24 de ago. de 2010

O Mundo Bíblico E o Mundo Real – A. W. Tozer


Quando lê as Escrituras, a pessoa sensível por certo sente a marcante diferença entre o mundo como a Bíblia o revela e o mundo como concebido pelos religiosos de hoje. E o contraste não nos favorece.

O mundo como o viam os homens e mulheres da Bíblia era um mundo pessoal, cálido, amigo, povoado. O mundo deles continha primeiramente o Deus que o criara, que ainda habitava nele como num santuário, e que poderia ser descoberto a passear entre as árvores do jardim, se o coração humano fosse bastante puro para sentir e os olhos bastante aptos para verem. Também estavam presentes lá muitos seres enviados de Deus para ministrarem àqueles que eram os herdeiros da salvação. Reconheciam também a presença de forças sinistras às quais era dever dele opor-se, e que podiam vencer facilmente apelando para Deus em oração.

Os cristãos pensam hoje no mundo em termos totalmente diferentes. A ciência, que nos trouxe muitos benefícios, também trouxe com eles um mundo totalmente diverso daquele que vemos nas Escrituras. O mundo de hoje consiste de espaços amplos e ilimitados, tendo aqui e ali, a remotas distâncias uns dos outros, corpos cegos e sem sentido, controlados somente por leis naturais das quais eles não podem escapar nunca. Esse mundo é frio e impessoal, e completamente sem habitantes, exceto quanto ao homem, o pequeno e trêmulo ser efêmero que se agarra ao solo enquanto gira "no percurso diário pela terra, com rochas, pedras e árvores".

Que glorioso é o mundo, como o conheciam os homens da Bíblia! Jacó viu uma escada posta sobre a terra com Deus no alto dela, e os anjos subindo e descendo por ela. Abraão, Balaão e Manoá, e tantos outros, encontraram-se com anjos de Deus e conversaram com eles. Moisés viu a Deus na sarça; Isaías O viu num alto e sublime trono, e ouviu o cântico antifônico enchendo o templo.

Ezequiel viu uma grande nuvem como fogo a revolver-se, e do meio da nuvem saía a semelhança de quatro seres viventes. Anjos estiveram presentes para falar do nascimento de Jesus e para cele¬brar esse nascimento quando se deu em Belém; anjos confortaram nosso Senhor quando orava no Getsêmani; mencionam-se anjos em algumas das epístolas inspiradas, e o Livro do Apocalipse refulge com a presença de estranhas e belas criaturas atentas às atividades da terra e do céu.

Sim, o mundo verdadeiro é um mundo povoado. Os olhos cegos dos cristãos modernos não podem ver o invisível, mas isto não destrói a realidade da criação espiritual. A incredulidade nos tirou o consolo de um mundo pessoal. Aceitamos o mundo vazio e sem sentido da ciência como sendo o mundo verdadeiro, esquecendo-nos de que a ciência só ê válida quando trata com coisas materiais, e nada pode saber de Deus e do mundo espiritual.

Precisamos ter fé; e não nos desculpemos por isso, porquanto a fé é um órgão do conhecimento e nos pode dizer mais sobre a rea¬lidade última do que as descobertas da ciência. Não nos opomos à ciência, mas reconhecemos as suas limitações e nos recusamos a parar onde ela é compelida a parar. A Bíblia fala de outro mundo, fino demais para ser descoberto pelos instrumentos de pesquisa científica. Pela fé nos comprometemos com esse mundo e o fazemos nosso. É-nos acessível mediante o sangue da aliança eterna. Se crermos, podemos desde já desfrutar a presença de Deus e o ministério dos seus mensageiros celestes. Somente a incredulidade pode privar-nos deste privilégio principesco.

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