Em Eclesiastes 7:29 lemos: "Eis-que, só isto achei: que Deus fez        o homem direito, mas eles buscaram muitas invenções". Nada        é mais evidente do que os dois fatos mencionados nesta passagem;        a saber, a justiça original do homem e a sua queda mais tarde.      
I. O ESTADO ORIGINAL DO HOMEM
1. O FATO EM SI.      
A passagem a pouco citada nos diz que Deus fez o homem justo.  É        isto evidente da natureza de Deus: sendo infinitamente santo. Ele  só        podia criar aquilo que é justo. Então se nos diz em Gênesis        1:31 que Deus viu que tudo quanto Ele fez foi muito bom. Isto  inclui o homem.        Mais ainda, se nos diz que Deus fez o homem na Sua própria imagem        (Gênesis 1:27).      
2. A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM.      
(1) Considerada Negativamente.      
A imagem de Deus no homem não consistiu de uma trindade  análoga        à trindade divina. Já discutimos isto circunstanciadamente        no capítulo sobre "Os Elementos da Natureza Humana". Nesse  capítulo        mostramos que o homem consiste, não de três partes senão        de duas; e, se ele consistisse de três partes, que membro da  trindade        representaria o corpo do homem?      
(2) Considerada Positivamente.      
A imagem de Deus no homem consistiu de duas coisas, a saber:      
A. Santidade.      
Nisto teve o homem uma semelhança moral com Deus. Ao  afirmarmos        que santidade foi uma parte da imagem de Deus no homem, queremos  dizer que,        na criação do homem, Deus comunicou as faculdades humanas        uma inclinação reta. A santidade deve ter sido parte da imagem        de Deus no homem porque santidade é o atributo fundamental de  Deus.        Que santidade foi uma parte da imagem original de Deus no homem  está        também confirmado pelo fato que ela se comunica na renovação        da imagem de Deus na regeneração (Efésios 4:24; Colossenses        3:10). Isto está confirmado mais além por Eclesiastes 7:29.      
A semelhança moral original do homem com Deus constitui em  mais        que mera inocência. Foi santidade positiva. Só isto pode  satisfazer        a afirmação que o homem foi feito à imagem de Deus.        Se inocência fosse bastante para satisfazer essa afirmação,        então seriamos obrigados a concluir que cada criancinha nasce na        imagem moral de Deus, o que a Escritura nega (Salmos 51:5; 58:3;  Jeremias        17:9).      
B. Personalidade.      
Nisto o homem tem uma semelhança natural com Deus. A  personalidade        pode ser definida como auto-concienciosidade e autodeterminação.        A primeira é a habilidade do homem em conhecer-se distintamente de         tudo o mais e de analizar-se. A segunda é o poder de fazer  escolhas        em vista de motivos. Tais escolhas envolvem a razão e o juízo;        e, quando se relacionam com assuntos morais, envolvem consciência.       
É a personalidade que distingue o homem num modo natural do  bruto.        O bruto tem senso íntimo, mas não auto-concienciosidade. Nenhum        bruto jamais pensou "Eu". Nenhum bruto jamais se deteve para  analizar-se.        Um bruto nunca reflete sobre sua própria natureza em distinção        de tudo mais. Ele nunca se empenha em introspecção. Nem o        bruto faz escolhas em vista de motivos. Suas ações são        determinadas por instintos e por influencias de fora. Assim, o  bruto tem        determinação, mas não autodeterminação.        Que o bruto se move por instinto mais do que por escolha em vista  de motivos        está evidenciado pelo fato que os brutos nunca melhoram nos seus        métodos de fazer as coisas.      
Que a personalidade foi uma parte da imagem de Deus no homem  está        evidenciado pelo fato que o homem decaído, falto de santidade,  ainda        se diz estar na imagem de Deus. Vide Gênesis 9:6; I Coríntios        11:7; Tiago 3:9.      
II. A QUEDA DO HOMEM
A santidade original do homem não era imutável. A mutabilidade        é uma característica necessária da natureza humana.        Imutabilidade requer infinidade de conhecimento e poder. A  infinidade é        uma característica só da divindade. Portanto, desde que Deus        desejou criar o homem e não um deus, Ele fez Adão mutável.        Isto tornou possível a queda. Notemos, então, em referência        à queda:      
1. O FATO EM SI.      
Em Gênesis 3 temos a narrativa da queda. De modo que a queda é         um fato revelado. Também é um fato que é evidente,        como já o indicamos.      
2. O PROBLEMA EM SI.      
Quando vimos estudar a queda do homem, somos abordados pelo  problema de        como um tal ser, como Adão foi, pode cair. Notemos a respeito  deste        problema:      
(1) Uma explicação errônea.      
Algumas vezes uma explicação do problema da queda do homem        é tentada por representar-se o seu estado original como um de mero         equilíbrio no qual foi tão fácil escolher o erro como        foi escolher o direito. Em outras palavras, a vontade estava tal  estado        de indiferença e tão suscetível de agir de um modo        como de outro. Uma noção tam como esta reduz o estado original        do homem a uma condição de mera inocência em vez de        santidade positiva. Já tocamos nisto e confiamos em que mostramos        que, mera inocência, não satisfaz a afirmação        que o homem foi criado na imagem de Deus.      
(2) A explicação direita.      
Não devemos ver a dificuldade insuperável aqui reconhecida        por muitos. Pensamos que a dificuldade encontra uma explicação        satisfatória nos seguintes fatos:      
A. Adão era mudável.      
Já discutimos este fato.      
B. Sendo mudável, só podia permanecer firme no seu estado        original pelo poder de Deus.      
Vide o capítulo sobre "A Relação de Deus com o Universo".        Nada fica na sua própria força inalterado exceto aquilo que        é imutável.      
C. Deus podia justa e santamente permitir a Adão cair se Lhe  agradasse.      
Desde que Deus permitiu o pecado, ninguém objeta à permissão        da queda, salvo aqueles que queiram criticar Deus.      
D. Deus, tendo escolhido permitir a queda, retirou de Adão o  Seu        poder sustentador e a natureza de Adão degenerou tanto como o  universo        inteiro cairia aos pedaços se Deus retirasse o Seu poder  sustentador        e conservador por um só instante.      
3. OS RESULTADOS EM SI.      
(1) O primado de Adão.      
Quando Adão provou a corrupção de sua natureza, ele        não ficou como simples individuo senão como o cabeça        natural da raça. O primado natural de Adão está claramente        ensinado no capítulo quinto de Romanos. O seu primado ali não        se apresenta como simples primado federal. Adão não pecou        meramente por nós, como se ele fosse o mero cabeça federal        da raça; nós pecamos nele (Romanos 5:12).      
(2) Os efeitos da queda.      
A. Sobre Adão e Eva.      
Adão e Eva sofreram a corrupção de sua natureza, a        qual lhes trouxe ao mesmo tempo morte natural e espiritual.      
B. Sobre a Raça.      
O efeito total da queda de Adão sobre a raça é a corrupção        da natureza da raça, a qual traz a raça a um estado de morte        espiritual e a torna sujeita à morte física.      
Os descendentes de Adão são feitos responsáveis, não        pelo ato manifesto de Adão em participar do fruto proibido senão        pela apostasia interior de sua natureza de Deus. Não somos  pessoalmente        responsáveis pelo ato manifesto de Adão porque o seu ato manifesto         foi o ato de sua própria vontade individual. Mas, nossa natureza,        sendo uma com a dele, corrompeu-se na apostasia de sua natureza  dele. Daí,        o efeito da queda sobre a raça não consiste tanto da culpa        pessoal pelo ato manifesto de Adão como da corrupção        da natureza da raça. Não somos responsáveis por qualquer        coisa de que não podemos arrepender- nos quando vivificados pelo        Espírito de Deus. Está qualquer homem hoje convicto do pecado        de Adão de participar do fruto proibido? Mas nós nos sentimos        convictos e podemos e nos arrependemos da corrupção de nossas        naturezas, corrupção que se manifesta em rebelião contra        Deus e em transgressões pessoais. Não cremos que a Escritura        ensine mais do que isto a respeito dos efeitos da queda sobre o  raça.        Para uma discussão de João 1:29 a este respeito, vide o capítulo        sobre a expiação.      
4. A DIFERENÇA ENTRE ADÃO E EVA NA QUEDA.      
A narrativa do Gênesis não faz diferença vital entre        Adão e Eva na queda, mas uma distinção está        claramente apresentada em 1 Timóteo 2:14, onde se diz que Eva foi        enganada e Adão não. Isto quer dizer que Eva caiu em transgressão        porque ela foi levada a pensar que o aviso de Deus não era verdade         e que ela não morreria como uma penalidade por participar do fruto         proibido. Mas com Adão foi diferente: ele não duvidou da Palavra        de Deus; ele pecou porque preferiu ser expulso do Éden com sua  esposa        antes que ficar no Éden sem sua esposa.      
Muita vez se pensa que os fatos acima ligam maior culpa ao  pecado da mulher        do que ao pecado de Adão, ao passo que o reverso é que é        verdade. O homem pecou por meio da escolha voluntária e cônscia        da amizade de sua esposa, antes que a de Deus. Nada disto foi  verdade do        pecado de Eva.      
5. POR QUE DEUS PERMITIU A QUEDA?      
Não foi porque Deus foi compelido a permiti-la. Deus é  soberano        e faz tudo livremente. Não foi porque Lhe faltasse o poder.  Conquanto        Deus fez o homem mudável, o que foi necessário, como temos        mostrado, contudo Ele podia ter conservado o homem do pecado sem a  violação        da vontade ou de qualquer princípio. Podemos dar apenas uma  resposta        à pergunta acima. É que Deus permitiu a queda para prover        o meio para a glorificação do Seu Filho na redenção.      
6. A QUEDA E A SANTIDADE DE DEUS.      
Talvez a razão carnal jamais fique satisfeita com qualquer  explicação        da queda em relação com a santidade de Deus. Como podia um        Deus santo permitir o pecado quando Ele teve todo o poder de  impedir? De        que Ele teve esse poder não pode ser duvidado. E ao passo que a  razão        carnal não se satisfaça nunca, contudo a fé na Palavra        de Deus satisfaz a nova mente em que a permissão do pecado por  Deus        está perfeitamente consiste com a Sua santidade. Teve-se o poder        de impedir o pecado e não o fizemos, seriamos culpados do mal, mas         Deus é diferente de nós: somos dependentes e, portanto,  responsáveis.        Deus é independente e, portanto, responsável a ninguém.        Quando nós conhecermos como somos conhecidos, então poderemos        entender completamente como a permissão para pecar é perfeitamente         compatível com a perfeita santidade de Deus.  
 Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.
Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004
Revisão: Charity D. Gardner e Calvin G Gardner, 05/04
Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004
Revisão: Charity D. Gardner e Calvin G Gardner, 05/04
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