10 de ago. de 2010

Capacidade Moral e Natural – R. C. Sproul

Jonathan Edwards fez outra distinção que é útil no entendimento do conceito bíblico do livre-arbítrio. Ele distinguiu entre capacidade natural e capacidade moral. A capacidade natural tem a ver com os poderes que recebemos como seres humanos naturais. Como um ser humano, tenho a capacidade natural de pensar, de andar, de falar, de ver, de ouvir, e, sobretudo, de fazer escolhas. Há certas capacidades naturais que me faltam. Outras criaturas podem possuir a capacidade de voar sem a ajuda de máquinas. Eu não tenho essa capacidade natural. Posso desejar voar pelos ares como o Super-Homem, mas não tenho essa capacidade. A razão pela qual eu não posso voar não é devida à deficiência moral no meu caráter, mas porque meu Criador não me deu o equipamento natural necessário para voar. Não tenho asas.


A vontade é uma capacidade natural dada a nós por Deus. Temos todas as faculdades naturais necessárias para fazer escolhas. Temos uma mente e temos uma escolha. Temos a capacidade natural de escolher o que desejamos. Qual, então, é o nosso problema? De acordo com a Bíblia, a localização de nosso problema é clara. E com a natureza de nossos desejos. Este é o ponto focal de nossa queda. A Escritura diz que o coração do homem decaído abriga continuamente desejos que são somente maus (Gn 6.5).

A Bíblia tem muito a dizer sobre o coração do homem. Na Escritura, o coração refere-se não tanto a um órgão que bombeia sangue através do corpo, como à essência da alma, ao lugar mais profundo das afeições humanas. Jesus viu uma conexão próxima entre a localização dos tesouros do homem e os desejos de seu co¬ração. Encontre o mapa do tesouro do homem e você terá a estrada para seu coração.

Edwards declarou que o problema do homem com o pecado está em sua capacidade moral, ou falta dela. Antes que uma pessoa possa fazer uma escolha que é agradável a Deus, ela precisa primeiro ter um desejo de agradar a Deus. Antes de encontrarmos Deus, precisamos primeiro desejar procurá-lo. Antes de escolher¬mos o bem, precisamos primeiro ter um desejo pelo bem. Antes de escolhermos Cristo, precisamos primeiro ter um desejo por Cristo. O valor e a substância do debate todo apóiam-se preci¬samente neste ponto: O homem decaído, em si mesmo e de si mesmo, tem um desejo natural por Cristo?

Edwards responde a esta questão com um enfático "Não!". Ele insiste que, na queda, o homem perdeu seu desejo original por Deus. Quando ele perdeu esse desejo, alguma coisa aconteceu à sua liberdade. Ele perdeu a capacidade moral de escolher Cristo. Ou ele tem esse desejo já dentro dele, ou precisa receber esse desejo de Deus. Edwards e todos que abraçaram a visão reformada da predestinação concordam que, se Deus não plantar esse desejo no coração humano, ninguém, deixado a si mesmo, jamais escolherá Cristo. Eles sempre e em todo lugar rejeitarão Cristo porque eles não o desejam. Eles livremente rejeitarão Cristo no sentido de que sempre agirão de acordo com seus desejos.

A este ponto, não estou tentando provar a verdade da visão de Edwards. Para fazer isso, é preciso dar uma olhada de perto na visão bíblica da capacidade ou inabilidade moral do homem. Faremos isso mais tarde. Precisamos também responder à pergunta: "Se falta ao homem a capacidade moral de escolher Cristo, como pode Deus considerá-lo responsável por escolher Cristo? Se o homem nasce num estado de incapacidade moral, sem nenhum desejo de escolher Cristo, não é então culpa de Deus que os homens não escolham Cristo?" Novamente peço paciência ao leitor, com a promessa de que vou retomar estas questões brevemente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário