23 de set. de 2010

Agostinho - O que eu amo quando amo meu Deus?


Demonstrando o deleite supremo de conhecer Deus




Mas ao lado da oração, a solução para pessoas sem paixão, sem fome e sem sede de Deus, é expor-lhes o próprio Deus como infinitamente mais desejável — mais satisfatório — do que toda a criação. O empenho de Agostinho pelas almas dos homens e das mulheres era que eles pudessem chegar a ver a beleza de Deus e amá-lo. "Se seu deleite é em almas, ame-as em Deus (...) e leve-as consigo, atraindo o maior número possível delas até Deus". "Tu és, ó Deus, a alegria deles. A felicidade consiste em regozijar-se em ti, de ti e por amor a ti. Esta é a verdadeira alegria e não há outra".

Assim, Agostinho labutou com toda sua força espiritual, poética e intelectual para ajudar as pessoas a ver e a sentir satisfação plena e soberana em Deus, acima de todas as coisas.

Mas, o que amo quando amo meu Deus? (...) Não a doce melodia da harmonia e da canção; nem a fragrância das flores, dos unguentos, dos aromas; não o maná ou o mel, nem membros que o corpo se deleita em abraçar. Não são estes os que amo quando amo o meu Deus. E, contudo, ao amá-lo, é certo que amo a luz de alguma espécie, uma voz, um perfume, um alimento, um abraço; mas estes são de uma espécie que amo no mais íntimo do meu ser, quando minha alma é banhada pela luz que não está presa a nenhum lugar, quando escuta sons que nunca morrem; quando respira a fragrância que não se dissipa com o vento; quando saboreia alimentos que nunca se consomem pelo comer; quando se apega a um abraço que não se desfaz pela satisfação do desejo. Eis o que amo quando amo o meu Deus.

Poucas são as pessoas na história da igreja que sobrepujaram Agostinho ao retratar quão grande, belo e desejável Deus é. Agostinho está totalmente persuadido pelas Escrituras e pela experiência de que "aquele que tem Deus é feliz". "Fizeste-nos para ti, e nosso coração não encontra descanso enquanto não repousa em ti". Ele labutará com todas as suas forças para fazer com que este Deus, da graça soberana e da alegria soberana, seja conhecido e amado no mundo.

Estás sempre ativo, contudo, sempre tranqüilo. Acumulas tudo para ti, embora não sofras necessidade (...) Angustias-te com o erro, mas não sofres dor. Podes estar irado, contudo, sereno. Tuas obras são variadas, mas teu propósito é um e sempre o mesmo (...) Acolhes os que se achegam a ti, ainda que nunca os tenhas perdido. Nunca tens necessidades, no entanto, sempre alegre em ganhar; nunca avarento, mas requeres retorno pelas tuas dádivas (...) Perdoas as nossas dívidas, mas com isto não perdes nada. Tu és o meu Deus, és a minha vida, és o meu santo deleite. Mas será que basta dizer isto a teu respeito? Será que alguém pode dizer o suficiente quando fala de ti? Mas, ai daqueles que estão silenciosos a teu respeito!

Agostinho decidiu não ficar "silencioso" com respeito aos prazeres da completa satisfação à mão direita de Deus! E, nessa paixão, que grande pregador ele se tornou! "Pode qualquer pessoa dizer o suficiente quando fala a respeito do Senhor?" Certa feita, Agostinho explicou à sua própria congregação como elaborava suas pregações: "Vou e me alimento para que possa dar a vocês o que comer. Sou o servo que serve a comida, não o dono da casa. Exponho a vocês aquilo do que também eu me alimento para a vida". Essa era sua maneira de estudar: procurava pelo alimento da alma para que pudesse se alimentar do "santo deleite" de Deus e, depois, alimentar seu povo.

Sua habilidade — e a de seus ouvintes — de ver a verdade das Escrituras era governada parcialmente pelo deleite que obtinha naquilo que lá encontrava. Sempre dizia aos seus leitores que deveriam "olhar o coração das Escrituras com os olhos de seus corações". Isso quer dizer que a pessoa deve olhar com amor o que só pode ver parcialmente: "E impossível amar o que é totalmente desconhecido, mas quando se ama o que se conhece mesmo em parte, justamente essa capacidade de amar faz com que o amado seja mais bem e mais plenamente conhecido". Em outras palavras, o amor e o deleite naquilo que conhecemos a respeito de Deus nas Escrituras é a chave que abre mais ainda as Escrituras. Por isso, o estudo da Palavra e a pregação não eram, para Agostinho, algo alheio e indiferente, como em nossos dias são tão freqüentemente concebidos.

Ele explicou a Jerônimo, grande estudioso da Bíblia, que jamais poderia ser um erudito "desinteressado", em vista do conceito acima. "Se recebo qualquer suprimento de conhecimento [das Escrituras], imediatamente o distribuo com liberalidade ao povo de Deus". E o que Agostinho expunha ao seu povo, e com que o alimentava? Com a mesma alegria que ele próprio encontrava em Deus. "A nossa mensagem se torna viva por meio da alegria que sentimos sobre o que falamos". Esta era a chave de sua pregação, e a chave para sua vida — ele não cessava de falar da soberana alegria em Deus, que o havia libertado pelo poder de uma satisfação superior.

John Piper

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