2 de set. de 2010

A Cruz - a base de nossa justificação – John Stott

Se Deus justifica gratuitamente os pecadores por sua graça, por que ele faz isso? Baseado em quê? Como é que esse Deus justo pode declarar justo o injusto, sem comprometer a sua própria justiça nem condescender com a injustiça deste? Esta é a nossa pergunta. A resposta de Deus é a cruz.

Não existe em Romanos expressão mais surpreendente do que a afirmação de que "Deus ...justifica o ímpio" (4.5). Embora ela só apareça no capítulo seguinte, no entanto será de grande ajuda aqui para ajudar-nos a acompanhar a argumentação de Paulo. Como é que Deus pode justificar o ímpio? No Antigo Testamento, repetidas vezes Deus diz aos juizes israelitas que eles devem justificar os íntegros e condenar os ímpios. Mas é óbvio! Quem é inocente deve ser declarado inocente e quem é culpado deve ser considerado culpado! E um princípio elementar de pura justiça. Mas então Deus acrescenta: "O que justifica o perverso e o que condena o justo, abomináveis são para o Senhor tanto um como o outro". Ele pronuncia também um solene "ai" contra os que "por suborno justificam o perverso, e ao justo negam justiça".   Pois, como declara acerca de si mesmo, "não justificarei o ímpio". Mas é claro! — dizemos de novo — Deus nem sonharia em fazer tal coisa!

Então, como é que Paulo tem a coragem de afirmar que Deus faz aquilo que ele proíbe os outros de fazerem? E que ele faz o que disse que nunca faria — e que, ainda por cima, o faz habitualmente? E que ele ainda diz ser "o Deus que justifica o perverso" ou (se é que poderíamos dizer assim) "que torna íntegro quem não tem integridade"? É um absurdo! Como pode o justo Deus agir injustamente, desbaratando assim a ordem moral e invertendo-a completamente? É inacreditável! Ou melhor: seria, não fosse a cruz de Cristo. Sem a cruz, a justificação do injusto seria injusta, imoral e, dessa forma, impossível. A única razão pela qual Deus "justifica o ímpio" (4.5) é que "Cristo morreu pelos ímpios" (5.6). Só porque ele derramou o seu sangue (25) numa morte sacrificial por nós, pecadores, é que Deus pode justificar justamente o injusto.

Aquilo que Deus fez mediante a cruz, isto é, mediante a morte do seu Filho em nosso lugar, Paulo explica através de três expressões deveras significativas. Primeiro, diz que Deus nos justifica por meio da redenção que há em Cristo Jesus (24b). Segundo, Deus o apresentou como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue (25a). Terceiro, Ele fez isto para demonstrar sua justiça ... (25b), isso para demonstrar sua justiça no presente, a fim de ser justo ejustificador daquele que tem fé em Jesus (26). As palavras-chave são redenção (apolytrõsis), propiciação (hilastêrion) e demonstração (endeixis). Todas as três se referem, não ao que acontece agora, enquanto o evangelho está sendo pregado, mas ao que aconteceu de uma vez por todas em Cristo e através dele na cruz, sendo a expressão seu sangue uma clara referência à sua morte sacrificial. Associadas à cruz, portanto, vemos uma redenção dos pecadores, uma propiciação da ira de Deus e uma demonstração de sua justiça.

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