27 de nov. de 2010

A Moderna Moralidade Moderna - Francis Schaeffer (1912-1984)



Os escritores pornográficos do século vinte traçam todos sua origem ao Marquês de Sade (1740-1814). Hodiernamente, no presente século, é Sade festejado como figura assaz importante – não mais simples autor de livros escabrosos. Há uns vinte ou trinta anos, se alguém na Inglaterra fosse apanhado com uma das suas obras corria o risco de ver-se em dificuldades coma lei. Hoje, passou a ser vulto eminente nos domínios do drama, da filosofia, da literatura. Na atualidade todos os escritores“escuros” (niilistas), os autores de protesto e revolta, voltam-se para Sade. Por que? Não apenas porque era um autor escabroso, ou mesmo porque lhes ensinara como utilizar-se da literatura erótica ou sensual como veículo às idéias filosóficas, mas ainda porque basicamente era um determinista químico. Percebeu a direção que as coisas haveriam de tomar quando o homem é reduzido ao mecanismo. As conclusões que tirou foram estas: se o homem é determinado, então o que é é certo. Se a vida em seu todo é apenas um mecanismo – se isso é tudo o que há – então a moral na realidade não importa. Não é nada mais que uma palavra para designar a expressão sociológica. É apenas um meio de  manipulação acionado pela sociedade no bojo da máquina. O termo, a esta altura, é mera conotação semântica destituída de qualquer acepção moral. O que é, é certo.
Isto nos leva ao segundo passo – o homem é mais forte que a mulher. A natureza assim o fez. Portanto o macho tem o direito de fazer da fêmea o que lhe apraz. A ação por que Sade foi posto em prisão, tanto sob a monarquia como sob a República – tomar uma prostituta e versgastá-la para seu próprio prazer – era de natureza "reta e própria". É disso que derivou nosso termo sadismo. Contudo, cumpre não esquecer que o mesmo se relaciona com um conceito filosófico. O sadismo não é o simples prazer em tortura alguém, fazê-lo sofrer. Implica em que o que é, é certo e o que a natureza decreta em plena força é totalmente próprio e justo. Individualidades como Sir Francis Crick hoje e mesmo Freud, em sua tese de determinismo psicológico, estão somente dizendo o que o Marquês de Sade já nos afirmara – somos parte da máquina. Mas, se assim é, não há como fugir à formulação do Marquês de Sade – o que é, é certo. Estamos vendo como a cultura de nossa época leva a efeito o fato de que, se dissermos aos indivíduos por tempo suficiente que nada mais são do que máquinas; logo, bem logo, isto se lhes evidenciará no agir. É o que se vê em todos os níveis de nossa cultura toda – no teatro da crueldade, na violência das ruas, nos assassinatos nas áreas montanhosas, na morte do homem na arte e na vida. Coisas como estas,e muitas outras mais, resultam mui naturalmente do embasamento histórico e filosófico de que nós estamos ocupando.
Que está errado? De novo, há que retroceder à insatisfatória concepção da Queda de Tomás de Aquino que atribui a certas coisas uma estrutura autônoma. Quando se concebe a natureza como autônoma, logo acabará ela por devorar a Deus, a graça, a liberdade e, eventualmente o homem. Por um pouco se pode apegar à liberdade nesse espectro, fazendo-se desesperado uso do termo liberdade como o fizeram Rousseau e seus seguidores, mas essa liberdade se tornou na realidade não-liberdade. 

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