIS 
  Este amor substitui o primeiro amor pelo pecado e faz o filho de Deus buscar aquelas coisas que são de cima.  
  Todos destes frutos do processo santificante impedem o fato que  não se pode atingir a impecância nesta vida por encorajar-se o pecado. A  presença do pecado na vida do cristão não lhe proporciona nenhuma  consolação; pelo contrário, proporciona-lhe pesar. Ele quisera estar  livre do seu peso terreno e elevar-se aos cimos de Deus para que sua  alma pudesse aquecer-se no sol de justiça. Toda pessoa salva pode dizer  com Paulo: “Desgraçado homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta  morte” (Rom. 7:24). Ele deseja que fosse sem pecado, mas está indisposto  a violentar a Escritura e praticar a auto decepção para fingir que está  sem pecado. O seu próprio desejo de impecabilidade impede-o de praticar  a hipocrisia, de perpetrar um engodo como todos os perfeccionistas  impecáveis fazem.   
Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004
Revisão: Luis Antonio dos Santos – 10/12/05
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