11 de fev. de 2011

O Mito da Neutralidade - Dr. Rousas John Rushdoony




Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

Um dos mitos mais perniciosos e malignos que praguejam a raça 
humana é o mito da neutralidade. Ele é um produto do ateísmo e antiCristianismo, 
pois pressupõe um cosmos de factualidade não-criada e sem 
sentido, de fatos brutos ou sem sentido. Porque todo ato e fato do cosmos é 
então sem sentido, e também sem relação com outro fato, todos os fatos são 
neutros.  
O Absurdo da Neutralidade 
A palavra “neutro” é curiosa. Ela vem do latim “neuter”, significando 
“nem um, nem outro”, e tem referência original ao gênero, isto é, nem macho 
nem fêmea. Ela ainda tem esse significado: um homem neutralizado é um 
eunuco, um castrado.  
Ela tem agora o significado de não tomar partido e, supostamente, a lei 
e os tribunais são “neutros”. Isso em si mesmo é absurdo. Nenhuma lei jamais 
é neutra. A lei não é neutra sobre roubo, assalto, assassinato, estupro, ou 
perjúrio: ela é enfaticamente contra essas coisas, ou deveria ser. Novamente, 
nenhum tribunal ou juiz bom pode ser neutro sobre essas coisas sem destruir 
a justiça.  
Além do mais, nem a lei nem os tribunais podem ser neutros com 
respeito a um homem acusado desses ou outros crimes. Antes, um bom 
tribunal “suspende um julgamento” pendente de testemunho. A neutralidade 
apresenta uma indiferença; um julgamento suspenso significa que qualquer 
conclusão deve ser precedida por uma análise rigorosa de evidência.  
O mito da neutralidade impede a justiça porque atribui à lei e aos 
tribunais um caráter que está em muito conflito com a própria natureza delas. 
Além do mais, é dado aos tribunais o poder de falsificar casos, como a 
Suprema Corte dos Estados Unidos habilmente o faz. Por exemplo, ao lidar 
com casos educacionais, a Corte, que tinha declarado ser o humanismo uma 
religião, não reconhecerá que a educação humanista, isto é, nosso sistema 
educacional do Estado de hoje, não é religiosamente neutra. As escolas cristãs 
são tidas como sendo “religiosas” e “não-neutras”, mas as escolas humanistas 
do Estado são vistas como “neutras”. 
A Maior Violação da Primeira Emenda 
Há uma razão para essa cegueira deliberada. Admitir que a educação é 
uma tarefa inescapavelmente religiosa, e é sempre não-neutra, significa que as 
escolas do Estado violam a Primeira Emenda. Elas são estabelecimentos 
religiosos que ensinam uma religião alheia a maioria dos cidadãos, e fazem isso 
com fundos públicos. Poucas coisas nos Estados Unidos violam mais a 
Primeira Emenda do que as escolas públicas. Desde o seu começo, a escola 
pública ou do Estado tem sido destrutiva da liberdade civil e, crescentemente, 
da fé bíblica.  
Para que a Corte reconheça esse fato seria necessário uma re-direção 
radical da vida na América. Requereria, além disso, uma mudança radical na 
Corte. A Suprema Corte dos Estados Unidos se tornou o Sinédrio, o Vaticano 
ou o Concílio Nacional do humanismo na América. Ela é uma agência 
militante e fanática da religião humanista, e usa seu poder para suprimir e 
punir os rivais da religião Federal. As sessões da Corte constituem uma versão 
moderna da “guerra santa” contra o Cristianismo.  
Ao mesmo tempo, o mito da neutralidade tem sido usado para castrar a 
teologia e as igrejas. O  American Educational Trust de Washington, D.C. 
publicou recentemente um atlas e almanaque de John C. Kimball  (The Arabs, 
1983). Kimball escreve:   
Os muçulmanos têm sempre crido fortemente que a religião diz 
respeito não somente ao que uma pessoa crê, mas o que ela faz e 
as inter-relações da sociedade. Diferente do pensamento cristão 
que vê uma clara distinção entre a dimensão secular e religiosa da 
vida, o pensamento muçulmano sustenta que idealmente o 
secular e o espiritual pertencem à mesma esfera.
Essa, sem dúvida, é a posição bíblica, que todas as coisas estão debaixo 
da lei e do governo de Deus, e qualquer divisão da vida entre o religioso e o 
não-religioso é falsa. Porque Deus é o Senhor e Criador de todas as coisas, 
não existe nenhuma esfera da vida e pensamento fora de Sua jurisdição, 
governo e lei. Sustentar que existe é negar Deus e afirmar o politeísmo. E isso 
é precisamente o que muitos teólogos têm feito. A ressurgência do Islamismo 
é devido ao reavivamento dessa premissa. 
O Botão de Van Til 
O mito da neutralidade é mais compatível com a natureza caída do 
homem. O dr. Cornelius Van Til apontou que, se houvesse um botão em todo 
o universo, o qual, se apertado, daria ao homem uma pequena esfera de 
experiência fora de Deus e em liberdade de Deus, o homem caído sempre 
estaria com o seu dedo nesse botão.  
O fato trágico é que muitos pastores assumem a existência de tal botão! 
Eles sustentam que a maior parte da vida está fora da lei de Deus, e até 
mesmo negam a validade da lei de Deus. Eles crêem de fato que o homem 
deve ser salvo na igreja, mas pode ser não-salvo fora da igreja na educação, 
política, economia e todas as outras coisas. Eles literalmente assumem que a 
maior parte do mundo é por natureza uma esfera ímpia, e assim deve 
permanecer.  
O Épico de Gilgamesh dos babilônios sustentava que apenas uma 
pequena área da vida é a preocupação dos homens, que são inescapavelmente 
ignorantes do bem e do mal porque os deuses “retém em suas próprias mãos” 
o conhecimento da maioria das coisas sublimes. Essa era claramente uma 
expressão de cinismo religioso. A teologia moderna vai mais adiante: ela vê 
Deus como indiferente para a maior parte da vida, e limita a província do 
sagrado a uma pequena esfera. Na Babilônia, as leis de “justiça” vinham do 
rei, não dos deuses. Na civilização Ocidental moderna, as leis de “justiça” vêm 
do homem, do Estado: Babilônia a Grande está em processo de construção. 
Phillip Lee Ralph, em  The Renaissance in Perspective  (1973), disse: 
“Juntamente com outros pensadores da época, Erasmo, More e Maquiavel 
compartilhavam uma convicção que, sem alguma mudança na natureza                                              
humana ou alguma alteração drástica das instituições, a ordem política poderia 
ser feita para servir aos objetivos humanos desejáveis” (75 s.). Em outras 
palavras, o mundo inteiro está fora de Deus e neutro para com Ele e, 
portanto, a boa sociedade pode ser criada fora da salvação de Deus e Sua leipalavra, e em indiferença para com Ele. Nos Estados Unidos, essa é a 
suposição de cada reunião do Presidente com o Congresso, e é a premissa da 
política moderna em todos os lugares. Começando com a premissa que 
existem esferas neutras fora de Deus, o homem termina declarando que Deus 
é totalmente irrelevante para os homens. Somos informados que essa é uma 
questão de neutralidade, quer ou não as pessoas creiam em Deus e em Sua lei. 
Em todo esse pensamento, o homem está agindo sobre a suposição que, ao 
apertar esse botão de neutralidade intelectual, as alegações de Deus são 
eliminadas ou desaparecem.  
Contudo, o fato é que Deus controla todos os botões! E Seu veredicto 
sobre o mito da neutralidade e todos os seus aderentes pode ser apenas juízo. 

Fonte: Faith for All of Life, Fev. 2004, p. 2-3.

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