/ On : 14:13/ SOLA SCRIPTURA -   Se você crê somente  naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no  Evangelho que você crê,mas, sim, em si mesmo - AGOSTINHO.
Noite de Domingo, 13 de Junho de 1870
"Ao ouvir isso, Jesus admirou-se e disse aos  que o seguiam:
'Digo-lhes a verdade: Não encontrei em Israel ninguém
com tamanha fé" (Mateus 8.10).
Iniciamos com a observação de que não há  relato de Jesus se admirar diante da arquitetura gigantesca do templo,  nem diante da disciplina maravilhosa do exército romano, nem diante do  conhecimento profundo dos rabinos. Ele só se admirou duas vezes (segundo  os registros), e nessas duas ocasiões se admirou com relação à fé, uma  vez diante de sua ausência e outra vez diante de sua presença. No caso  do qual passamos a falar agora. Ele se admirou diante da incredulidade  dos seus concidadãos; na narrativa que temos aqui, ele se admirou diante  da fé do centurião. A partir disso, aprendemos que não devemos ficar  tão ocupados com as maravilhas da ciência e da arte, ou até mesmo com as  maravilhas da criação e da providência, a ponto de nos tornarmos  indiferentes para as maravilhas da graça. Estas devem ocupar o lugar  supremo na nossa estima. As sete maravilhas do mundo de nada valem ao  serem comparadas com as inúmeras maravilhas da graça. Quem não admira as  obras de Deus na natureza é estulto; quem não segue com temor reverente  a atuação de Deus na história é frívolo; e ainda mais tolo quem  despreza as obras-primas da perícia e sabedoria que podem ser vistas no  império da graça. No reino de Deus, o sábio fica admirado só uma vez na  vida, ou seja, sempre; os tolos não pensam assim, mas eles estão  destituídos do entendimento. O museu da graça é mais do que aquele da  natureza. Um coração partido por causa da graça é uma maravilha muito  maior do que o fóssil mais raro, por mais que este conte a respeito das  inundações antigas ou das convulsões da terra. Um olho que brilha com as  lágrimas do arrependimento é uma maravilha muito maior do que as  cataratas do Niágara ou das nascentes do Nilo. A fé que humildemente se  vincula a Cristo possui uma beleza tão grande como o arco-íris, e uma  confiança que olha somente para Jesus, e assim irradia a alma, é tanto  um objeto para a admiração quanto é o sol quando brilha na sua força.  Não falem das pirâmides, do Colosso, da casa dourada de Nero, nem do  templo em Éfeso, pois o templo vivo da igreja de Deus é muito mais belo.  Que outros se gloriem nas maravilhas que viram, mas a mim cabe dizer ao  meu Senhor: "Eu te louvarei, porque tu tens feito coisas  maravilhosas. Teu amor por mim foi maravilhoso. Certamente, me lembrarei  das tuas maravilhas desde tempos antigos."
Considerem bem a obra de Deus no coração  humano; considerem bem a fé que se acha no início e no alicerce da vida  espiritual, e vocês terão boas razões para a admiração quanto o Salvador  tinha quando se maravilhou diante da fé do centurião. O motivo  específico da admiração talvez não seja o mesmo, mas toda a fé tem em si  elementos admiráveis, e pode, como seu autor divino, ser chamada de  "maravilhosa".
Vou falar do que era tão notável na fé do centurião e farei  observações práticas; e se ainda sobrarem alguns fragmentos para serem  recolhidos, tentaremos, de novo, aplicá-los no mesmo estilo da aplicação  pessoal.
I. O que havia, pois, na fé do centurião que fosse tão notável  que Cristo se admirasse diante dela? Acho que o primeiro aspecto foi que  tamanha fé se encontrasse em semelhante pessoa.
O Senhor parecia subentender esse fato quando  disse: "Não encontrei em Israel ninguém com tamanha fé"; como  se talvez esperasse achá-la em Israel, entre um povo instruído, entre  um povo ao qual os oráculos tinham sido confiados, mas ele não esperava  encontrá-la num gentio, num romano, num soldado, em alguém que, segundo  parecia, era um objeto improvável para as influências espirituais. A  partir daí, entendo que a fé mais admirável e aceitável pode ser  exercida pelas pessoas mais improváveis. Aqui temos um gentio que crê,  um gentio que crê muito melhor do que alguém da descendência de Israel. A  rica graça, portanto, trouxe quem estava bem longe para a plena bênção  do reino. Aqui temos um soldado que crê, um soldado romano que crê no  Senhor. Os soldados romanos na Judéia não eram assim como são os nossos  exércitos, que guardam e protegem as lareiras e as famílias. Pelo  contrário, eram servidores de tiranos, que tripudiavam as liberdades do  povo judaico, e, naturalmente, muito detestáveis para os judeus; e,  apesar de tudo isso, embora a profissão dos soldados naqueles dias fosse  a opressão, e seu salário fosse o despojo, aqui temos um soldado que  crê em Jesus Cristo; e, para aumentar a maravilha, esse legionário  crente não era meramente um soldado comum, mas ocupava uma posição de  responsabilidade, e assim era digno de considerável grau de honra e de  respeito. Ai de nós, porque as honras deste mundo raras vezes ajudam na  fé. Quando um homem recebe honrarias dos demais homens, é frequente ele  achar impossível receber o evangelho como uma criança. E todas essas  honrarias se encontravam no centurião, mas, apesar disso, ele era, não  somente um crente, mas também um crente exímio, a ponto de ser uma  maravilha, de modo que Cristo se maravilhasse da fé que ele tinha.
Meus caros amigos, mesmo se acontecesse com  vocês, no seu corpo e na sua mente, estar nas circunstâncias mais  improváveis para serem convertidos e se tornarem cristão, nem por isso  consigo pensar no que poderia impedi-los de serem convertidos dessa  forma, caso o Senhor abençoe a palavra. Se foram criados totalmente à  parte das influências da religião, não deixem de se lembrar que o  centurião também foi criado assim, porém ele se tornou um crente  exemplar. E por que vocês não poderão ser igual a ele? Embora o terreno  do seu coração nunca tenha sido lavrado e permaneça como o solo virgem  da floresta primitiva, meu Senhor poderá receber uma colheita graciosa  do coração de vocês, daqui a não muitos dias, quando a aragem da lei e  da semeadura do evangelho forem experimentadas em vocês, pois ele, por  meio do seu toque gracioso, pode transformar um campo estéril em campo  frutífero. Embora vocês se sintam tão devastados como o urzal, não  precisam se desesperar. Embora se sintam agora tão destituídos de  orvalho quanto o monte Gilboa, o Senhor pode regá-los tão abundantemente  quanto o próprio Hermom. A mulher estéril ainda cuidará do seu lar, e a  desolada se regozijará com seus filhos. A morte da natureza pode ainda  ceder diante da vida do Espírito.
Talvez você tenha uma profissão que é  inimizade contra a religião, mas nem por isso fique desesperado. Nada  impede o Mestre de chamar você pela sua graça e constrangê-lo a deixar  essa profissão, assim como Mateus deixou a coletoria de impostos; ou, de  outra maneira, mediante o poder da graça dentro de você, ele poderá  capacitá-lo a exercer a sua profissão sem pecado? É possível que você  nunca tenha lido a Bíblia - por que você não deve começar? É possível  que tenha sido descrente da Bíblia, porém existem tantos argumentos em  favor dela - não pretendo preocupá-lo com eles neste exato momento -,  mas existem entre eles argumentos vivos que talvez possam convencê-lo  antes que fique bem consciente de que parte do seu preconceito está  sendo removida, pois alguns entre nós provamos a palavra da vida,  lideramos com ela e somos testemunhas do poder que acompanha o  evangelho. Nós mesmos somos testemunhas vivas daquilo que o evangelho  pode fazer ao soprar paz para dentro da alma, e na remoção do pecado, e  não vejo porque você não possa prová-lo e se regozijar nele, e até mesmo  concorrer bem com outras pessoas na corrida da graça. Aquele latoeiro  que jogava bilhar aos domingos, no relvado de Elstow, não parecia ser um  homem provável para escrever "O peregrino", porém João Bunyan o  conseguiu. Aquele marinheiro blasfemo que foi lançado para a praia de  uma colônia para o comércio de escravos, no litoral da África, onde  também foi escravizado, não tinha a aparência de se tornar ministro da  piedade evangélica, cujo nome passaria a ser tão doce e cheio de sabor  para as gerações posteriores - mas assim era João Newton. Não há motivo,  por causa das trevas do passado, para o futuro não ser brilhante,  porque há Alguém que pode apagar o pecado e deixar de lado a  transgressão e a iniquidade. Por mais hostil que a sua natureza seja  contra o evangelho e contra a verdade espiritual, há poder em Jesus  Cristo para transformar essa natureza e para levar você, a pessoa mais  improvável, a se tornar um líder no arraial de Jesus, um troféu poderoso  da sua graça soberana. Está escrito: "Fizme acessível aos que não  perguntavam por mim; fui achado pelos que não me procuravam" (Is 65.1).  "Chamarei de 'meu povo' os que não eram meu povo, e de 'amada', aquela  que não era amada." Por certo, os anjos se regozijaram quando ouviram o  legionário romano dizer: "Dize apenas uma palavra, e o meu servo será  curado." Por certo, os discípulos, ao se reunirem ao redor do Mestre,  disseram uns aos outros: "Que obra estranha da graça é esta, que leva  esse soldado a ficar em pé aqui e falar melhor do que qualquer um de nós  a respeito da verdade e do poder do Senhor Jesus!" Oro para ver alguns  nesse lugar se tornar troféus igualmente notáveis do poder de Deus.  Certamente espero ver, em todo o nosso país, as pessoas mais improváveis  convertidas. Será soada a grande trombeta, e grandes pecadores  descobrirão que chegou o dia da sua redenção. Desde o leste até ao  oeste, as pessoas muito distantes se reunião para a grande festa do  amor, ao passo que a igreja, atônita, exclamará: "Estes, onde eles  estiveram?" A igreja não poderia ter imaginado que Saulo de Tarso, que  antes perseguia a igreja, tivesse se tornado seu apóstolo principal,  porém assim aconteceu, e assim será sempre enquanto o Rei se sentar no  seu trono. Ele ainda descerá e selecionará entre as fileiras do inimigo  os soldados mais valentes, e os obrigará a se curvar diante da divina  majestade, e depois ele os alistará debaixo do seu próprio estandarte, e  os enviará conquistando e para conquistar. A presa será tirada dos  poderosos, e o cativo pela lei será liberto. A graça ainda superabundará  onde o pecado abundava. Assim como o presente caso, a maravilha da  graça será tanto mais memorável por causa da singularidade da pessoa que  dela desfrutar. Que Deus faça de você semelhante pessoa e semelhante  maravilha também!
II. O próximo aspecto com o qual o Senhor poderia ter se  maravilhado foi o objeto em favor de quem o centurião exercia fé.
Ele tinha um empregado que foi atingido pela  paralisia. Tratava-se de uma enfermidade que, naqueles tempos, era  totalmente incurável. No caso do referido empregado, a enfermidade  estava fortemente agravada, pois ele estava "em terrível sofrimento". O  enfraquecimento da sua constituição, na batalha com sua paralisia,  provocava agonia incomum. Chegara ao auge, pois ele estava a ponto de  morrer; entretanto, embora nunca se ouvira falar de uma cura da  paralisia, e embora este fosse um milagre espantoso se chegasse a ser  realizado, esse centurião acreditava que Cristo pudesse curar a  paralisia e restaurar o empregado à saúde perfeita. Sim, aqui havia fé  que pegou na mão uma impossibilidade, e a jogou para o lado; fé que  sabia que todas as coisas eram possíveis com um Salvador onipotente; fé  que via em Cristo esse Salvador onipotente, e por isso não levantava  dúvidas quanto à sua capacidade ou boa vontade.
É esse o tipo de fé que gostaria que todos  exercêssemos, meus caros ouvintes. Vou supor, caro amigo, nesta noite,  que o seu caso, o seu caso pecaminoso, é semelhante ao caso físico do  empregado do centurião. Você acredita que seu pecado é incurável, ou  seja, imperdoável. Você também acha que se esse pecado fosse perdoado,  você não deixaria de voltar para ele, assim como um cão volta ao seu  vômito. Você, portanto, considera seu caso totalmente sem esperança. Oh,  não pense assim; não pense assim! Aquele que pode curar a embriaguez  que se acha em uma pessoa, ou a tendência à concupiscência que se  esconde em outra, consegue expulsar todo e qualquer tipo de pecado,  lançá-lo fora com uma só palavra. Não existe transgressão sombria demais  para o sangue de Jesus remover a mancha, e não existe propensão ao  pecado que seja forte demais para seu Espírito controlar e finalmente  destruir. As curas de todos os casos de enfermidade espiritual são  possíveis com nosso Senhor. O pecador mais imundo ainda poderá se tornar  o santo mais brilhante. Você pode ficar sentado em toda a sua imundície  moral, diante das portas do inferno, porém para você é possível ficar  em pé, no brilho da santidade, mas dentro daquelas portas você ainda  poderá ser incluído, na perfeição da pureza, com todos os demais que  lavaram as suas roupas e as alvejaram no sangue do Cordeiro. A fé do  centurião era esta - acreditava que não havia impossibilidades com  Cristo, e ele deixou seu empregado paralítico naquelas mãos graciosas e  poderosas. E agora, meu amigo, a sua fé, se é para salvá-lo, deve fazer a  mesma coisa. Ela precisa entender o pior aspecto do seu caso, mas sem  deixar de crer que Cristo pode salvar até às últimas consequências. O  seu pecado foi agravado - confesse-o. O seu pecado é imperdoável em si  mesmo; a justiça escreve isso com pena de ferro, e nenhuma lágrima de  arrependimento ou esforço pela reforma pode apagá-lo. Somente a graça  soberana, proveniente do altar do sacrifício expiador, pode pôr fim ao  pecado. Confesse tudo isso. Você foi longe demais para ter esperança -  confesse esse fato. Sua condição natural é perigosa - confesse esse  fato. Descreva o seu caso de modo tão ruim quanto você pode imaginar -  e, realmente, ele é assim -, e depois de ter feito isso, diga: "Mas,  apesar de tudo, creio que Deus em Cristo Jesus pode me perdoar, e coloco  a minha alma culpada ao pé da cruz onde a expiação foi feita pelo  pecado; creio que Jesus ali removeu a minha culpa, e que assim tenho paz  com Deus." Se você acredita ser um pecador pequeno, e que, por sua  culpa ser moderada, Cristo pode salvá-lo, você nada sabe a respeito da  salvação; mas se reconhece que seu pecado é grande, hediondo, agravado,  merecedor da perdição, você pode vir assim até Jesus e glorificar o seu  nome. Se você se reconhece como o principal dos pecadores, porém, crê  que ele poderá salvá-lo, e se confia nele para fazer isso, você tem uma  fé maravilhosa, fé esta que o levará ao céu. Não é o caso de nos  esquecer da culpa do nosso pecado para então confiar em Jesus; mas de  nos lembrarmos do nosso pecado com mais vergonha e pesar do que nunca,  e, mesmo assim, confiar no sangue purificador de Jesus - isso é fé, essa  é a maravilha dos céus. Seja de bom ânimo, ó pecador, se toda a sua  confiança repousa no Mediador, a despeito de dez mil vezes dez mil  pecados que acusam, você é um homem salvo. Oxalá outros (assim como  você) dependessem totalmente do mesmo Salvador que perdoa os pecados!  Que o Espírito Eterno os atraia agora a Jesus, e lhes dê a salvação  imediata pela fé preciosa num Cristo precioso. A fé é a questão vital, a  única coisa necessária, que ela seja operada em você agora! A fé pode  remover, sem demora, as dificuldades que lhe atravessam o caminho e  traçar para você um caminho reto para a glória, pois a fé opera  maravilhas e, para ela, todas as coisas são possíveis:
Ela diz às montanhas, Saiam!
Quando ficam  entre Deus e a alma;
Ela enfaixa o  coração partido,
E torna sãs as  consciências feridas;
Ordena que os  pecados, de cor de carmesim
Fiquem  imaculadas e brancas como a neve,
E torna tão  grande pecador como eu
Tão puro como  anjo da luz.
III. Em terceiro lugar: outra maravilha foi a  energia da fé desse homem, que o levou a lidar com o caso de modo tão  prático.
Ai, ai, da forma vulgariza da que é assumida  pela religião da maioria dos homens! Eles a adotam em segunda mão, ou a  recortam e a formam à maneira de outra pessoa. Mas esse centurião não  era assim. Não sei se ele já chegou a ter um amigo religioso, mas,  provavelmente, teve a oportunidade de ver alguns dos Livros da  Escrituras, os leu e descobriu que Jesus Cristo era o que professava ser  - o Filho de Deus e o Salvador dos homens. Tendo chegado a essa  conclusão, confiou imediatamente nele como questão de fato, e não mera  questão de profissão de fé; e tendo confiado no Salvador, agiu à altura  dessa confiança de modo prático e com bom senso. Sentou-se para pensar e  considerou: "Sou um capitão; digo a um soldado 'Vá' e ele vai; digo a  outro 'Venha' e ele vem. Mando meu empregado que me atende fazer  determinada tarefa, e ele a realiza; ora, esse Jesus Cristo é um  comandante muito maior do que eu; todos os poderes da natureza,  portanto, forçosamente estão sob seu domínio e controle; bastará a ele  falar uma coisa, e ela será feita; se ele mandasse os céus se vestirem  de escuridão, eles se vestiriam com o pano de saco, e se ele ordenasse  que as nuvens desaparecessem e que o sol brilhasse ou ficasse parado, o  sol obediente reconheceria o seu Mestre e renderia a ele homenagem  voluntária." O centurião chegou a essa conclusão segundo as melhores  regras de argumentação, e sua mente prática fez uso imediato da  inferência. Que Jesus pode cumprir a sua vontade com uma palavra é o  mínimo que você e eu também devemos inferir, na base da sua natureza e  ofício, e fica claro, de conformidade com o seu caráter e com suas  promessas, que ele está disposto a exercer esse poder. "Pois bem", disse  o centurião, "só preciso ir pedir a ele, e se o coração dele se comove  com minha história dolorosa, e ele precisará dizer apenas uma única  palavra e, por pior que seja a condição do meu empregado, este será  curado imediatamente, e eu serei o patrão feliz de um empregado  saudável." Ora, esse raciocínio era excelente. Tratava dos fatos como  fatos, e não (como nós fazemos muitas vezes) como se fosse ficção  piedosa. Esse soldado piedoso não era apenas um teórico, nem sustentador  superficial de um credo impraticável, mas praticante da palavra, que  acreditava, de modo genuíno e prático, naquilo que sustentava ser  verdadeiro.
Ora, peço a cada um aqui que possa tratar o  evangelho como questão da vida diária; tratem-no como questão de fatos, e  que ninguém entre vocês trate com ele de modo leviano, nem brinque com  ele, nem pense que seja mera sutileza para ser considerada por  doutrinários, ou tema de disputa para teoristas que meramente pensam e  falam. Peço a vocês que façam da única coisa necessária a primeira e  mais genuína atividade da sua vida. Se alguma coisa é real, por certo a  salvação eterna deve sê-lo. A sua condição diante de Deus não é assunto  para a terra da fantasia; pertence aos afazeres da vida diária dos  homens, vida prática e de bom senso. Veja, agora, como está a situação.  Você violou a lei de Deus. Você está culpado. Deus precisa castigar  você, conforme exige a justiça eterna. Mas o Senhor Jesus entrou no  mundo a fim de fornecer um caminho mediante o qual, sem desonra à  justiça de Deus, o pecado poderá ser perdoado. Aquele caminho era a  substituição. Cristo assumiu o lugar do pecador, foi castigado com o  castigo do pecador, e suportou a ira de Deus pelos pecadores. Mas para  quais pecadores? Para todos os pecadores? Não, mas para todos quantos  nele confiarem. Eu, portanto, sendo culpado, venho a ele e nele confio.  Eu tenho boas razões para confiar. Ele é Deus, e ele foi nomeado por  Deus para ser propiciação para o pecado. Aquilo que Deus determina e em  que Deus se deleita posso aceitar de modo veraz e confiante. Eu o aceito  mesmo. Agora confio a Jesus a minha alma. Então, sou salvo. Meu pecado  se foi; minha iniquidade cessou de existir; sou uma alma salva. Venha  raciocinar assim com você mesmo. Oh, eu oro para que o Espírito Santo  ajude você a fazer assim. Seja este o assunto do seu solilóquio: "Se eu  fosse onipotente, como Cristo, seria tão fácil remover uma montanha  quanto um montículo de terra; e, portanto, é tão fácil para ele remover  meus pecados grandes quanto os pecados pequenos de outra pessoa; se  existe um fluido universal de limpeza, este pode remover as manchas  grandes tanto quanto as manchas pequenas e, portanto, o sangue de Cristo  pode lavar meus pecados grandes tanto quanto os pecados menores de  outras pessoas. Com um só movimento da mão, a conta é marcada "paga": é  tão fácil assinar um recibo de cinquenta mil dólares quanto um recibo de  dez centavos; se, pois, Jesus Cristo, que já pagou as dívidas dos  crentes, me declara perdoado e absolvido, a transação é feita; ele tem o  poder de realizar isso, e confio no mérito do seu sangue expiador.  Oxalá você fizesse isso agora! Repito: oxalá você fizesse isso agora!  Esses domingos, como passam voando! O seu tempo está se esgotando e,  juntamente com o seu tempo, esgotam-se as suas oportunidades para achar a  misericórdia! Não parece ter passado muito tempo depois de termos  ficado no mais profundo inverno, e agora estamos chegando perto do dia  mais longo do verão e, dentro em breve, as asas do tempo nos  transportarão de novo para os meses da geada e da neve. Durante quanto  tempo vocês vão ficar manquejando entre duas opiniões? Essas demoras vão  continuar para sempre? Vocês sempre ouvirão a respeito dessas coisas,  mas sem prestar atenção a elas? Peço a vocês, considerando o tempo que  voa - e a certeza da morte para cada um de vocês, e a ignorância que têm  da hora determinada para a morte -, busquem o Senhor enquanto ele pode  ser achado, invoquem-no enquanto ele está perto. Tomem posse da vida  eterna; e, assim como o centurião, vocês devem vir e confiar em Cristo  para salvá-los; e por mais maravilhosa que seja a sua fé, toda a honra  pertencerá a ele, bem como a glória ao seu bendito nome.
IV. Outro aspecto maravilhoso na fé do centurião foi que ele não  pediu um sinal.
Muitos dos grandes homens da Antiguidade,  quando Deus estava a ponto de cumprir uma promessa, precisavam ser  fortalecidos para o serviço, recebendo um sinal. Gideão era um homem de  grande fé, porém, precisava que a porção de lã ficasse molhada enquanto  tudo em volta estivesse seco e, depois, que ela ficasse seca. Precisava  ouvir o sonho do soldado a respeito do pão de cevada que ficava sobre a  tenda de Mídia. Queria sinais e maravilhas, senão seu coração teria  ficado fraco. Com muitas outras pessoas, o desejo de receber sinais e  maravilhas tem sido uma grande barreira contra a fé singela. O  centurião, porém, não falou do jeito de Naamã: "Eu estava certo de que  ele sairia e moveria a mão sobre o lugar afetado e curaria o  paralítico." Não, não precisava que Jesus chegasse à casa e dissesse uma  palavra, nem fizesse uma oração, nem sequer tocasse o enfermo com a sua  mão. "Não, Senhor", disse ele, "não há necessidade de vires; meu servo  está longe, no leito da enfermidade e a ponto de morrer; não precisas  fazer o mínimo movimento; dize uma só palavra, e ele será curado. Para  ti, a distância não é nada; tua palavra, a uma distância de quilômetros,  pode curar tão bem como o teu toque." Mas que grande fé era aquela! O  centurião não precisa de nenhum sinal visível, seu olho espiritual vê o  invisível, e seu coração está firme, confiando no Senhor. Sua fé  inabalável não exige nenhuma muleta. Ele nada exige, mas somente ora  para o Mestre falar a palavra. Não acho que ele esperava ouvir o Senhor  falar aquela palavra em voz alta, pois em Lucas é descrito, pedindo a  Jesus, que nem sequer fale uma palavra quanto "dizer numa palavra".  Talvez se lembrasse da linguagem do salmista ao cantar: "Ele enviou a  sua palavra e os curou, e os livrou da morte" (Sl 107.20), e ele confiou  naquela mesma palavra criadora e onipotente para a restauração do seu  empregado.
Agora, irmãos, transfiram essa verdade a vocês  mesmos. Peço ao Espírito Santo que muitos aqui tenham a fé que não  cobiça sinais e maravilhas. Alguém disse: "Eu poderia acreditar que eu  fosse salvo se sentisse alguma obra terrível da lei dentro do meu  coração; já ouvi falar a respeito de outros que estavam a ponto de se  desesperar, e que sofreram a tentação de se suicidar; e se eu me  sentisse da mesma maneira que eles, então, poderia achar que houvesse  graça para mim." Ah! Pobre simplório! Você não sabe o que está dizendo.  Fique contente em estar livre de coisas terríveis como estas, pois se  alguns saíram delas para chegarem a Cristo, receio que alguns tenham  sido levados por elas à forca ou a uma morte por suicídio. Não desejem  os terrores do inferno, mas aceitem as ternas misericórdias de nosso  Deus, pelas quais do alto nos visitará o sol nascente. Horrores e  pavores, se vocês os sentissem, não os ajudariam; podem acreditar em  mim, que fariam exatamente o inverso. Outro diz: "Não, mas gostaria de  ter uma sensação extraordinária; se neste dia o sermão me derrubasse,  conforme ouvi falar que alguns o foram nos reavivamentos irlandeses; se  eu sentisse alguma emoção física, mental ou espiritual, tal qual nunca  experimentei antes, eu diria que era o dedo de Deus." Meu caro ouvinte,  para que ser tão tolo? A palavra de Deus diz que, se confiar em Jesus  Cristo, você está salvo. A palavra de Deus não basta? Você não quer  aceitar a certeza dada por Deus sem determinar uma ou outra condição  para seu Salvador cumprir? Alguns entre vocês falam e agem como se o  grande Deus devesse fazer o que vocês querem, senão, vocês não vão crer  nele. Já conheci pessoas que tinham, no passado, o hábito de doar carnes  assadas e outras ofertas aos pobres nas festas do Natal, mas desistiram  de fazer isso porque os que vinham receber os presentes queriam  selecionar ou colocar defeito. Certa mulher chegou a devolver seu quarto  de carne porque queria um pedaço de carne para fazer de panela, e  exigia esse pedaço. Não achei estranho quando as pessoas que eram  caridosas não tinham licença de fazer o que queriam com aquilo que era  delas, e que cessaram de distribuir as esmolas como faziam antes. A  razão nos ensina que, quando recebemos benefícios, não devemos ditar  ordens aos nossos benfeitores. E Deus, quando ele salva a sua alma, deve  permitir que um mendigo como você escolha o modo como sua salvação deve  ser realizada? Você vai exigir determinadas condições, senão, não  condescenderá em ser salvo? É infame semelhante soberba. Tenha vergonha,  peço-lhe, tenha vergonha de continuar a se permitir tal coisa. Não  continue desejando novas comprovações da veracidade de Deus, na forma de  sentimentos e excitações. A palavra de Deus merece que você confie  nela. Se você tivesse esses sentimentos, qual seria o valor da evidência  deles se os examinasse como homem com mente sã, e não como fanático? Se  você se encontrasse com um anjo nesta noite, e ele lhe dissesse que  você iria ao céu, você não teria nenhum motivo para acreditar nele, a  não ser que crê em Jesus Cristo. Um anjo que lhe oferecesse conforto  enquanto você continuasse incrédulo seria um diabo, ainda que ele  brilhasse como um anjo da luz. Mas se você crer no Senhor Jesus Cristo e  for batizado - a promessa de Deus declara que você está salvo, e para  que vai querer a declaração de um anjo? A palavra do Senhor Deus não é  suficiente? É necessário o testemunho de uma criatura para tornar a  palavra do Senhor digna de crédito? Outros, porém, dizem: Não; mas nos  sentiríamos consolados se pudéssemos ter sonhos notáveis. Ora! O que  existiria para garantir à alma a sua salvação nas noções vãs e travessas  da mente, quando estas estão soltas das rédeas da razão? É possível que  algum sonho se cumpra uma vez, por acaso, mas, em noventa por cento das  vezes, é disparate. Se boas doutrinas e advertências sábias fossem  aplicadas ao nosso coração mediante um sonho, ele não deixaria de  receber nossa mais sincera atenção; mas, se a presunção tivesse mil  visões para a confirmar, nem por isso seria menos perigosa. Seria uma  coisa terrível pendurar a nossa confiança numa coisa tão frágil que é um  sonho. Não, não, senhor; você tem a palavra de Deus, e não quer crer  nela porque você alega que o sonho o ajudaria e confirmaria a sua  confiança, como se Deus não merecesse tanta confiança quanto os seus  sonhos! Oh, não seja tão estulto, mas, assim como esse centurião, diga:  "Mas dize apenas uma palavra." Meus irmãos, nós devemos aceitar a pura e  simples palavra de Deus em Jesus Cristo como a base da nossa fé, posto  que não se pode depender de qualquer outro fundamento, nem por um minuto  sequer. Você precisa ser sustentado pela promessa dele, e não pelo seu  sentimento. Você não consegue consentir nisso? Se fizer assim, você terá  paz. Se chegar dessa forma a Deus, verá muitos sinais e muitas  maravilhas, dentro em breve, e de tipo melhor do que você já imaginou em  sonhos. Sua alegria será como um rio, e sua paz transbordará. Mas, em  primeiro lugar, você deve vir a Cristo sem essas outras coisas. Venha,  aceite literalmente o que Deus diz, e honre a Cristo ao crer nele sem  outra coisa para confirmar o que ele diz, e você descobrirá que a bênção  virá a você depois. Esse era um aspecto notável da fé do centurião -  ele creu sem exigir um sinal.
V. Em quinto lugar, um aspecto muito notável na fé do centurião  era sua convicção de que Cristo podia curar seu empregado de imediato.  "Mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado."
Normalmente, uma luta bem-sucedida contra a  enfermidade exige tempo. O cirurgião precisa expulsar dos seus fortes  entrincheiramentos o diabo da enfermidade, precisa correr atrás dele  enquanto ele foge de uma defesa para outra, e, talvez mesmo assim, ele  possa não conseguir deslocar o seu inimigo. É possível que decorram  muitos meses cansativos, ou até anos, antes que algumas formas de  enfermidade sejam erradicadas. Mas o centurião acreditava que a palavra  de Cristo pudesse remover a paralisia, e isso imediatamente. E por que  não? A onipotência nada sabe a respeito do impedimento do tempo, nem  leva em conta qualquer dos demais impedimentos que estorvam o progresso  mortal. Para o Deus eterno, o tempo não é nada; para ele, mil anos são  como um dia, e, por outro lado, um dia é como mil anos. A fé que salva  firma-se na seguinte verdade: Cristo Jesus, que agora está à direita de  Deus, pode, num só momento, salvar a alma. O ladrão moribundo não tinha a  idéia de que sua salvação ocuparia um mês. Disse, simplesmente: "Jesus,  lembra-te de mim quando entrares no teu Reino", e a resposta foi: "Hoje  você estará comigo no paraíso" salvo daquele dia, salvo de imediato. O  perdão do pecado não é o resultado de semanas de jejuns, de meses de  arrependimento, de anos de mortificação. O olho do pecador olha para  Cristo, e o pecado do pecador desapareceu de imediato.
No momento em que crê, o pobre pecador,
E confia no seu Deus crucificado e cheio de  amor,
Recebe de imediato o seu perdão,
Mediante o sangue de Cristo a plena salvação!
O novo nascimento da alma, a regeneração da  nossa natureza mediante o Espírito Santo, não é uma obra que precise de  um período muito longo de tempo. É num só momento que o Espírito de Deus  visita o nosso coração e transforma a pedra em carne. Pode parecer que  eu esteja falando sem pensar bem, mas não deixo de falar as palavras da  verdade ou da sobriedade quando digo que, se o Senhor revelar a  plenitude do seu poder, os pecadores sentados na parte inferior dessas  galerias ou desse auditório podem ser salvos antes que o relógio marque  mais um segundo. Quem poderá refrear o Senhor e dizer o que ele pode ou  não pode fazer? Com ele, todas as coisas são possíveis, e  acrescentaremos, portanto, que se cada um de vocês se sentisse levado a  confiar em Jesus, aquilo que eu disse ser possível, seria literalmente  feito; cada um de vocês sairia daqui salvo e dizendo: "Bendito seja o  nome do Senhor que me tirou de um poço de destruição, de um atoleiro de  lama; pôs os meus pés sobre a rocha e firmou-me num local seguro. Pôs um  novo cântico na minha boca, um hino de louvor ao nosso Deus" (Sl 40.2).  Bom Senhor, faça isso para que seja louvado o teu nome!
VI. E, de novo: mas um aspecto da maravilha. No decurso do evento  inteiro, destacava-se a profunda humildade do centurião, mas essa  humildade, em vez de enfraquecer a sua fé, somente a reforçou.
A soberba vai de mãos dadas com a presunção,  mas a humildade é a companheira da confiança em Cristo. Aquele que acha  que basta pouca graça e poder para salvá-lo, e que ele é, na realidade,  melhor do que a maioria, e tão bom como qualquer outro, não tem a mínima  possibilidade de crer em Cristo. Pode ter a capacidade de presumir, mas  é incapaz de crer. Sem dúvida, a presunção cresceria bem no solo do seu  coração, mas somente um coração quebrantado torna-se um coração crente,  e um coração com certeza em Cristo precisa ser, antes de tudo, um  coração humilde.
O centurião tinha prestado bons serviços aos  judeus. Ele amava a nação deles e construíra para eles uma sinagoga.  Eles o tinham em alto conceito, porém, ele era modesto em relação a si  mesmo. Ele disse: "Senhor, não mereço receber-te debaixo do meu teto",  não disse apenas sou indigno da bênção de receber-te em tamanha comunhão  contigo a ponto de tu pisares no meu assoalho. O homem estava  profundamente humilhado, e só com o espírito humilhado você também pode  se tornar crente. Já conheci muitas pessoas que, depois de terem sentido  alguma consciência do seu pecado, falaram imediatamente: "Não posso  crer em Cristo." Então, você imagina, pois, que se tivesse menos pecado,  poderia crer? Não; posso dizer-lhe que não é assim. Se seu senso de  pecado for um impedimento à fé, seu senso de sua própria retidão seria  uma barreira infinitamente maior. Crer que serei salvo porque não sou  pecador não é fé; mas saber que eu sou um dos piores dos pecadores, e  muito culpado e muito vil, porém, que coloco em Jesus Cristo a minha  confiança - isso é fé. Ao olhar para meus pecados, gosto muito de olhar  também para a cruz. Se eu prestei algum serviço a Deus, e se o Espírito  Santo me ajudou a realizar algum bem na igreja, dificilmente se trata de  fé se digo que, por isso, estou em paz. Ora, isso seria ver, e não  crer. Mas quando vejo as minhas imperfeições, e lastimo as minhas  loucuras, e coloco minha boca na própria poeira, e então digo: "Por essa  causa também sofro, mas não me envergonho, porque sei em quem tenho  crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o que lhe  confiei" (2Ti 1.12) - isto é a fé; e oro a Deus para você a exercer  todos os dias. Se meus pecados fossem piores do que realmente são, ou se  eu pudesse ter mais profunda apreensão deles, nem por isso eu deixaria  de me regozijar que ele possa salvar até às últimas consequências os que  por ele se aproximam de Deus, e minha alma não deve demover aquela  rocha de confiança. Não imaginem, meus irmãos, que para terem fé vocês  precisarão criar a idéia de que haja em vocês alguma coisa boa que possa  recomendá-los a Cristo. Vocês estão navegando no rumo totalmente  errado, quando sua confiança depende do próprio eu. A fé é você chegar  cego a Cristo e crer que ele pode abrir os seus olhos; é chegar até ele  pobre, e crer que ele o tornará rico; é chegar a ele como quem não  possui nada e aceitar o que ele tem para ser seu para sempre e sempre;  é, na realidade, ver a morte inscrita na criatura, e achar a vida em  Cristo; é ver a corrupção inscrita na melhor de sua retidão, e a contar  como escórias e esterco, para então aceitar a Jesus Cristo como sua  sabedoria, sua retidão, sua santificação, sua redenção, e seu tudo.
Confio, portanto, que acabo de expor a  natureza da fé, do modo mais singelo que eu saiba falar. No entanto, por  mais singela que seja essa declaração, se algum de vocês assim crê,  glória será dada a Deus por isso, pois ninguém nunca chegou a crer a não  ser que o Espírito Santo o tenha levado a crer. "É possível?", pergunta  alguém, "que seja tão simples assim?" Eu gostaria de observar que é  justamente a singeleza da fé que a faz parecer difícil. Se a fé fosse  mesmo difícil, muitas pessoas estariam tentando alcançá-la; pois ela  consiste em nada mais do que "Creia e viva", por isso, os corações  orgulhosos não se renderão a ela. É tão singela como os primeiros  elementos da ortografia, e, por causa disso, as pessoas não conseguem  compreendê-la, porque a soberba delas faz questão de cercá-la de  mistério. Os homens fazem questão de parecerem sábios, e por isso fazem  para si mesmos um enigma daquilo que uma criança pode entender. O que é  necessário para um homem conhecer a Cristo é que seu falso conceito de  educação seja removido dele por joeiramento; quero dizer que tudo que  ele imagina ser educação seja desmontado, a fim de que ele seja feito  uma criança para se sentar diante dos pés de Jesus e confiar em Jesus  como uma criança acredita na palavra do seu pai. A maioria entre vocês  não precisa ir subindo, mas de ser demolido. Não é tornar-se bom, mas  reconhecer que você não é bom, que é a questão principal da qual devem  cuidar. Não é ficar melhor na sua própria estima, mas sentir-se  totalmente arruinado na sua própria estima, que deixará você pronto para  receber a Cristo. É disso que você precisa, e quando você o receber,  creio que então virá, e, com boa vontade, tomará posse deste modo  bendito e singelo da salvação, apropriado para o mais vil, porém  apropriado para o mais moral; adequado, conforme alguém disse certa vez,  a pobres mulheres velhas que estão no leito da morte, e igualmente  adequado para os mais profundos dos filósofos; adequado para os pobres,  adequado para os ricos; adequado para mim, adequado para você. Quem dera  que você aceitasse meu Senhor para ser seu alto refúgio. Que meu Senhor  e Mestre conceda que ele mesmo se maravilhe diante da fé de vocês,  caros amigos; e, embora vocês não tenham tido nenhuma fé antes, que  possam agora regozijar-se porque o Senhor visitou vocês, e ajudou vocês a  crer no seu nome.
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