11 de set. de 2010

O Amor é o aspecto Principal da Fé Salvífica - John Piper


O pastor e teólogo do século XVIII Jonathan Edwards se empenhou em entender esse texto e chegou a esta conclusão: "A fé salvífica sugere por natureza o amor divino [...] Nosso amor por Deus nos capacita a vencer as dificuldades acompanhantes da obediência aos mandamentos divinos; isso mostra que o amor é o aspecto principal da fé salvífica, sua vida e poder, pelo qual produz grandes efeitos". Penso que Edwards está correto e que vários textos na Bíblia fundamentam sua afirmação. Outra forma de dizer isso é: a fé em Cristo não só consente ao que Deus é por nós, mas também abraça tudo que ele é por nós em Cristo. "A verdadeira fé abraça a Cristo em todas as formas em que as Escrituras o expõe aos pobres pecadores". Esse "abraçar" é amá-lo.

Por isso não há contradição entre o versículo 3 — nosso amor por Deus nos capacita a obedecer aos seus mandamentos — e o versículo 4 — nossa^/? vence os obstáculos do mundo que nos impedem de obedecer aos mandamentos de Deus. O amor a Deus está implícito na fé.

O versículo 5 define a fé que obedece como " [crer] que Jesus é o Filho de Deus". Isso é fé na graça futura? Creio que sim. João não pode querer dizer que a fé salvífica é simplesmente consentir à verdade de que Jesus é o Filho de Deus, porque os demônios também consentem a isso (Mateus 8.29). O que ele quer dizer é "abraçar" o significado dessa verdade, e fundamentar a esperança nela. "Filho de Deus" significa que Jesus é a maior pessoa no universo ao lado do Pai. Por isso, tudo que ele ensinou é verdadeiro, e tudo que ele prometeu será cumprido, e toda a sua grandeza que satisfaz a alma nunca mudará. Crer que ele é o Filho de Deus significa fundamentar a vida em tudo isso, e estar satisfeito. E isso inclui a fé no futuro que ele bondosamente controla para o bem do seu povo.

Uma confirmação disso está em ljoão 4.16. Aí os crentes são descritos como os que confiam no "amor que Deus tem por nós". Isso é espiritualmente significativo porque diz: "o amor que Deus tem por nós", não: "o amor que Deus teve por nós". Isso significa que confiamos no amor contínuo de Deus que está à nossa disposição, momento a momento. Penso que o significado de crer em Jesus como Filho de Deus inclui crer em todo o amor divino que ele personificou e obteve por nós.

Concluo por isso que o foco de João na obediência aos mandamentos divinos está em sintonia com o que vimos no capítulo passado: ele nos ensina a obedecer aos mandamentos divinos pela fé na graça futura.

Nas semanas em que estava editando os estágios finais deste livro, eu também pregava uma série de mensagens intituladas: "O maior destes é o amor". Um dos textos que busquei foi a ordem de Jesus: "Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem" (Mateus 5.44). Na mesma época surgiu a informação pelo meu serviço de notícias por e-mail a respeito de dois missionários da Missão Novas Tribos nas proximidades de Bogotá, Colômbia, mortos por guerrilheiros marxistas na segunda-feira, 19 de junho de 1995. Steve Welsh e Timothy Van Dyke foram assassinados com muitos tiros. Ambos contavam 42 anos e estavam ensinando em uma escola missionária quando fo¬ram sequestrados em janeiro de 1994.

A pergunta que eu tive de fazer, enquanto pregava sobre amar os inimigos, foi: Como você ama homens que o sequestram e, depois de um ano e meio, o matam? Jesus diz: "Ame-os. Ame-os. Se eles o matam, ame-os. Se eles tomam seu pai, ame-os. Se eles destroem sua família, ame-os. Ame seus inimigos. Seja esse tipo de pessoa. Seja tão transformado no interior que isso se torne realmente possível".

Como podemos fazer isso? De onde vem a força para amar dessa forma? Tente imaginar como isso é espantoso quando aparece no mundo real. Alguma coisa poderia mostrar a verdade e o poder e a realidade de Cristo de forma mais clara que isso? Creio que Jesus nos dá a chave para esse amor radical e abnegado no mesmo capítulo.

Em Mateus 5.11,12, ele novamente fala sobre ser perseguido: "Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês" (Mateus 5.11,12). O ponto extraordinário nesses versículos é que Jesus afirma não só a capacidade de suportar esses maus-tratos por parte dos inimigos, mas de se alegrar neles. Isso parece ainda mais inatingível. Se eu conseguisse fazer isso — se eu conseguisse me alegrar em ser perseguido, então seria possível amar meus perseguidores. Se o milagre da ale¬gria em meio.ao terror da injustiça, do sofrimento e da perda pudesse existir, então o milagre do amor aos executores poderia existir também.

Jesus apresenta a chave para a alegria nesses versículos. Ele diz: "Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus". Creio que essa alegria é o poder libertador de amar os inimigos quando eles nos perseguem. Se isso é verdade, então a ordem de amar é a ordem de colocar nossa mente nas coisas lá do alto, não nas coisas que estão na terra (Colossenses 3.2). A ordem de amar os inimigos é a ordem de encontrar a esperança e satisfação em Deus e sua grande recompensa — sua graça futura. A chave para esse amor radical é a fé na graça futura. Precisamos estar persuadidos em meio à agonia de que o amor de Deus é "melhor do que a vida" (Salmos 63.3). Amar o inimigo não o faz merecer a recompensa no céu. Estimar o tesouro no céu o capacita a amar seu inimigo.

Preste muita atenção quando você ouvir alguém dizer que os cristãos seriam mais úteis de forma prática no mundo se não estivessem tão preocupados com o futuro. Pode até ser que alguns cristãos estejam em um atalho da vida por causa de um fascínio excessivo acerca do ensino profético. Mas Jesus deixou muito claro o fato de que a chave da nossa alegria e nosso amor em meio a tempos de aflição é a certeza profunda e inabalável de que toda a perda nesta terra a serviço do amor ao Reino será abundantemente recompensada: "uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês" (Lucas 6.38; Marcos 10.29,30). O mandato é claro: consagremos nossa vida a fortalecer a fé na "grande recompensa" da graça futura. Esse é o poder do amor.

Há ainda muitos outros exemplos de como o Novo Testamento ensina a obediência a Deus pela fé na graça futura. Considere brevemente mais quatro ilustrações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário