9 de out. de 2010

Que tal latão e plástico? – Josemar Bessa


Você racionalizou hoje?

Temos que ter muito cuidado com a tendência para racionalizar que facilmente desenvolvemos. O dicionário define racionalizar como "prover plausíveis mas falsas razões para uma conduta". Em outras palavras, é o que acontece quando substituímos verdadeiras razões por falsas explicações... quando encobrimos nossos reais motivos com uma cortina de fumaça de desculpas aparentemente agradáveis.

Como você acha que Moisés reagiu quando Deus disse para ele: "Fala aos filhos de Israel que me tragam oferta; de todo homem cujo coração o mover para isso, dele recebereis a minha oferta. Esta é a oferta que dele recebereis: ouro, e prata, e bronze, e estofo azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino, e pêlos de cabra, e peles de carneiro tintas de vermelho, e peles finas, e madeira de acácia, azeite para a luz, especiarias para o óleo de unção e para o incenso aromático, pedras de ônix e pedras de engaste, para a estola sacerdotal e para o peitoral" (Êxodo 25:2-7)?

Você acha que Moisés disse:

     Espere aí, Deus. O bronze tudo bem, sem problemas, mas prata e ouro? Eu não sei. Se o Senhor ainda não reparou, sua nação é composta de um povo refugiado. Que tal latão e plástico?

Ou talvez:

     Ah, acho que vai ser difícil arranjar o estofo azul e púrpura. O estoque do supermercado já acabou.
Se Moisés tivesse dito estas coisas, ele teria ficado maluco quando Deus começasse a dar as instruções mais específicas: o ouro puro para a Arca e as argolas; ouro puro para a tampa da Arca — tudo tinha de ser puro! Afinal, Moisés e seus amigos estavam morando em tendas no deserto! Eles provavelmente tinham milhares de motivos para não obedecerem a Deus.

Mas Moisés não disse nada. Ele não protestou. Por quê? Porque ele sabia que Deus — e não ele nem o povo — é o autor das regras. Uma das coisas que Deus disse é que a pureza é boa. Ela é boa para a construção do tabernáculo e para a construção da nossa vida.

Existem milhares de motivos pelos quais nós achamos que ser puro é exigir demais. Mas nós não fazemos as regras, e sim Deus. Não cabe a nós decidirmos o que é certo e errado. Cabe a nós escolher entre o certo e o errado, escolher se vamos ou não obedecer a Deus. Cabe a nós escolher se vamos ou não ter vidas "sem mácula e irrepreensíveis" (2 Pedro 3:14).Racionalizar nos destruirá.

Um dos motivos porque agimos assim é para aliviar a dor da verdade. Outra razão é para calar a voz da culpa, aquele dragão de voz profunda e grave que está sempre pronto para nos varrer com seu rugido ensurdecedor. Freqüentemente racionalizamos para nos justificar diante dos outros.

Algumas vezes a racionalização faz as pessoas justificarem pecados óbvios. Arão, por exemplo, a usou quando seu irmão, Moisés, se deparou com o pecado dele ao construir um bezerro de ouro para os israelitas adorarem.

"...tu bem sabes como esse povo é propenso ao mal. Eles me disseram: 'Faça para nós deuses que nos conduzam...' Então eu lhes disse: Quem tiver enfeites de ouro, traga-os para mim. O povo trouxe o ouro, eu o joguei no fogo e surgiu esse bezerro" (Êx 32.22-24).

Inacreditável! Ele era apenas um inocente espectador cujo coração estava tão puro como a neve. Depois de amontoar alguns colares e brincos de ouro, de repente apareceu um bezerro de ouro! Foram aquelas pessoas más... não ele. Ele nunca seria capaz.

A Bíblia é repleta de exemplos iguais a esse. E a vida também é. Quão melhor será se enfrentarmos os fatos, ao invés de ficar procurando desculpas agradáveis espiritualmente ou passagens bíblicas que aliviem nossa consciência.

Isso me lembra alguém. Ele era o jogador dentre os patriarcas. Era um mestre em truques. Ganhara uma reputação um tanto duvidosa de obter o que queria de qualquer maneira.

Por duas vezes ele enganara seu tolo irmão Esaú a fim de conseguir um lugar melhor na árvore geneológica. Certa vez passara a perna no próprio pai, uma verdadeira trapaça, desde que o pai enxergava muito mal e a sua atitude lhe assegurou um dom que jamais teria recebido de outro modo.

Mais tarde tirou do sogro o melhor dos animais, quando ninguém estava olhando.

É verdade, Jacó tinha uma reputação bem suspeita e a merecia. Para ele os fins sempre justificavam os meios. Sua astúcia só era superada pela sua audácia. Sua consciência era calejada o suficiente para que dormisse e seus pés o mantinham sempre a um passo adiante das conseqüências.

Isso até que ele chegou a um rio chamado Jaboque (Gn 32).

- Em Jaboque sua sagacidade não lhe valeu muito. Ele estava acampado junto ao rio Jaboque quando foi informado que o grande e peludo Esaú estava chegando, para vê-lo. Vinte anos atrás Jacó enganara o irmão. Mais do que tempo suficiente, compreendeu Jacó, para que Esaú se preparasse para a vingança. Jacó corria perigo. Desta vez não conseguiu pensar em qualquer estratagema. Ele viu-se finalmente forçado a encarar a si mesmo e a Deus.

Para crédito de Jacó, ele não fugiu do problema. Ficamos imaginando o porquê. Talvez estivesse cansado de fugir. Ou quem sabe cansado de olhar para o tipo suspeito que via todas as manhãs no espelho. Ou talvez ainda simplesmente soubesse que tirara sua última carta da manga. Qualquer que fosse o motivo, bastou para que saísse das sombras, cruzasse sozinho o Jaboque e enfrentasse a situação.

A palvra Jaboque em hebraico significa luta, e foi isso que Jacó fez. Ele lutou com seu passado, todas as mentiras, planos e calúnias. Ele lutou com a sua situação: uma aranha apanhada em sua própria teia de enganos e tramas. Mas, acima de tudo isso, ele lutou com Deus.

Ele lutou com o mesmo Deus que descera a escada em Betel para assegurar Jacó de que ele não estava sozinho (embora merecesse estar). Ele encontrou-se com o mesmo Deus que garantira antes a Jacó que jamais quebraria a sua promessa (embora não se pudesse culpar Deus se fizesse isso). Ele confrontou o mesmo Deus que lhe lembrara que a terra preparada para ele ainda lhe pertencia (Uma nova prova de que Deus nos abençoa apesar de nossa vida e não por causa delas).

Jacó lutou com Deus a noite inteira. Nas margens do Jaboque ele rolou na lama dos seus erros. Ele encontrou Deus face a face - sem racionalizações - desprezando o seu passado e necessitando desesperadamente de um novo começo. Em vista de Jacó desejar isso com tanto empenho, Deus atendeu seu desejo. Deus lhe deu um novo nome e lhe fez uma nova promessa. Mas ele também deslocou o nervo do seu quadril como uma lembrança daquela noite misteriosa no rio.


 Jacó não foi o único homem da Bíblia que lutai consigo mesmo e com Deus por causa dos seus feitos passados. Davi fez isso depois de seu caso com Bete-seba. Sansão lutou, cego e calvo, depois da sedução de Dalila, Elias estava no seu Jaboque quando ouviu o "cicio suave c tranqüilo". Pedro lutou com sua culpa ao som do galo ainda cantando em seus ouvidos.

Imagino que a maioria de nós deve ter passado algum tempo nas margens do rio também. Nossos atos errados acabam sempre aparecendo. Todos nós, em uma ocasião ou outra, nos encontramos face a lace com o nosso passado. E é sempre um encontro embaraçoso. Quando nossos pecados nos apanham, podemos fazer duas coisas: fugir ou lutar.

Muitos preferem fugir. Ele minimizam os fatos com um dar de ombros da racionalização. "Fui uma vítima das circunstâncias" ou "a culpa foi dele". Ou "muitos fazem pior". O problema com esta fuga é que não é uma fuga de modo algum, mas apenas uma camuflagem. Não importa quantas camadas de maquiagem você coloca sobre um olho preto, por baixo ele continua preto. E bem no fundo ainda dói.

Jacó finalmente descobriu isso. Como resultado, seu exemplo deve ser imitado. A melhor maneira de tratar com os nossos atos é endireitar as calças, enrolar as mangas e enfrentar os fatos de frente. Nada de jogar a culpa em outros ou arranjar um bode expiatório. Nada de tentar encobrir as coisas. Nada de jogos. Temos necessidade de um confronto com nosso Mestre.

Nós também devemos cruzar o rio sozinhos e lutar com Deus sobre nós mesmos. Nós devemos também ficar de pé olho no olho com ele e nos lembrar que se ficarmos sozinhos falharemos. Nós também devemos desvendar o nosso coração manchado e almas sujas, sendo honestos com Aquele que conhece nossos segredos mais íntimos.

O resultado poderia ser refrescante. Sabemos que isso aconteceu com Jacó. Depois do encontro com Deus, Jacó tornou-se outro homem. Ele cruzou o rio na madrugada do novo dia e enfrentou a Esaú com coragem recém-descoberta.

Cada passo que ele deu foi penoso. Seu quadril machucado era uma lembrança da lição que aprendera em Jaboque: as atitudes erradas causam dor. Tome nota: Brinque hoje e amanhã terá que pagar.

Deus pode fazer o mesmo com você. Homem algum é tarefa difícil demais para Deus. Transformar um jogador em um homem de fé não seria uma tarefa fácil. Mas para Deus tudo não passou do trabalho de uma noite.

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