10 de jan. de 2011

O Temor de Deus - Prof. Herman C. Hanko




Tradução: Mateus Mota 

 “Arrepia-me a carne com temor de ti, e temo os teus juízos” (Salmo 
119:120). 
“Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha 
presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a 
vossa salvação com temor e tremor” (Filipenses 2:12). 
“No amor não existe medo; antes, o verdadeiro amor lança fora o 
medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é 
aperfeiçoado no amor” (1 João 4:18). 
A questão que nos foi submetida, em relação a esses textos, é essa: 
como podemos harmonizar esses versículos em relação à palavra “temor”?
 1
A questão surge pelo fato de que as Escrituras, nessas passagens (e 
muitas outras poderiam ser incluídas), parecem falar sobre o temor de uma 
maneira contraditória. Paulo diz aos filipenses que eles deveriam desenvolver 
a sua salvação com temor e tremor, mas João insiste que no amor não há 
medo, que, na verdade, o perfeito amor lança fora o medo, e que este produz 
tormento. De um lado, o cristão é exortado a ter temor; de outro, é alertado 
contra o medo. 
Tanto o hebraico como o grego usam uma palavra idêntica para 
“temor”, embora ela possua dois sentidos distintos nas Escrituras. (Devo 
fazer um parêntese e mencionar que o hebraico tem muitas palavras diferentes 
para “temor”, mas a mais freqüentemente usada possui os mesmos dois 
significados do grego). 
Um dos sentidos é ter “medo” ou “terror”. Esse sentido é o mais 
comum entre nós. Se eu temo algo, estou com terror. 
O outro sentido pode ser mais bem traduzido por palavras como 
“reverência, respeito, espanto”.
2
Particularmente, prefiro a palavra “espanto” e 
penso que esse significado se aproxima bastante da idéia bíblica. 
                                                  
1
Nota do tradutor:  No inglês, em todos os versículos aparece a palavra “fear”, que pode ser traduzida 
como “temor, medo, terror, etc.”. 
2
Nota do tradutor: O autor usa a palavra “awe”, que poderíamos traduzir como “admiração, veneração, 
assombro, espanto, perplexidade”. “Awe” é um sentimento de espanto e admiração, freqüentemente 
misturado com medo.
2
No Salmo 119:120 as Escrituras se mostram claras em relação ao fato 
de que a palavra significa “terror” ou “medo”. Que isso é verdadeiro fica 
evidente, em primeiro lugar, pelo fato de que o salmista canta sobre sua 
“carne” arrepiando-se por causa do temor. Nossa carne é nossa natureza do 
ponto de vista do pecado e da fraqueza que a caracteriza. Que nossa carne 
deve tremer por temor a Deus é compreensível porque Deus é um Deus santo 
e justo, que odeia o pecado e o pune severamente nessa vida e na vida porvir. 
Nossa carne teme diante de Deus! 
Mas, em segundo lugar, é claro que a palavra usada no Salmo 119:120 
significa medo porque o versículo é um exemplo de paralelismo hebraico em 
que a primeira e segunda parte dele se explicam mutuamente. A segunda parte 
diz, “temo os teus juízos”. Facilmente se nota como elas desenvolvem uma a 
outra mais plenamente. 
No Novo Testamento a mesma idéia é encontrada em 1 João 4:18. 
Quando o apóstolo fala aqui de amor, ele se refere ao amor de Deus por nós, 
não ao nosso amor por ele. Se conhecemos o amor de Deus por nós, nunca 
precisamos ter medo dele. Nem podemos ter medo dele. Como podemos ter 
medo de chegar à presença daquele que nos ama?  O amor lança fora o medo. 
Se, por outro lado, não conhecemos o amor de Deus, então temos medo dele, 
porque somos, em nós mesmos, pecadores que certamente receberão o justo 
castigo pelo pecado. O medo nos atormenta, pois o fogo do inferno fustiga os 
nossos pés mesmo enquanto estamos aqui no mundo, somente para nos 
consumir após a morte. Mas quando o amor de Deus, revelado na cruz de 
Jesus Cristo, é derramado em nossos corações, então esse amor lança fora o 
medo. 
Mas Filipenses 2:12 fala de temor como uma virtude necessária no 
desenvolvimento de nossa salvação, pois aqui refere-se à reverência ou 
espanto. Ambas as palavras (reverência e espanto) se encaixam perfeitamente 
nesse versículo. Nós desenvolvemos a salvação que nos foi dada 
graciosamente por Deus. Fazemos isso com reverência, pois o fazemos diante 
da presença de Deus, como um ato de adoração ao Altíssimo. E 
desenvolvemos nossa salvação com espanto, pois estamos cheios de espanto 
diante da grandeza do nosso Deus, que nos concedeu tão gloriosa salvação. 
Porque a Escritura usa a mesma palavra com significados diversos, deve 
haver uma relação entre os dois significados. Entendo que essa relação se 
encontra nas idéias que mostrarei a seguir. 
Porque sabemos que merecemos com justiça os mais terríveis 
julgamentos e punições de Deus pelos nossos pecados, nos colocamos diante 
dele com reverência e espanto. Maravilhamo-nos que ele, por mera graça e 
sem qualquer mérito da nossa parte, nos fez objetos de seu amor e nos deu 
Cristo, seu próprio Filho, a fim de nos tornar seu povo. À medida que Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9) 
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3
ponderamos sobre as bênçãos que são nossas por causa de seu amor, tal 
reverência e espanto aumentam. 
Se nos envolvêssemos numa conspiração para matar uma rainha, o 
simples fato de sermos pegos e considerados culpados nos encheria de terror 
ao sermos arrastados diante de sua presença; mas se ela não só nos perdoasse, 
mas nos tornasse herdeiros de seu trono, certamente nos encheríamos de 
espanto por tamanha bondade imerecida, e seríamos incapazes de falar da 
rainha com algo senão reverência. Deus fez infinitamente mais do que isso 
por nós. 
A segunda relação entre os dois significados do termo é essa: mesmo 
tendo sido salvos de nossos pecados, e em espanto pela grandiosidade da 
misericórdia de Deus para conosco, certa medida de medo permanece em 
nossos corações. Mesmo os santos, quando confrontados com a santidade de 
Deus, sentiram certo terror (cf. Isaías 6). Tal terror se manifesta 
apropriadamente em reverência e espanto. O temor é, portanto, ter tanto 
receio de ofender a Deus com nossos pecados, tendo ele feito tanto em nosso 
favor, que somos cuidadosos em obedecê-lo em tudo o que fazemos. Eis 
porque “o temor do SENHOR é o princípio da sabedoria”. Portanto, nós 
“cumprimos os seus mandamentos”, e cantamos o seu “louvor” (Salmo 
111:10). 
Fonte: http://www.cprf.co.uk/

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