18 de jul. de 2010

Conversão vem depois da Regeneração – M. Lloyd-Jones -


O que queremos dizer por regeneração? Ora, se lerem sobre o emprego desse termo na história da doutrina ou da Igreja, descobrirão uma grande confusão, visto ser ele um termo que fora usado vagamente, e mesmo os escritores individualmente não são consistentes em seu uso dele. As vezes tem sido usado num sentido muito restrito; às vezes, porém, num sentido muito amplo para incluir quase tudo o que sucede ao crente - justificação e santifícação, tanto quanto a regeneração e essa é uma prática, por exemplo, nos escritores católico-romanos.

Então, ao considerarmos o que regeneração significa, a coisa importantíssima, ao meu ver, é que devemos diferenciá-la da conversão. E no entanto quão amiúde são confundidas. Mas regeneração não é conversão, e pela simples razão de que conversão é algo que fazemos, enquanto que regeneração, como lhes mostrarei, é algo que nos é feito por Deus. Conversão significa passar de uma coisa para outra, na prática; todavia esse Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade". Outra vez esse é um termo usado para descrever este espantoso acontecimento na história da alma: consiste numa nova criação.

E finalmente temos a palavra vivificar. Ora, o exemplo disso está em Efésios 2:5, onde lemos: "estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)". Talvez ficarão surpresos que eu não cite Efésios 2:1, que lê-se: "Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados". A expressão sobre vivificar, porém, não está ali no original, ela tem sido preenchida pelos tradutores à guisa de compreensão, e corretamente. Existe só mais um exemplo dessa palavra, e está em Colossenses 2:13: "e a vós, quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivifícou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos". Ela é o paralelo, naturalmente, à afirmação em Efésios 2:5, algo com que nos deparamos constantemente nessas duas Epístolas.

Esses, pois, são os termos reais que se usam nas Escrituras para indicar e comunicar o ensino concernente a essa marcante mudança. Enfim, o que queremos dizer por regeneração? Ora, se lerem sobre o emprego desse termo na história da doutrina ou da Igreja, descobrirão uma grande confusão, visto ser ele um termo que fora usado vagamente, e mesmo os escritores individualmente não são consistentes em seu uso dele. As vezes tem sido usado num sentido muito restrito; às vezes, porém, num sentido muito amplo para incluir quase tudo o que sucede ao crente - justificação e santifícação, tanto quanto a regeneração -e essa é uma prática, por exemplo, nos escritores católico-romanos.

Então, ao considerarmos o que regeneração significa, a coisa importantíssima, ao meu ver, é que devemos diferenciá-la da conversão. E no entanto quão amiúde são confundidas. Mas regeneração não é conversão, e pela simples razão de que conversão é algo que fazemos, enquanto que regeneração, como lhes mostrarei, é algo que nos é feito por Deus. Conversão significa passar de uma coisa para outra, na prática; todavia esse não é o significado de regeneração. Podemos colocá-la nesses termos: quando alguém é convertido ou sofre uma reviravolta, ele está dando prova do fato de que está regenerado. Conversão é algo que vem depois da regeneração. A mudança ocorre na vida e no viver externos dos homens e das mulheres, porque essa grande mudança primeiramente ocorreu em seu interior.

Vocês podem considerá-la assim: há toda a diferença entre plantar a semente e o resultado do plantio dessa semente. Ora, regeneração significa a semeadura da semente de vida, e obviamente isso deve ser diferenciado daquilo que resulta ou sucede dessa semeadura. Há uma diferença entre geração e nascimento. A geração ocorre muito tempo antes de se dar o nascimento. A geração é um só ato. Ela leva subseqüentemente, depois de certos processos terem prosseguimento, ao real processo do nascimento. E bom que mantenhamos as duas coisas separadas em nossas mentes, e lembremos que, quando estamos falando sobre a regeneração, estamos falando sobre a geração, e não sobre o parto ou nascimento efetivo.

Ora, o chamado eficaz entra no nascimento efetivo, e isso é o que fornece prova do fato de que os homens e as mulheres estão vivos. O chamado é eficaz: eles crêem. Sim, mas isso significa que o processo de geração, a implantação da semente de vida, já deve ter ocorrido. Acho proveitoso traçar esse tipo de distinção, porquanto nos auxiliará a diferenciar não só entre regeneração e conversão, mas também entre a regeneração e a adoção. Pois, além disso, as pessoas às vezes confundem adoção para filiação com regeneração, e todavia, clara e simplesmente, são duas coisas distintas, como veremos.

Assim, pois, definimos regeneração como sendo a implantação da nova vida na alma - isto é, regeneração em sua essência. Se vocês preferirem uma definição um pouco mais ampla, então considerem isto: é o ato de Deus por meio do qual um princípio de nova vida é implantada num homem ou numa mulher, resultando em que a disposição governante da alma é tornada santa. E em seguida o nascimento efetivo é aquilo que produz evidência do primeiro exercício dessa disposição.

Tendo colocado isso nesses termos para vocês, como uma definição precisa, prossigamos considerando a natureza essencial do que sucede quando somos regenerados. Isto é obviamente de grande importância, e por isso devemos começar com certas negativas para que sejamos plenamente esclarecidos quanto ao que a regeneração não significa e o que ela não representa.

A primeira coisa que devemos dizer, negativamente, é que a regeneração não significa que uma mudança ocorre na substância da natureza humana, e a palavra importante, aí, é substância. A doutrina da regeneração não ensina que a substância, a matéria prima, de que se constitui a natureza humana, ou o que quer que seja, é mudada.

Ou podemos colocá-lo assim: não devemos imaginar que se introduz alguma semente ou germe de vida - real, substancial ou física. A regeneração não é uma espécie de injeção ou infusão em nós de substância real e física. Ela não é algo físico; é uma mudança espiritual.

Em terceiro lugar, não devemos imaginar que ela signifique que há uma completa mudança em toda a natureza humana. A pessoa regenerada não se transforma em algo inteiramente diferente. A regeneração não tem esse sentido (e veremos na seqüência dessas doutrinas por que todas essas negativas são importantes). Da mesma forma, não significa que o homem se torna divino, ou que se transforma em Deus.

"Ah!", diz alguém, "Acaso não somos participantes da natureza divina?"

Sim, mas não no sentido em que de repente nos tornamos divinos. Não nos tornamos à semelhança do Senhor Jesus Cristo, com duas naturezas - humana e divina. E mister que tomemos o cuidado de excluir isso.

Ainda outra negativa é que a regeneração não significa adição a, ou subtração de, as faculdades ou a essência da alma. Ora, há pessoas que têm chegado a essa conclusão - e cada uma destas negativas é introduzida para salvaguardar contra coisas que têm sido imaginadas e ditas de vez em quando sobre a regeneração. As cinco faculdades da alma são: mente, memória, afeto, vontade e consciência, e algumas pessoas parecem concluir que o que sucede na regeneração é que uma faculdade adicional é introduzida ou que, de uma maneira ou outra, uma ou mais faculdades são tiradas ou são transformadas. Mas essa não é a doutrina bíblica da regeneração.

E minha última negativa é que a regeneração não significa apenas reforma moral. Na verdade, algumas pessoas têm chegado a essa conclusão. Acreditam que tudo o que sucede na regeneração é que as inclinações das pessoas são mudadas, e que, em decorrência disso, elas se reformam e passam a viver uma vida melhor. Contudo, isso nada é senão reforma moral, e não regeneração.

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