“Elhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu  com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não  tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus  celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os  meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para  muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta  noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o  que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus” (Lucas 12:16-21).
Assim falou Jesus à multidão reunida que tinha acabado de ouvi-lo reprovar um  homem que não tinha visto nele mais do que um árbitro para uma contenda por  dinheiro familiar. “Cuidado com a cobiça,” ele disse; e então contou a parábola acima para explicar o motivo. A Parábola do Rico Tolo é um espelho para a alma.
O agricultor desta parábola não era algum homem pobre que conseguiu  riqueza subitamente. Ele já era rico quando uma grande colheita fez os seus já  grandes celeiros parecerem pequenos. Não há indicação de que nenhuma das  riquezas do agricultor tivesse sido mal ganha. Por tudo o que sabemos, ele ganhou  cada pedaço dela com trabalho duro e gerenciamento prudente. Esta história não é  sobre fraude. É sobre tolice. O agricultor, que tinha sido tão hábil gerindo  sua propriedade, tornou-se um simplório ao gerir a vida. Ele cometeu algumas tolices muito óbvias.
Primeiro de  tudo, ele cometeu o engano de pensar que era o proprietário de sua  riqueza. “Minhas colheitas”, “meus bens”, “meus celeiros” e até “minha alma”, ele disse. Que arrogância! Que ingratidão! Como se ele, e somente ele, tivesse conseguido tudo isso. Não há nenhuma palavra pronunciada de agradecimento ao grande Deus que nos dá “do céu  chuva e estações frutíferas, enchendo os vossos corações de fartura e de alegria” (Atos 14:17), para não falar de “vida, respiração e tudo o mais” (Atos 17:25).  Em qualquer tempo em que pensarmos que merecemos as coisas que estamos usando, far-nos-ia bem verificar a relação da terra ou da casa em que  estamos. Somos todos inquilinos aqui.
A  segunda tolice foi pensar consigo mesmo sobre que disposição ele deveria dar a  suas bênçãos inesperadas (12:17). Ele deveria ter consultado Deus porque o mundo e  toda a sua plenitude são dele (Salmo 50:12). Mas isso nunca lhe passou pela cabeça.  Nem ele pensou nos celeiros vazios das pessoas pobres e lutadoras para quem  suas sobras teriam significado livramento. Ele só pensou em si mesmo.
Sua terceira  tolice está em supor que o que ele pudesse colocar num celeiro fosse tudo o que ele precisava. Olhando sobre toda sua abundância, ele disse  consigo mesmo: “Consegui fazer!” Ele pensava que estas coisas significavam  conforto assegurado, felicidade e segurança. Admiramo-nos sobre em que mundo ele  vivia. Como agricultor, praga, seca, inundação e roubo não lhe eram estranhos. É preciso cegueira incomum para imaginar que haja qualquer segurança em  coisas materiais (Mateus 6:19). Mas é preciso estupidez ainda maior para  imaginar que espíritos formados à imagem do Eterno possam jamais ficar satisfeitos e realizados com a mera matéria, mesmo que ela fosse eterna (Eclesiastes  5:10-11; 6:7). Fomos feitos para “o Deus  vivo” (Salmo 42:2; Atos 17:26-28) e a vida provém do coração, não do banco  (Provérbios 4:23).
Finalmente, nosso  agricultor “bem sucedido” esqueceu-se do tempo e da morte. Ele estava pensando em muitos anos, mas Deus disse que não seria nem mais um dia.  Sua riqueza foi para um lado e ele foi para outro. Não há bolso numa  mortalha. Salomão fala freqüentemente desta verdade em Eclesiastes. “Também aborreci todo o meu trabalho, com que me afadiguei debaixo do  sol, visto que o seu ganho eu havia de deixar a quem viesse depois de mim. E  quem pode dizer se será sábio ou estúpido?” (Eclesiastes 2:18-19).  Não há tolice imperdoável maior do que planejar a vida sem considerar a  morte, e construir a vida sobre coisas que a morte certamente tirará. A evidência  de nossa mortalidade e incerteza da vida não é apenas premente, é  irresistível. Nenhuma verdade sobre nós mesmos é tão evidente como o fato de que vamos morrer, e morrer em algum tempo imprevisível. E a única coisa que  sobreviverá à morte é uma relação segura com Deus. Deveremos, portanto, derramar  todas as nossas vidas e tesouros para ele, amontoados, comprimidos,  transbordando.
Diz-se  que Alexandre o Grande pediu para ser enterrado com suas mãos colocadas de  tal modo que todos poderiam ver que elas estavam vazias. É também relatado que,  quando a cripta do Imperador Carlos Magno foi aberta, ele foi encontrado  sentado em seu trono, uma figura agora só ossos, apontando para um texto em uma Bíblia aberta: “Que aproveita ao homem,  ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8:36). É uma pergunta muito boa.
–por Paul  Earnhart
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