5 de jan. de 2011

Como Não Cometer Idolatria ao Dar Graças - Jonathan Edwards e a verdadeira ação de graças - John Piper




Tradução: Marina Boscato 
Revisão: Felipe Sabino 

Jonathan Edwards tem uma palavra para o nosso tempo, que 
dificilmente seria mais penetrante se ele estivesse vivo hoje. Tem a ver com o 
fundamento da gratidão. 
A verdadeira gratidão ou agradecimento a Deus, por sua 
bondade para conosco, surge de um fundamento lançado antes: 
amar a Deus pelo que Ele é em si mesmo; enquanto a gratidão 
natural não tem tal fundamento antecedente. As comoções 
graciosas de afeição grata para com Deus, pela bondade recebida, 
sempre procedem de um estoque de amor já presente no 
coração, estabelecido em  primeiro lugar sobre outro 
fundamento, a saber, a própria excelência de Deus. 
1
Em outras palavras, a gratidão que agrada a Deus não é, em primeiro 
plano, um deleite nos benefícios dados por Deus (embora isso faça parte 
dela). A verdadeira gratidão deve estar enraizada em algo que vem antes, isto 
é, um deleite na beleza e na excelência do caráter de Deus. Se isto não for o 
fundamento de nossa gratidão, então não está acima do que o “homem 
natural” – sem o Espírito e a nova natureza em Cristo – experimenta. Nesse 
caso, a “gratidão” a Deus não Lhe é mais agradável do que todas as outras 
emoções que os incrédulos têm sem deleitarem-se nele.  
Você não seria honrado se eu lhe agradecesse freqüentemente pelos 
seus dons para comigo, mas não tivesse consideração espontânea e profunda 
por você como pessoa. Você se sentiria insultado, não importando o quanto 
eu lhe agradecesse por seus dons. Se o seu caráter e personalidade não me 
atraíssem, nem me dessem alegria de estar na sua presença, você se sentiria 
usado, como uma ferramenta ou uma máquina para produzir as coisas que eu 
realmente amo.  
O mesmo acontece com Deus. Se não somos atraídos por Sua 
personalidade e caráter, todas as nossas declarações de gratidão são como a 
gratidão de uma esposa ao marido pelo dinheiro que ela recebe dele para usar 
em seu relacionamento com outro homem. Esta é exatamente a figura 
                                                  
1
Jonathan Edwards, Religious Affections, The Works of Jonathan Edwards, Vol. 2, New 
Haven: Yale University Press, 1959, orig. 1746, p.247.
2
apresentada em Tiago 4:3-4. Tiago critica os motivos da oração que trata a 
Deus como um marido de adúltera: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, 
para o gastardes em vossos deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que 
a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser 
ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. Por que ele chama essas 
pessoas que oravam de adúlteras? Porque, embora estivessem orando, 
estavam abandonando seu marido (Deus) e indo atrás de um amante (o 
mundo). E para piorar as coisas, estavam pedindo a seu marido (em oração) 
que financiasse o adultério.  
Surpreendentemente, esta mesma dinâmica espiritual deficiente é 
verdadeira, às vezes, quando as pessoas agradecem a Deus por ter mandado 
Cristo para morrer por elas. Talvez você já tenha ouvido alguém dizer o 
quanto devemos ser gratos pela morte de Cristo, porque ela nos mostra o 
grande valor que Deus nos deu. Qual é o fundamento desta gratidão? 
Jonathan Edwards chama isso de gratidão de hipócritas. Por quê? 
Porque,  
primeiro eles se regozijam e se elevam com o fato de que são 
muito estimados por Deus; e então, sobre esse fundamento, 
Deus lhes parece de certa forma amável… Eles se alegram no 
mais alto grau em ouvir o quanto Deus e Cristo os estima. 
Portanto, o gozo deles é na verdade um gozo em si mesmos, e 
não em Deus.
2
  
É chocante descobrir que uma das descrições mais comuns, hoje, sobre 
como responder à cruz, pode ser uma descrição de amor natural por si 
mesmo, sem qualquer valor espiritual. 
Faremos bem em dar ouvidos a Jonathan Edwards. Ele não estava 
apenas nos explicando a verdade bíblica de que devemos fazer todas as coisas, 
incluindo dar graças, para a glória da Deus (Coríntios 10:31)? E Deus não é 
glorificado se o fundamento da nossa gratidão é o valor do dom, e não a 
excelência do Doador. Se a gratidão não está enraizada na beleza de Deus 
antes do dom, ela provavelmente é uma idolatria disfarçada.  Que Deus nos 
conceda um coração que se deleite nele por aquilo que Ele é, para que toda a 
nossa gratidão por seus dons seja o eco da alegria na excelência do Doador!  

Fonte: http://www.desiringgod.org/
                                                  
2
Jonathan Edwards, Religious Affections, pp. 250-251.

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