/ On : 13:07/ SOLA SCRIPTURA -   Se você crê somente  naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no  Evangelho que você crê,mas, sim, em si mesmo - AGOSTINHO.
"Disse Jesus: 'Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu
para que a obra  de Deus se manifestasse na vida dele. Enquanto é dia,
precisamos  realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima,
quando ninguém  pode trabalhar. Enquanto estou no mundo,
sou a luz do  mundo'" (João 19.3,4).
Observem,  caros amigos, nosso Senhor Jesus  Cristo não se deixava desconcertar diante da mais violenta oposição dos  seus inimigos. Os judeus tinham apanhado pedras para apedrejá-lo, e ele  se escondeu deles; mas tão logo tivesse passado por um único átrio e  ficado fora do alcance da vista deles, parou e fixou seus olhos num  mendigo cego, que estava sentado perto da porta do templo. Receio que a  maioria entre nós não tivesse ânimo para ajudar nem sequer os mais  necessitados enquanto nós mesmos escapávamos das pedradas lançadas  contra nós; e se tivéssemos tentado fazer essa obra, movidos por suprema  compaixão, a teríamos levado a efeito de modo desajeitado, com muita  pressão, e certamente não teríamos conversado de modo calmo e sábio,  conforme fez o Salvador ao responder à pergunta dos seus discípulos, e  passou a raciocinar com eles.
Uma  das coisas dignas de nota no caráter de  nosso Senhor é sua maravilhosa quietude de espírito, mormente sua  notável calma na presença daqueles que o julgavam mal, e o ofendiam, e o  caluniavam. É frequentemente vituperado, mas nunca perturbado; está  frequentemente perto da morte, mas sempre cheio de vida. Por certo, ele  sentia agudamente todas as contestações dos pecadores contra si, pois  numa passagem nos Salmos que se refere ao Messias lemos: "A zombaria  partiu-me o coração" (Sl 69.20). Entretanto, o Senhor  Jesus não permitiu que seus sentimentos o dominassem, sempre estava  calmo e com presença de espírito, e agia com profunda isenção das  calúnias e ataques dos seus mais ferrenhos inimigos.
Entendo  que, uma das razões por ele ser tão  auto-suficiente, é que nunca ficava enlevado pelo louvor dos homens.  Acreditem nisso: se alguma vez se permitirem ser agradados por aqueles  que falarem bem de vocês, serão capazes de se magoarem na mesma medida  por aqueles que falam mal de vocês. Mas se aprenderem (e é uma lição  demorada para a maioria de nós) que não são servos dos homens mas, sim,  de Deus, e que vocês não morrerão se eles os censurarem, então vocês  serão fortes e demonstrarão que alcançaram a estatura varonil em Cristo  Jesus. Se o grande Mestre se permitisse virar a cabeça pelos hosanas da  multidão, então, seu coração se desalentaria dentro dele quando  exclamavam: "Crucifique-o, crucifique-o!" Mas ele não se sentia  enaltecido nem abatido pelos homens; não se confiava nas mãos de homem  nenhum, pois sabia o que havia neles.
A  razão mais interior dessa quietude de  coração era sua comunhão ininterrupta com o Pai. Jesus morava à parte,  pois convivia com Deus: o Filho do homem, que desceu do céu, continuava  habitando no céu, sereno e paciente porque estava enaltecido acima das  coisas terrestres, nas santas contemplações da sua mente perfeita.  Porque seu coração estava com o Pai, o Pai o tornou forte para suportar  tudo o que lhe viesse da parte dos homens. Quem dera que todos nós  usássemos essa armadura da luz, a panóplia celestial da comunhão com o  Altíssimo Eterno. Nesse caso, não teríamos mais medo das más notícias,  nem das más ocorrências, pois nosso coração estaria firmado na rocha  segura do amor imutável do Senhor.
Havia,  talvez, outra razão pela maravilhosa compostura do nosso  Senhor ao ser atacado com pedradas: seu coração se fixava tanto na sua  obra que não podia ser desviado dela, por mais que os judeus incrédulos  fizessem contra ele. Essa paixão dominante o levava para adiante dos  perigos e sofrimentos, e o levava a desafiar com calma toda a oposição.  Entrara no mundo a fim de abençoar as pessoas, e não deixaria de  abençoá-las. Os judeus podiam se opor a ele por um motivo ou por outro,  mas não podiam desviar a correnteza da sua alma do leito da  misericórdia, ao longo do qual se precipitava como torrente. Ele  precisava fazer o bem aos sofredores e aos pobres, não podia deixar de  fazer isso; seu rosto volta-se com firmeza em direção à sua obra  vitalícia. Para ele, praticar a vontade de quem o enviara passara a ser  como sua comida e bebida; e assim, quando os judeus apanharam pedras,  embora ele se afastasse um pouco, porém, posto que somente quisesse  conservar sua própria vida para a prática do bem, voltou-se à sua obra  vitalícia sem demora. As pedradas não podem desviá-lo das suas  atividades graciosas. Assim como vemos um pássaro com ovos ou filhotes,  afugentado momentaneamente do seu ninho, voltar no mesmo instante em que  o intruso se afasta, assim também vemos nosso Senhor voltar à sua obra  santa quase antes de ele estar fora da vista dos que queriam  assassiná-lo. Ali está sentado um cego, e Jesus se põe imediatamente ao  seu lado para curá-lo. Eles vão te alcançar, ó Cristo! Eles tentarão  matar-te! Seguram mais pedras nas mãos cruéis. Os que te odeiam  arremessam seus mísseis com ferocidade e chegarão a ti num só momento!  Ele não se importa com isso! Nenhum espírito de covardia pode levá-lo a  deixar passar em branco uma oportunidade para glorificar o Pai. Aquele  cego precisa de atendimento e, correndo todos os riscos, Jesus pára a  fim de lidar com ele com amor. Se vocês e eu ficarmos completamente  ocupados no zelo por Deus, com o desejo de conquistar almas, nada nos  atemorizará. Suportaremos toda e qualquer coisa, e não nos parecerá que  estamos aguentando coisa alguma; escutaremos calúnias como se nem as  ouvíssemos, e suportaremos as adversidades como se não existissem. Assim  como a flecha, atirada por um arqueiro forte, desafia o vento ao seguir  em sentido contrário e voa rapidamente até ao centro do alvo, assim  também nós voaremos em direção ao grande objetivo da nossa ambição  compassiva. Bem-aventurado aquele homem que Deus lançou como raio da sua  mão, que precisa continuar até cumprir seu destino; bem-aventurado  aquele cuja vocação é levar os pecadores aos pés do Salvador. Ó bendito  Espírito, enaltece-nos para habitarmos com Deus, e nos simpatizarmos com  sua compaixão paternal, de modo a não prestarmos atenção às pedradas,  nem às zombarias, nem às calúnias, e nos ocuparmos totalmente no nosso  serviço abnegado por amor a Jesus!
Sirva  de introdução o que foi dito até agora. O  Salvador, na sua condição pior e mais baixa, quando estava perto da  morte, só pensa no bem das pessoas. Enquanto olhos cruéis o espionam  para buscarem ensejo para matá-lo, o olhar de Jesus se fixa no pobre  cego; Jesus não tem nenhuma pedra do seu coração contra os tristes,  mesmo quando as pedras passam zumbindo por suas orelhas.
I.  Assim, portanto, apresento para vocês a primeira divisão da  presente mensagem, que é O OBREIRO. Entrego este título, bem merecido, ao Senhor Jesus Cristo. Ele é  o obreiro por excelência, o obreiro principal, o exemplo para todos os  obreiros. Ele entrou no mundo, segundo ele mesmo diz, para cumprir a  vontade de quem o enviou, e para completar esta obra. Nessa ocasião,  quando é perseguido por seus inimigos, não deixa de ser um obreiro - um  operador de milagres com o cego. Existem muitos neste mundo que  desconsideram a tristeza [do próximo], que evitam os que sofrem mágoas,  que estão surdos diante das lamentações, e cegos diante das aflições. O  modo mais fácil que conheço para lidar com essa cidade onde moramos,  maligna e desgraçada, é não ficar sabendo muito a respeito dela. Dizem  que metade do mundo não sabe como a outra metade vive; certamente se  soubesse não viveria de modo tão descuidado, nem seria tão cruel como o  é. Existem vistas nesta metrópole que derreteriam um coração de aço e  tornariam generoso um Nabal. Mas fechar os olhos para não ver nada da  desgraça alheia que rasteja diante dos seus pés é um modo fácil de  escapar do exercício da benevolência. "Onde a ignorância é felicidade, é  tolice ser sábio"; assim disse um ignorante de vida fácil em tempos  antigos. Se os mendigos são importunos, os transeuntes precisam ser  surdos. Se os pecadores são profanos, é muito fácil para nós tampar os  ouvidos e seguir adiante, com pressa.
Se  esse cego precisa ficar sentado e mendigar  diante da porta do templo, os que frequentam o templo devem passar  rapidamente como se fossem tão cegos como ele. As multidões passam por  ele e não o levam em conta. Não é assim que agem as pessoas hoje em dia?  Se você está com aflição - se está com o coração partido -, elas não  passam por você, sem considerá-lo, e seguem seu caminho para seu negócio  ou sua casa, embora você esteja deitado, passando fome? O rico acha  conveniente manter em ignorância as feridas de Lázaro. Não é assim com  Jesus. Seu olhar é rápido para perceber o mendigo cego, mesmo que não  veja outra coisa. Se ele não está embevecido com as pedras maciças e a  bela arquitetura do templo, não deixa de fixar seus olhos num mendigo  cego diante da porta do templo. Ele é todo olhos, todo ouvidos, todo  coração, todo mãos, onde estiver presente a desgraça. Meu Mestre é feito  de ternura; ele derrete de amor. Ó almas sinceras que o amam, imitem a  ele nisso, e sempre deixem seu coração ser tocado por um sentimento  fraternal pelos sofredores e pelos pecadores. Existem outros que, embora  percebam a desgraça, não a diminuem mediante a calorosa simpatia, mas a  aumentam mediante as suas conclusões lógicas frias. "A pobreza", dizem  eles, "ora, pois bem: ela é obviamente provocada pela embriaguez e pela  preguiça e por todos os tipos de vícios." Não digo que não é assim em  muitos casos; mas digo que semelhante observação ajudará um pobre a se  tornar melhor ou mais feliz; semelhantes palavras severas servirão mais  para exasperar os endurecidos do que assistir aos que estão enfrentando a  luta. "As enfermidades", dizem alguns, "oh, sem dúvida um grande  montante de doenças é provocado por hábitos iníquos, a negligência das  leis sanitárias", e assim por diante. Isso, também, pode ser a triste  verdade, mas range no ouvido do sofredor. Não é uma doutrina muito  bondosa e agradável para ensinar nas enfermarias dos nossos hospitais!  Eu recomendaria que vocês não a ensinassem até que vocês mesmos ficarem  doentes, e talvez então a doutrina não lhes pareça ser tão instrutiva.  Até mesmo os discípulos de Cristo, ao ver esse cego, achavam que devia  existir algo de notavelmente iníquo em seu pai e em sua mãe, ou algo de  especialmente maligno no próprio homem, que Deus previu, e por conta do  qual o castigou com a cegueira.
Os  discípulos tinham a mesma atitude dos três consoladores de Jó,  os quais, ao verem o patriarca no monturo, destituído de todos os seus  filhos, e tendo sido roubados todos os seus bens, e ainda se raspando  porque estava coberto de úlceras, disseram: "Obviamente, deve ser  hipócrita. Deve ter feito alguma coisa muito terrível, senão não estaria  tão gravemente afligido." O mundo insiste em ficar com sua crença  infundada de que, se a torre de Siloé cair sobre algumas pessoas, elas  devem ser pecadoras mais do que qualquer outro pecador na face da Terra.  É uma doutrina cruel, uma doutrina vil, apropriada para selvagens, mas  que não deve ser mencionada pelos cristãos, que sabe que o Senhor  disciplina a quem ele ama, e até mesmo os mais amados por Deus têm sido  levados embora de repente. Vejo, porém, grande quantidade dessa noção  cruel circulando, e se algumas pessoas passam reveses, ouço o comentário  sussurrado: "Pois bem, elas é que provocaram isso." É assim que vocês  as animam?
Observações  morais baratas, embebidas de  vinagre, formam um alimento muito inferior para um inválido. Semelhantes  censuras são um modo imprestável para ajudar um deficiente a superar um  obstáculo - pelo contrário, trata-se de levantar ainda outro obstáculo  diante dele, de modo que não possa mesmo superá-lo. Ora, noto isso a  respeito do meu Senhor - que está escrito a seu respeito que "a todos dá  liberalmente e não o lança em rosto" (Tg 1.5 - ARC).  Quando ele alimentou aqueles milhares no deserto, ele teria sido muito  justo se lhes tivesse dito: "Por que vocês todos saíram para o deserto e  não trouxeram consigo seus provimentos? O que vocês estão fazendo neste  lugar distante, sem trazer comida? Vocês são imprudentes e merecem  passar fome." Não, não, ele não disse nenhuma dessas palavras, mas  alimentou a todos eles e os mandou para casa bem alimentados. Você e eu  não fomos enviados ao mundo para trovejarmos mandamentos do alto do  Sinai; chegamos até ao monte Sião. Não vamos viajar num circuito como se  fôssemos juízes e algozes ao mesmo tempo, para lidar com todas as  tristezas e desgraças deste mundo com palavras amargas de censura e de  condenação.
Se  fizermos isso, seremos totalmente diferentes do nosso bendito  Mestre que não fala nenhuma palavra de repreensão àqueles que o buscam,  mas que simplesmente alimenta os famintos e cura a todos que precisam! É  fácil criticar, é fácil repreender, mas nossa tarefa deve ser mais  sublime e nobre: a da bênção e da salvação.
Observo,  ainda, que existem alguns outros que,  mesmo não sendo indiferentes à tristeza alheia e mesmo sem defender uma  teoria cruel de condenação, não deixam de fazer especulações quando  isso não tem nenhum proveito. Quando nos juntamos, muitas são as  questões que desejamos discutir, mas que não têm o mínimo valor prático.  Há a questão da origem do mal. Esse é um assunto excelente para aqueles  que gostam de argumentar ou de retalhar a lógica, semanas a fio, sem  produzir lascas de lenha suficientes para acender um fogo no qual se  possa aquecer as mãos frias. Um assunto como esse foi levantado diante  do Salvador - culpa prevista, ou mancha hereditária - "Quem pecou: este  homem ou seus pais?" Até que ponto é certo que o pecado dos pais caia  sobre os filhos, conforme acontece muitas vezes? Eu poderia propor  muitos temas igualmente profundos e curiosos, mas para o que servem?  Entretanto, existem muitas pessoas que gostam desses temas, que tecem  teias de aranha, que sopram bolhas de sabão, que propõem teorias, as  desmantelam, e propõem outras.
Fico  duvidando que o mundo já ficou abençoado  no valor de um tostão furado por todas as teorizações de todos os  eruditos que já viveram. Isso tudo não pode ser classificado como  altercação vã? Preferiria criar trinta gramas de ajuda do que uma  tonelada de teoria. Acho lindo ver como o Mestre desmonta a especulação  refinada que os discípulos propõem. Ele diz de modo breve: "Nem ele nem  seus pais pecaram", e então cospe no chão, e faz barro, e abre os olhos  do cego. A obra foi esta; o debate foi mera preocupação. Certo menino  disse: "Pai, as vacas estão no campo de trigo. Como teriam entrado?"  Responde o pai: "Filho, não se preocupe mais com isso, vamos nos  apressar para tirá-las de lá." Há bom senso nessa atitude prática. Aqui,  temos essas pessoas afundadas no vício e ensopadas de pobreza. Deixe  para depois as perguntas - como chegaram a essa condição? Qual é a  origem da iniquidade moral? Como é transmitida dos pais para os filhos?  Responda às perguntas depois do dia do juízo, quando você terá mais luz;  mas agora a parte mais importante é vermos como você e eu podemos tirar  o mal do mundo, e como podemos levantar os caídos e restaurar aqueles  que se desviaram. Não vamos imitar o homem da fábula que viu um menino  se afogando e, imediatamente, lhe passou uma preleção a respeito da  imprudência de ir para a água onde não mais dá pé. Não, não, vamos tirar  o menino para a margem, secá-lo e vesti-lo, e então falar a ele que não  deve mais fazer isso para que coisa pior não lhe aconteça.
Digo  que o Mestre não era especulador; não ia  tecendo teorias; não era um mero visionário; mas se lançava na obra e  curava aqueles que necessitavam de cura. Ora, nisso ele é o grande  exemplo para todos nós neste ano da graça. Vejamos: o que já fizemos  para abençoar o nosso próximo? Muitos entre nós somos seguidores de  Cristo, e como devemos ser felizes por isso. O que já fizemos que fosse  digno da nossa chamada sublime? "Senhor, ouvi uma preleção numa noite  destas, a respeito dos males da intemperança." É só isso que você fez?  Surgiu daquela oratória brilhante e da sua atenção cuidadosa a ela,  alguma atuação na prática? "Ora, senhor, pensarei nisso, algum dia  destes." Entrementes, o que acontecerá com esses intemperantes? O sangue  deles não jazerá diante da porta de vocês? Outro comenta: "Ouvi, faz  poucos dias, uma preleção muito dinâmica e interessante a respeito da  economia política, e achava que se tratasse de uma ciência de muito  peso, e que explicasse boa parte da pobreza que você menciona."
Talvez  fosse assim; mas a economia política,  em si mesma, é dura como bronze; não tem entranhas, nem coração, nem  consciência, nem pode levar em conta semelhantes coisas. O economista  político é um homem de ferro, a quem uma lágrima enferrujaria, e por  isso nunca tolera o âmbito da compaixão. Sua ciência é uma rocha que  afundaria uma frota de navios, sem se comover com os gritos de homens e  mulheres que se afundam. É como o vento oriental do deserto que cresta  tudo sobre o que sopra. Parece a alma das pessoas que chegam a dominar a  arte desse vento ou, melhor, são dominados por ele. É uma ciência de  fatos teimosos, que não seriam fatos se nós não fôssemos tão  embrutecidos. Com a economia política ou sem ela, volto ao meu argumento  principal - O que você tem feito em favor do próximo? Pensemos mesmo  nisso, e se alguém entre nós tem sonhado, dia após dia, com aquilo que  faríamos "se", vejamos, o que podemos fazer agora e, de modo semelhante  ao Salvador, por as mãos na obra.
Entretanto,  não é esse o essencial que quero  alcançar. Trata-se do seguinte. Se Jesus é tão operante, e não teórico,  que alguns entre nós que precisamos dos seus cuidados podemos ter hoje?  Estamos decaídos? Somos pobres? Levamos a nós mesmos à tristeza e à  desgraça? Não confiemos nos homens, nem em nós mesmo? Os homens nos  deixarão morrer de fome e depois farão um exame póstumo do nosso corpo  com a ajuda da medicina legal, para descobrir por que ousamos morrer  para, assim, necessitarmos das despesas de um túmulo e de um caixão.  Certamente levantarão um inquérito depois de tudo se acabar conosco; mas  se chegarmos a Jesus Cristo, ele não fará o mínimo inquérito, mas nos  acolherá e dará descanso à nossa alma. Aquele é um texto bendito: Deus  "a todos dá liberalmente e não o lança em rosto" (Tg 1.5 ARC). Quando o  filho pródigo voltou para casa para do seu pai, o pai deveria lhe ter  dito, segundo o modo considerado correto, de conformidade com o que as  pessoas fariam hoje em dia: "Pois bem, você voltou para casa, e estou  contente em vêlo, mas olhe o seu estado! Como você chegou a esse estado?  Ora, você quase não tem um farrapo limpo no corpo! Como é que você  ficou tão pobre? E você está tão magro e esfomeado; como aconteceu isso?  Onde você esteve? O que você andou fazendo? Com quais companhias você  andou? Onde estava você na semana passada? O que estava fazendo  anteontem às sete horas?"
O  pai não lhe fez uma única pergunta, mas o  apertou contra o peito e, instintivamente, sabia tudo a respeito. O  filho voltou assim como ele era, e o pai o acolheu assim como ele era. O  pai parecia dizer, com um beijo: "Meu filho, vamos esquecer o que  passou. Você estava morto, mas agora voltou a viver; você estava  perdido, mas agora foi achado, e não quero perguntar mais nada." É  exatamente assim que Jesus Cristo está disposto a acolher os pecadores  arrependidos. Temos aqui uma meretriz das ruas? Venha, pobre mulher,  assim como você está, ao seu querido Senhor e Mestre, que a purificará  do seu pecado grave. "Todo tipo de pecado e blasfêmia será perdoado." Há  alguém aqui que transgrediu as regras da sociedade, que é apontado como  pessoa que transgrediu as regras da sociedade? Mesmo assim, venha, e  seja bem-vindo, ao Senhor Jesus, a respeito de quem está escrito: 'Este  homem recebe pecadores e come juntamente com eles.'" O médico nunca acha  desprezível circular entre os doentes; e Cristo nunca considerou  vergonhoso cuidar dos culpados e dos perdidos. Pelo contrário: escrevam  isso em volta do seu diadema - "O Salvador dos pecadores, até mesmo do  principal deles"; ele conta isso como sua glória. Ele operará a seu  favor e não o repreenderá. Ele não tratará você com uma dose de teorias e  com uma hoste de repreensões amargas; pelo contrário, ele acolherá  você, assim como você está, nas feridas do seu lado, e ali o esconderá  da ira de Deus. Oh, que bendito evangelho tenho para pregar a vocês! Que  o Espírito Santo os leve a aceitá-lo! Até aqui, falei a respeito do  obreiro.
II.  Agora, a segunda questão é O ÂMBITO DO TRABALHO. Todo trabalhador precisa de um local de  trabalho. Todo artista deve ter um estúdio. Cristo tinha estúdio? Sim,  veio para realizar obras muito maravilhosas - as obras daquele que o  enviou: mas que lugar tão estranho o Senhor achou para nele fazer as  suas obras! No entanto, não me consta que pudesse ter achado qualquer  outro. Resolveu realizar as obras de Deus e, para isso, selecionou o  lugar mais apropriado. Uma das obras de Deus é a criação. Se for para  Jesus realizar essa obra entre os homens, ele precisará descobrir onde  está faltando alguma coisa que possa suprir mediante um ato de criação.  Aqui estão dois olhos aos quais falta o aparelho apropriado para receber  a luz; aqui, portanto, há oportunidade para Jesus criar os olhos e a  vista. Ele não poderia ter criado olhos na minha cabeça, nem na sua  cabeça, se estivéssemos presentes, pois os olhos já estão presentes, e  mais olhos seriam inapropriados para nós.
No  mendigo cego do templo havia espaço para  Jesus produzir o que faltava no mecanismo curioso do olho; o olho cego,  portanto, era a sua oficina. Se houve globos oculares, estavam  totalmente destituídos de visão, e isso desde o nascimento do homem;  essa foi a ocasião para o Senhor Jesus dizer: "Haja luz!" Se os olhos  daquele homem tivessem sido como os seus e os meus, não teria havido  oportunidade para a operação divina de nosso Senhor; mas, posto que o  homem ainda estava nas trevas que o tinham cercado desde seu nascimento,  seus olhos ofereciam espaço no qual o poder do Onipotente pudesse se  manifestar por uma obra tão maravilhosa que, desde o princípio do mundo,  nunca houvera notícia de cura de um homem que nascera cego. O homem  estava cego "para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele." Oh,  mas esse é um pensamento bendito se você quiser pensar a respeito!  Aplique-o a você mesmo. Se faltar alguma coisa em você, há espaço para  Cristo operar em você. Se você for perfeito pela natureza, e não houver  nada que falte em você, então não haverá espaço para o Salvador fazer  coisa alguma por você; pois ele não vai dourar o ouro refinado, nem  colocar esmalte branco no lírio. Mas se você estiver sofrendo com alguma  deficiência grave, alguma falta pavorosa que faz sua alma ficar nas  trevas, a sua necessidade é a oportunidade de Cristo, a necessidade que  você tem de graça supre a necessidade que Cristo tem de objetos para a  sua misericórdia. Aí há espaço para o Salvador vir demonstrar a sua  compaixão para com você, e você pode ter certeza de que ele estará do  seu lado imediatamente. Assim seja: Vem, Senhor Jesus. Ainda por cima,  não era somente a deficiência da vista desse homem, mas também a sua  ignorância que precisava da ajuda do Onipotente. É obra de Deus, não  somente criar, mas também iluminar. O mesmo poder que chama à  existência, também chama à luz, seja esta natural ou espiritual. É uma  obra divina iluminar e regenerar o coração humano. Esse homem estava nas  trevas tanto em mente quanto em corpo - que coisa grandiosa foi  iluminá-lo nos dois sentidos! Ele não conhecia o Filho de Deus e, por  isso, não acreditava nele, mas perguntou com assombro: "Quem é ele,  Senhor, para que eu nele creia?" Jesus Cristo veio para operar nesse  homem o conhecimento de Deus, a vida de Deus - numa palavra: a salvação  -; e porque esse homem estava destituído dessas coisas, havia nele  espaço para a perícia e o poder do Salvador. Amigo, é esta a sua  situação? Você não está convertido?
Nesse  caso, existe espaço em você para o  Redentor operar mediante a graça que converte. Você não está regenerado?  Nesse caso, existe espaço em você para o Espírito de Deus operar a  regeneração. Todas essas deficiências espirituais que você tem - sua  ignorância e suas trevas - serão transformadas pelo infinito amor em  oportunidades para a graça. Se não estivesse perdido, você não poderia  ser salvo. Se não estivesse culpado, não poderia ser perdoado. Se não  fosse pecador, não poderia ser purificado. Mas todo o seu pecado, e sua  tristeza, mediante um mistério estranho de amor, é um tipo de  qualificação de você mesmo para Cristo vir salvá-lo. Alguém comenta:  "Para mim, o caso assim é apresentado numa nova luz." Aceite essa nova  luz e seja confortado, pois é luz do evangelho, e tem o propósito de  animar os desesperançosos. Você fala: "Nada de bom existe em mim"; fica  claro, portanto, que há lugar para Cristo ser tudo para você. Você  percebe que não podem existir dois "tudo"; só pode existir um, e já que  você não está pretendendo esse título, Jesus o ostentará. Todo o espaço  que você ocupar na sua própria estima remove o mesmo tanto de espaço da  glória do Senhor Jesus; se você não é nada, sobra essa casa inteira para  o Salvador ocupar. Ele entrará, e encherá todo o seu vácuo interior com  sua própria querida pessoa, e será glorioso aos seus olhos para sempre.
Aventuro-me  a dizer nesta noite que todas as  aflições podem ser consideradas desta mesma maneira: oferecem  oportunidades para a obra de misericórdia de Deus. Sempre que você vê um  homem envolto em tristezas e aflições, a maneira certa de considerar  essa situação não é culpar a ele e querer saber como chegou a esse  ponto, mas dizer: "Aqui temos uma abertura para o amor onipotente de  Deus. Trata-se de uma ocasião para a demonstração da graça e bondade do  Senhor." Esse homem, sendo cego, deu ao Senhor Jesus a oportunidade de  praticar a boa ação de lhe restaurar a vista, e aquela obra era uma  maravilha tão grande que todos que estavam ao redor se sentiram  obrigados a notá-la e admirá-la. Os vizinhos começaram a perguntar a  respeito, os fariseus precisaram realizar um conclave a respeito do  assunto; e, embora quase dezenove séculos tenham se passando, aqui  estamos nós, nesta hora, meditando a respeito. Os olhos abertos desse  homem continuam iluminando os nossos olhos nesta hora. A Bíblia não  teria sido completa sem essa narrativa tocante e instrutiva; se esse  homem não tivesse nascido cego, e se Cristo não lhe tivesse aberto os  olhos, todas as gerações teriam recebido menos luz. Devemos ficar  contentes por esse homem ter ficado tão aflito, pois assim recebemos  instrução graciosa. Se ele não tivesse sido destituído da visão, não  teríamos visto a grande visão da cegueira de nascença sendo expulsa por  aquele que é a Luz dos homens.
Assim,  posso falar a todos os aflitos: não  sejam rebeldes com suas aflições; não se deixem perturbar excessivamente  por elas, nem se deixem desanimar totalmente por elas; mas  considerem-nas como aberturas para a misericórdia, portas para a graça,  entradas para o amor. O vale de Açor será para vocês uma porta de  esperança. O obreiro poderoso, a respeito de quem falei, achará uma  oficina na aflição de vocês, e nela formará monumentos da sua graça.  Glorifiquem-se nas suas enfermidades para que o poder de Cristo repouse  sobre vocês. Regozijem-se porque, à medida que as suas tribulações  abundarem, assim abundarão as suas consolações por meio de Jesus Cristo.  Peçam a ele que faça todas as coisas cooperar para o bem de vocês e a  glória dele e assim será feito.
Será  completo o meu pensamento a respeito da  oficina depois que eu falar que acredito que o próprio pecado tem um  aspecto semelhante ao da aflição, porque dá lugar à misericórdia de  Deus. Dificilmente posso dizer aquilo que Agostinho disse - ao falar do  pecado e da queda de Adão, e considerando todo o esplendor da graça que  se seguiu depois, ele disse: "Beata culpa" - culpa bendita - como se  pensasse que o pecado fornecera tamanhas oportunidades para o desvendar  da graça de Deus, e demonstrara de tal maneira o caráter de Cristo, que  até mesmo ousou chamá-la de culpa bendita. Não me aventurarei a usar  semelhante expressão, e não ouso fazer mais do que repetir aquilo que  aquele grande mestre em Israel disse em tempos passados; mas digo mesmo  que não posso imaginar uma ocasião para glorificar a Deus comparável ao  fato de o homem ter pecado, posto que Deus entregou Cristo para morrer  em prol dos pecadores. Como aquele dom inefável poderia ter sido  outorgado se não tivesse havido pecadores? A cruz é uma constelação da  glória divina mais brilhante do que a própria criação.
"É, pois, na graça que os homens salvou,
Que sua forma  mais nobre da glória brilhou;
Está escrita  mais bonita aqui na cruz da salvação
Em sangue  precioso e em linhas de carmesim que traz redenção."
Como  poderíamos ter conhecido o coração de  Deus? Como poderíamos ter entendido a misericórdia de Deus? Não fosse o  nosso pecado e desgraça, como poderiam ter sido demonstrados semelhante  clemência e amor? Venham, pois, ó culpados, animem-se, busquem a graça.  Assim como o médico precisa dos enfermos a fim de que possa exercer sua  capacidade para curar, assim também o Senhor da misericórdia precisa de  vocês para ele demonstrar a graça que pode conceder. Se eu fosse um  médico, e desejasse uma clínica, não procuraria saber a respeito da  região mais saudável, mas uma localização onde os enfermos encheriam o  meu consultório. Se tudo quanto eu buscasse fosse praticar o bem ao meu  próximo, eu desejaria estar no Egito ou em algum outro país acometido  pelo cólera ou pela peste, onde pudesse salvar vidas humanas.
O  Senhor Jesus Cristo, olhando para a multidão  nesta noite, procura, não aqueles que são bons (ou que assim se  consideram), mas os culpados, que reconhecem ser essa a sua situação e a  lastimam. Se houver aqui um pecador, leproso e contaminado; se houver  aqui uma alma, doente da cabeça aos pés, sofrendo a enfermidade  incurável do pecado, o Senhor Cristo, o obreiro poderoso, olha para ela,  porque nela descobre um laboratório dentro do qual possa realizar as  obras daquele que o enviou.
III.  Tenham paciência comigo agora, enquanto passo, em terceiro  lugar, a notar de forma breve O SINO DO TRABALHO. Vocês escutam, bem cedo, um sino que acorda  os trabalhadores em suas camas. Vejam como se deslocam juntos pelas  ruas, como abelhas apressando-se na ida e na volta para a colméia. Você  os vê saindo para o trabalho, pois o sino está soando. Havia um sino do  trabalho para Cristo, também, e ele o ouvia. Então ele disse: "Preciso  trabalhar; preciso trabalhar, preciso trabalhar." O que o levou a fazer  isso? Ora, a visão daquele cego. Tão logo o viu, disse: "Preciso  trabalhar." O homem não pedira nada, nem emitira um som; mas aqueles  globos oculares sem som falavam com eloquência ao coração do Senhor  Jesus, e entoavam bem alto a chamada que Jesus escutou e à qual  obedeceu, pois ele mesmo disse: "Preciso trabalhar."
E  por que precisava trabalhar? Porque viera do  céu distante com o propósito de assim fazer. Viera da parte do trono do  seu Pai a fim de ser um homem com o propósito de abençoar os homens, e  não permitiria que sua longa descida fosse infrutífera. Precisava  trabalhar; por qual outra razão estava aqui, onde havia trabalho para  ser realizado?
Além  disso, havia impulsos em seu coração, que  não precisamos parar para explicar agora, e que o forçavam a trabalhar.  Sua mente, sua alma, seu coração, estavam cheios de uma força que  produzia atividade perpétua. Às vezes, quando viajavam, ele selecionava  certa rota porque "precisava passar pela Samaria". Às vezes, procurava  as pessoas porque dizia: "Tenho outras ovelhas que não são deste  aprisco. É necessário que eu as conduza também" (Jo 10.16). Havia em  Cristo um tipo de instinto para salvar os homens, e aquele instinto  ansiava por ser gratificado, e não aceitaria uma recusa. "Preci-so  trabalhar", disse ele. Só ver aqueles olhos cegos o levou a dizer:  "Preciso trabalhar", e pensou naquele pobre homem - como este vivera  durante vinte anos e mais nas trevas - como não conseguira desfrutar das  belezas da natureza, ou ver o rosto dos seus amados, nem ganhar o seu  pão de todos os dias; e sentia compaixão das tristezas daquele homem que  ficava nas trevas vitalícias. Além disso, ao se lembrar de como a alma  daquele homem também ficara encerrada como um prisioneiro na masmorra,  em razão da ignorância grosseira, disse: "Preciso trabalhar, preciso  trabalhar. Podem me apedrejar se quiserem, mas preciso trabalhar. Ouço a  convocação e preciso trabalhar."
Agora,  aprendam esta lição vocês que são  seguidores de Cristo. Sempre que virem o sofrimento, espero que cada um  de vocês sinta: "Preciso trabalhar, preciso ajudar." Se são dignos do  Cristo a quem chamam de líder, que todas as necessidades das pessoas  possam impelir vocês, compelir vocês, constranger vocês a ser uma bênção  para elas. Que o mundo que jaz no iníquo os desperte; que os clamores  dos homens da Macedônia os despertem ao falarem: "Venham para cá e nos  ajudem!" Os homens estão morrendo, e morrendo nas trevas. O cemitério  está ficando cheio, e o inferno também está se enchendo. Os homens estão  morrendo sem esperança; e estão passando para a noite eterna. "Preciso  trabalhar." Eles exclamam: "Mestre, poupa a ti mesmo: a labuta  incessante te esgotará e te levará à sepultura." Mas vejam! Vejam!  Vejam! A perdição engole multidões, descem vivos para o abismo! Escutem  seus gritos lastimosos! Almas perdidas estão sendo excluídas de Deus.  "Preciso trabalhar." Quem dera que eu pudesse colocar a minha mão - ou,  muito melhor, que meu Mestre colocasse a sua mão furada em cada cristão  genuíno e pressionasse-o com ela até ele exclamar: "Não posso ficar  sentado aqui. Preciso ir à obra tão logo o culto termine. Devo, além de  escutar, e contribuir, e orar, também trabalhar."
Pois  bem, essa é uma lição grandiosa; mas não  pretendo que seja a lição principal, pois estou à procura daqueles que  anseiam por achar misericórdia e salvação. Para você, caro amigo, é uma  grande bênção se você quer ser salvo, porque Cristo precisa salvar!  Existe nele o grande impulso de fazer questão de salvar. Sei que vocês  dizem: "Não consigo orar. Nem tenho vontade de orar." Não se preocupem  com isso: a questão está entregue a mãos mais capacitadas. Vejam bem:  esse homem não disse uma palavra; bastava vê-lo para comover o coração  do Senhor Jesus. Tão logo Jesus o viu disse: "Preciso trabalhar." Vocês  já viram um homem sem dotes oratórios, mas que consegue receber esmolas  em grande escala? Eu já. Ele se veste como trabalhador camponês. Usa um  blusão comprido e se senta num cantinho por onde muitos passam; o lugar  onde faz seu ponto fica um pouco fora do trânsito impetuoso, mas  suficientemente perto para conseguir a atenção de muitos transeuntes.  Deixa visível uma enxada, muito surrada pelo uso feito dela por outra  pessoa, e nela está escrito: "Estou morrendo de fome!" Parece extenuado e  faminto; a montagem é extremamente bem feita, e fica tão pálido quanto o  giz pode torná-lo. Oh, quantas moedinhas de cobre entram no seu velho  chapéu! Como as pessoas têm pena dele! Ele não canta uma modinha  tristonha; não fala uma única palavra; no entanto, muitos são comovidos  pelo fato de parecer verdade que está morrendo de fome. Agora, meu caro,  você não precisa ser falso naquilo que faz se apresentar sua desgraça e  pecado diante do Senhor. Nesta noite, quando chegar em casa, ajoelhe-se  à beira da sua cama e diga: "Senhor Jesus, não sei orar; mas aqui  estou. Estou perecendo e me coloco diante da tua vista. Em vez de  escutar as minhas petições, olhe para os meus pecados. Em vez de exigir  argumentos, olhe para a minha iniquidade. Em vez de escutar minha  oratória, que nem possuo, Senhor, lembre-se de que dentro em breve  estarei no inferno se o Senhor não me salvar." Então, o sino tocará, e o  grande obreiro achará que chegou a hora de ele labutar; e dirá, nas  palavras do texto em estudo "Preciso trabalhar", e em você as obras de  Deus se manifestarão. Você será a oficina de Cristo.
IV.  Temos mais uma divisão, e esta é o DIA DO TRABALHO. Nosso Mestre divino disse: "Enquanto é dia,  precisamos realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima,  quando ninguém pode trabalhar."
Essas  palavras não se referem a Cristo, o  Salvador ressurreto, mas ao Senhor Jesus Cristo enquanto era homem aqui  na Terra. Havia aquele determinado dia em que ele podia abençoar os  homens, e uma vez passado, ele teria partido; não haveria mais Jesus  Cristo na Terra para abrir os olhos dos cegos ou curar os enfermos; ele  não estaria mais presente entre os homens, para que estes o abordassem  como aquele que cura as doenças do corpo. Nosso Senhor, como homem aqui  na Terra, teve um dia. Era somente um dia - um período breve, não muito  prolongado; não poderia ser prolongado, pois assim era determinado pelo  grande Senhor. O dia do seu sacrifício fora determinado; ele mesmo disse  certa vez: "A minha hora ainda não chegou." Mas essa hora acabou  chegando. Nosso Senhor ocupou trinta anos no seu preparo para a sua obra  vitalícia, e então, durante três anos, cumpriu o trabalho que lhe foi  imposto (Is 40.2). Quantas coisas ele compactou nesses três anos!  Serviços prestados durante séculos a fio não poderiam se igualar às  labutas daquele breve período. Irmãos, alguns entre nós já realizaram  trinta anos de trabalhos, mas fizemos bem pouco serviço, lastimo; e como  fica se apenas nos sobrarem mais três? Sintamos os impulsos da  eternidade que se aproxima!
Dentro  de pouco tempo, já não estarei olhando  os rostos da multidão, e as pessoas se lembrarão de mim apenas como um  nome; por isso, pregarei da melhor maneira que eu puder, enquanto tiver  força e a minha vida for prolongada. Dentro de pouco tempo, irmãos,  vocês não terão a capacidade de ir de porta em porta conquistando almas:  a rua sentirá a sua falta com seus folhetos; o distrito sentirá falta  de suas visitas regulares. Faça bem o seu trabalho, porque seu sol não  demorará a se por. Essas palavras talvez sejam mais proféticas para  algumas pessoas do que estamos sonhando. Devo estar falando com alguns  que estejam se aproximando da sua última hora e que dentro em breve  prestarão contas. À obra, irmãos! À obra, irmãs! Digam: "Devemos  trabalhar, pois a noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar." A  vida não pode ser prolongada por assim querermos; a predestinação não  encompridará o fio quando vier a hora de ele ser cortado. A mais longa  das vidas será curta, e, oh, quão curta para aqueles que morrem jovens!
Se  você ou eu omitirmos alguma parte da obra  da nossa vida, nunca poderemos compensar a omissão. Falo com reverência  solene a respeito do nosso Mestre divino, mas, se ele não tivesse curado  aquele cego no curto período em que viveu na Terra, ficaria faltando  parte das tarefas que o Pai o enviou para realizar. Não quero dizer que,  como Deus, não pudesse, a partir do céu, ter dado a vista ao pobre  mendigo, mas esse fato torna o caso mais grave ao se aplicar a nós,  posto que não temos a expectativa de semelhante futuro; se não servirmos  aos homens agora, estará fora do nosso alcance abençoá-los a partir do  céu. Essa narrativa nunca poderia ter aparecido na vida do Filho do  homem se ele tivesse se esquecido de ser gracioso com o cego. O tempo  certo para nosso Senhor trabalhar era enquanto habitava aqui embaixo; se  fosse para ele voltar do céu a fim de curar o homem, isso teria que ser  feito num segundo advento, e não no primeiro; e se até mesmo ele  omitisse alguma coisa da sua primeira missão embaixo, não poderia ser  reposta. Depois de você e eu escrevermos uma carta, escrevemos um  pós-escrito; depois de escrevermos um livro, poderemos escrever um  apêndice ou inserir alguma coisa que omitimos. Mas a esta nossa vida,  não poderá haver um pós-escrito. Devemos fazer nosso trabalho agora ou  nunca; e se não cumprirmos nosso serviço para Deus agora, agora mesmo,  enquanto tivermos a oportunidade à disposição, nunca poderemos  cumpri-lo. Se você omitir alguma coisa ontem, você não poderá alterar o  fato do serviço imperfeito naquele dia. Se estiver mais zeloso agora,  será a obra de hoje; mas o ontem continuará sendo tão incompleto quanto  você o deixou. Devemos, portanto, ficar alerta para cumprir a obra  daquele que nos enviou, enquanto ainda estivermos no hoje.
Chego  a essa conclusão, e aqui começo a  terminar - se nosso Senhor Jesus Cristo era tão diligente para abençoar  os homens enquanto estava aqui, tenho certeza de que não é menos  diligente para escutá-los e curá-los agora, no sentido espiritual que  ele continua operando entre os homens.
Quem  dera que eu soubesse levá-los a buscar o  meu Senhor e Mestre; pois se vocês o buscassem, ele será achado por  vocês tão certamente como vocês o buscam. Cristo não perdeu sua  entranhável compaixão; não tem coração frio nem mão relapsa. Vá para ele  imediatamente. Falei, há pouco tempo, a alguns dos piores pecadores, e  lhes digo de novo - Vão para Jesus! Quero falar com alguns entre vocês  que não são os piores pecadores, com vocês que têm sido ouvintes do  evangelho e só falharam porque não crêem em Jesus. Vão até ele  imediatamente. Vocês estão relutantes, mas ele, não. Ele precisa  continuar trabalhando, e continuar enquanto durar o dia do evangelho,  pois aquele dia chegará ao fim dentro de pouco tempo. Ele está esperando  e vigiando por você. Oh, venham a ele - venham agora mesmo. "Não sei o  que é vir a ele", diz alguém. Pois bem: vir a Cristo é simplesmente  confiar nele. Vocês são culpados; confiem nele para perdoá-los. "Se eu  fizer assim", pergunta alguém, "posso continuar vivendo como antes?"  Não, isso você não pode, pois quando um navio deve ser conduzido para  dentro do porto e recebe um piloto a bordo, este dirá ao capitão:  "Capitão, se você confiar em mim, vou colocar o navio dentro do porto em  segurança. Olhe, mande descer aquela vela." E eles não o fazem.  "Venha", diz o piloto, "cuide do leme, e governe o navio conforme  mando." Mas eles se recusam. "Pois bem", diz o piloto, "você disse que  confiava em mim." "Sim", responde o capitão, "e você disse que se  confiássemos em você, você nos colocaria no porto; mas não chegamos ao  porto de jeito algum." "Não", diz o piloto, "vocês não confiam em mim,  pois se confiassem, fariam o que lhes mando." A confiança genuína  obedece aos mandamentos do Senhor, e estes proíbem o pecado. Se você  confia em Jesus, você deve deixar de pecar, tomar a sua cruz, e seguir a  ele. Semelhante confiança receberá com certeza a sua recompensa: você  será salvo agora, e salvo para sempre.
Que Deus abençoe vocês, caros amigos, por  amor a Cristo. 
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